Simpatia com xixi de vaca, bunker de comida… Cenas da pandemia no mundo
Cada país faz o que pode – e o que acredita – para tentar vencer a pandemia que já matou mais de 70.000 pessoa no planeta

Desde a Segunda Guerra Mundial o mundo não tinha visto desafio tão grande como o da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus – 1,2 milhão de infectados e 70.000 mortos até o momento –, é o que afirmou na terça-feira o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
Quase 1,4 bilhão de estudantes foi para casa, ao menos outro bilhão de pessoas deveria estar confinada em quarentena e, só nos Estados Unidos, a estimativa é de 47 milhões de desempregados em consequência da retração econômica imposta pelo vírus. Algo dessa magnitude faz reavivar antigas histórias nada convencionais, assim como faz surgir outras tantas.
A primeira delas, na Índia, é o sucesso das festas do xixi de vaca, encontros para beber o líquido na esperança de se prevenir da doença. Algumas reuniões são organizadas por membros do partido nacionalista Bharatiya Janata, o mesmo do primeiro ministro Narendra Modi, um antigo entusiasta do uso medicinal da bebida.

A prática é descrita no Ayurveda, a medicina tradicional indiana, com seus bons sete mil anos de história, e foi retomada durante o mandato de Modi por meio da exportação e patenteamento do produto.

Na Alemanha, a correria aos supermercados acendeu um alerta para as autoridades, que foram questionadas sobre um possível desabastecimento. Seria a hora de usar as 800.000 toneladas de alimentos armazenados desde os tempos da Guerra Fria? Um sonoro “não” foi emitido pelo presidente do Escritório Federal de Proteção Civil para tranquilizar a população.

Trigo, aveia, arroz, lentilhas e leite em pó continuarão armazenados em 150 bunkers construídos ao redor do país a partir dos anos 60 sem previsão de serem acionados. Hoje, a “reserva civil de emergência” garante cerca de 10 kg de suprimentos por cidadão.
A pandemia afetou duramente todos os setores da economia, mas o turismo foi um dos primeiros a sentir o baque. Para tentar manter empregos e a cadeia em atividade, além de colaborar com os esforços de contenção da doença, alguns dos hotéis mais badalados – e caros – de Nova York estão oferecendo diárias grátis.
A hospedagem em quartos com preços que facilmente chegam aos cinco dígitos está disponível para profissionais de saúde, como médicos e enfermeiras. O primeiro anúncio partiu do próprio governador de Nova York, Andrew Cuomo, ao oferecer as acomodações do Four Seasons da rua 57, a uma quadra do Central Park. Outros hotéis de luxo, como o The Plaza e o St. Regis, também devem seguir o exemplo.

E quem diria que vinte anos depois do bug do milênio, aquele exótico pesadelo das equipes de TI em 1999, a demanda por programadores de uma linguagem jurássica poderia voltar? Pois é exatamente o que está acontecendo agora, por conta do coronavírus.
Na sexta-feira, o governador do estado de Nova Jersey pediu a ajuda de voluntários, e foi bastante específico na solicitação: programadores de Cobol. Seu conhecimento servirá para atualizar os sistemas de pagamento de seguro desemprego, criados há 40 anos.

Cobol é uma linguagem de programação de computadores desenvolvida em 1959 – é tão antiga que já no bug do milênio foi preciso tirar técnicos da aposentadoria para fazer as atualizações. A demanda é urgente, pois houve um aumento de 1.600% nos pedidos de seguro – a fila hoje é de 362.000 desempregados.
Nada de mais para alguém como William Lapschies. O americano de 104 anos é o mais antigo paciente a sobreviver ao vírus. Ele teve alta no início da semana passada, o que lhe permitiu celebrar o aniversário na quarta-feira, dia 1º. “Bill”, como é conhecido, sobreviveu a gripe espanhola de 1918 e lutou na Segunda Guerra Mundial.
