‘Sinto-me orgulhoso’, diz criador da urna sobre defesa ao voto eletrônico
'Há 33 anos a urna é utilizada para as eleições no Brasil, e está validada como instrumento seguro e eficaz', afirma o desembargador Carlos Prudêncio

Criador da urna eletrônica, o desembargador aposentado Carlos Prudêncio, de Santa Catarina, acompanha com atenção os últimos ataques de Jair Bolsonaro ao seu invento e ao sistema eleitoral — e faz questão de reforçar a segurança de ambos.
Na esteira dos últimos manifestos públicos em defesa da democracia e das eleições, o magistrado se diz “orgulhoso” em ver o apoio da população, e relembra que o processo de escolha de representantes do povo é o que garante a democracia no país.
“Sinto-me muito orgulhoso em ser defendido de forma pública e espontânea pelos diversos setores brasileiros. É muito importante que as entidades e as pessoas defendam a votação eletrônica e a democracia, como se tem visto até hoje”, diz o magistrado sobre os recentes documentos ratificados por empresários, banqueiros, ex-ministros do STF e artistas.
Preocupado com fraudes na votação em papel e incomodado com a demora com que era feita a contagem dos votos, o magistrado decidiu em meados dos anos 1980, por contra própria, arquitetar o funcionamento de uma máquina que pudesse fazer a apuração de forma ágil, segura e automatizada.
Foram ao menos três “nãos” de empresas de tecnologia que se dispusessem a patrocinar o desenvolvimento de um protótipo. A resposta era unânime: “Não vai dar certo”. Mas deu.
Cansado das negativas e confiante de que sua ideia era promissora, o desembargador convenceu o irmão, Roberto Prudêncio — à época, proprietário de uma empresa de informática — , a ajudá-lo na empreitada.
Funcionou. O primeiro modelo foi testado em 1989, na cidade catarinense de Brusque, onde 373 eleitores votaram pela primeira vez por meio de um computador. Na ocasião, os resultados da votação foram consolidados, de forma inédita, às 17h. O comum era que os candidatos vencedores apenas fossem conhecidos nos dias seguintes, muitas horas após o encerramento da votação.
O sucesso da novidade se espalhou rapidamente. A imprensa passou a noticiar o fato e, pouco tempo depois, o TSE foi até a cidade para fazer testes na urna eletrônica. O equipamento foi reconhecido como seguro e eficiente pela Corte Eleitoral e, em 1996, foi utilizado pela primeira vez em larga escala, nas eleições municipais. Na época, os votos de mais de 32 milhões de brasileiros — um terço do então eleitorado — foram coletados por cerca de 70.000 urnas.
“Há 33 anos a urna é utilizada para as eleições no Brasil, e está validada como um instrumento seguro e eficaz em sua atuação. Em razão dela, temos eleições ágeis e seguras, que surpreendem todos os países democráticos. Durante todas essas décadas, houve alternância de poder, demonstrando a lisura no processo eleitoral”, diz Prudêncio.
A urna eletrônica, obviamente, não é a mesma desde a sua invenção. O sistema passa por adaptações e melhorias a cada ano — os testes de segurança, inclusive, são acompanhados por diversas entidades da sociedade civil, da Justiça Eleitoral e representantes dos partidos políticos.
Prudêncio frisa a importância desses avanços e diz que “eventuais divergências” quanto à implantação das modificações são sadias e fazem parte da democracia, mas lembra que a evolução e atualização dos sistemas é fundamental.
“Sabemos que a cada eleição temos novidades na tecnologia e elas têm que ser incorporadas ao sistema eletrônico de votação para que os eleitores brasileiros vejam que ele está sendo aprimorado com essas novas ferramentas”, diz o magistrado.