STF deve julgar inacreditável resolução de SP sobre presas trans
PGR considera ilegal norma paulista que só reconhece gênero de presas mediante cirurgia de mudança de sexo

A PGR enviou parecer ao STF nesta semana em que afirma ser inconstitucional a resolução de São Paulo que impõe a cirurgia de mudança de sexo para que presas trans sejam instaladas em prisões femininas.
O texto, da chefe do órgão, Elizeta Ramos, diz que é ilegal exigir que pessoas trans se submetam a qualquer intervenção física como condição para o exercício legítimo de direito relacionado à identidade de gênero.
O Supremo julga uma Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela Articulação Nacional de Travestis e Transexuais contra uma resolução de 2014 da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo.
Segundo a PGR, a norma paulista tem como resultado prático o incremento da estigmatização de pessoas trans. Para ela, a exigência da cirurgia afirmativa afronta os princípios constitucionais da dignidade humana, da proibição de tratamento degradante ou desumano e do direito à saúde de travestis e pessoas transexuais. O parecer destaca que a identidade de gênero é aspecto do direito fundamental à personalidade, sendo “incompatível com a ordem constitucional vigente e com as diretrizes internacionais de direitos humanos parametrizar a pessoa trans a partir do aparato biológico”.
A Antra, autora da ação, ressalta que o estabelecimento da cirurgia afirmativa de gênero como condição para escolha do estabelecimento prisional, na prática, inviabiliza o direito de mulheres trans e travestis de permanecerem em presídios femininos. Isso por conta do alto valor para a realização do procedimento, bem como pela longa espera pela cirurgia no Sistema Único de Saúde.