Uso de IA para desinformar é nova ameaça à democracia, diz Barroso
Presidente do STF critica cultura 'da difusão da mentira e do assassinato de reputações' no país: 'as pessoas têm necessidade de desqualificar o outro'
Na última parte da entrevista concedida ao Radar durante o Brazil Economic Forum, realizado por VEJA e pelo Lide em Zurique, na Suíça — leia o que já foi publicado aqui e aqui –, o presidente do STF, ministro Luis Roberto Barroso, faz um alerta sobre os riscos surgidos com o uso da inteligência artificial para desinformar e desvirtuar eleições em diferentes democracias pelo mundo.
“Você tem uma questão moral gravíssima e uma preocupação mais imediata, que é o uso da inteligência artificial para massificar a desinformação. E isso pode ter um impacto sobre as democracias, sobre o processo eleitoral, inclusive pelo uso do deepfake, que é alguém me colocar aqui conversando com você, mas dizendo coisas que eu jamais falei, ou perguntas que você jamais fez, porque nós somos ensinados a acreditar naquilo que a gente vê e ouve. O dia em que a gente não puder mais acreditar naquilo que a gente vê e ouve, a liberdade de expressão terá perdido o seu sentido, o seu significado, e a democracia é um projeto de autogoverno coletivo, em que as pessoas participam votando ou sendo votadas, mas participam de uma maneira informada. Portanto, é preciso que a informação plural como seja, não seja uma informação fraudulenta”, diz Barroso.
Barroso destaca a importância da imprensa profissional e o papel dos veículos em prover informação verdadeira numa sociedade cada vez mais influenciada pelas fake news propagadas nas redes sociais.
“Nós vivemos nesse mundo da difusão da mentira, do assassinato de reputações. Agora eu fiz a palestra aqui, veio uma pessoa e disse assim: ‘O senhor é completamente diferente do que eu sempre imaginei. Eu vejo pelas mídias sociais. Achei que o senhor era uma figura — e falou coisas boas de mim –, mas todo dia eu leio uma mentira’. Quer dizer, o sujeito, ele não se contenta em discordar de você, o que é perfeitamente legítimo. As pessoas no Brasil, pelo extremismo que se criou, eles vivem a necessidade de desqualificar o outro, de ofender ou de desconstruir, de criar uma imagem… Então, você tem os mentores da mentira e os tolos que acreditam e circulam a mentira”, diz Barroso — veja a entrevista completa no vídeo.