Tarcísio de Freitas afasta rumores sobre Planalto em busca de… paz
Cotado por muitos como um nome competitivo a disputar a Presidência em 2026, o governador deseja sair dos holofotes

Quando era ministro de Infraestrutura de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas foi lançado pelo então presidente como virtual candidato do bolsonarismo ao Governo de São Paulo. Coordenando um trabalho de conclusão de obras paradas e atuando em frentes que necessitavam, muitas vezes, de verbas de emendas parlamentares de diferentes partidos, o então ministro negou seguidas vezes o desejo de se submeter ao teste das urnas. Depois de tantas falas evasivas, no entanto, disputou a eleição e venceu.
Com dois anos de mandato, o governador enfrenta fenômeno semelhante. Seu governo é bem avaliado no estado — 61% de aprovação contra 26% de reprovação, segundo a Quaest — e figuras influentes do país defendem sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2026.
A vida de Tarcísio de Freitas, no entanto, não anda nada tranquila. Depois de ter ajudado a eleger o prefeito Ricardo Nunes e outros tantos políticos que apoiou nas eleições municipais, o governador enfrenta uma longa crise na segurança pública, provocada pelo aumento da violência policial no estado.
O assunto seria tratado como algo local, não fosse Tarcísio um virtual candidato a desalojar o petismo do Planalto. Se sua potencial candidatura assusta a esquerda, a ponto de atrair ataques de todos os lados, o mesmo vinha ocorrendo na direita, com Bolsonaro torcendo o nariz para a possibilidade de perder o trono para o ex-auxiliar que ajudou a lançar na política.
Foi para sair da linha de tiro da direita e da esquerda que Tarcísio declarou, neste fim de semana, numa entrevista ao Canal Livre, que pretende disputar a reeleição para o governo paulista em 2026.
A fala teve dois recados. A Lula, o governador mandou a mensagem de que não é seu adversário e que, portanto, os dois podem manter as boas relações federativas vistas até aqui. A Bolsonaro, Tarcísio fez questão de demonstrar fidelidade. “Sou muito fiel àqueles que me elegeram. Tenho grande apreço pela população de São Paulo, que me acolheu e temos projetos muito interessantes, muitos para entregar em 2028, 2029, 2030″, disse.
A declaração bateu fundo no ponto mais caro ao ex-presidente. Bolsonaro está pressionado pelo avanço das investigações no STF. Mesmo inelegível, se mantém candidato ao Planalto para repetir a estratégia de Lula, em 2018, na esperança de que sua popularidade eleitoral vá constranger investigadores e juízes. Não deu certo com o petista e parece improvável que surtirá efeito com Bolsonaro.
De toda forma, se não for o candidato, o ex-presidente já deixou claro que deseja apoiar alguém do seu clã. Michelle e Eduardo Bolsonaro já foram nomes ensaiados. Tarcísio? Bolsonaro admite ser um bom nome, mas sem considerar verdadeiramente uma candidatura. Na política, confiança mesmo só de sangue — e olhe lá.
Para não provocar atritos com seu criador, Tarcísio avisou logo que é fiel. Só será candidato ao Planalto se o próprio Bolsonaro assim desejar — e olhe lá.
A estratégia também serve a outro objetivo, este pessoal de Tarcísio. Depois de acalmar os corações de Lula e Bolsonaro, o governador de São Paulo deseja um pouco de paz no noticiário. Com virtual candidato a presidente, ele é diariamente instado a comentar questões nacionais sobre as quais um governador sem grandes pretensões políticas sequer falaria. É nesse lugar que ele deseja estar pelos próximos meses. Trabalhando quieto para tentar evitar que seu governo mergulhe em novas crises.