Reduto da extrema-direita, PTB se move para sobreviver na política
Partido não atingiu cláusula de barreira e articula uma fusão com outras legendas; alinhamento com Bolsonaro não rendeu dividendos eleitorais
O alinhamento com Jair Bolsonaro (PL) não rendeu dividendos eleitorais ao PTB. Suas principais lideranças não tiveram sucesso nas urnas neste ano. A legenda de Roberto Jefferson, que mudou o seu estatuto interno no ano passado para abrigar nomes da extrema-direita e servir de linha auxiliar ao bolsonarismo, só elegeu um deputado federal e não atingiu a cláusula de barreira.
Para não perder recursos do fundo partidário e sobreviver para as próximas eleições, o partido negocia a fusão com um bloco formado por Patriota, Pros, PSC e PRTB. Depois do fiasco nas urnas, Roberto Jefferson, que é o presidente de honra do PTB, submergiu. Sem poder conversar diretamente com correligionários em razão da prisão domiciliar que cumpre por determinação do STF, ele ainda não disparou orientações aos dirigentes nos estados por meio de seu advogado sobre os planos no pós-eleições. As conversas da fusão estão sendo tocadas pela direção nacional do partido, mas ainda sem uma posição clara do cacique.
Um dirigente no Rio contou ao Radar que o desempenho do partido ficou aquém do esperado. A aliança com fígado com o Bolsonaro– Jefferson foi preso justamente por reproduzir a retórica golpista do presidente no 7 de setembro de 2021– no fim foi mau negócio. Nas eleições de 2018, auge do bolsonarismo, o partido elegeu 10 deputados federais. Agora terá um representante na Câmara apenas, Bebeto, vereador de São João de Meriti, eleito com 41.075 votos.
O Radar perguntou ao presidente do PTB em São Paulo, Otávio Fakhoury, sobre o mau desempenho nas urnas e questionou se a adesão a Bolsonaro e ao bolsonarismo teve efeito negativo no resultado das eleições– o partido não conseguiu eleger, por exemplo, Eduardo Cunha e nem Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson.
“Nós ainda não conseguimos ver o motivo [para o desempenho eleitoral ruim]. A sua pergunta induz à conclusão de que, sim, pode ter havido influência negativa da aliança com o Bolsonaro, mas eu não vejo dessa forma. Acho que o partido está no caminho que se propôs quando mudou o estatuto, de ser um partido verdadeiramente conservador”, disse Fakhoury.
O dirigente paulista disse que, caso a fusão não aconteça, ele tem um projeto de autofinanciamento do partido por meio da venda de assinaturas para seus apoiadores.