Recuos no leilão do arroz e na MP do PIS revelam fragilidade de Lula
Sem influência para fazer valer as vontades do governo no Congresso, petista é obrigado a bater em retirada em temas caros ao Planalto

Sem base política para fazer valer as vontades do governo no Parlamento, o presidente Lula foi obrigado a bater em retirada, nesta terça, em dois assuntos caros ao Planalto.
Contra todos os alertas de produtores rurais e de líderes do agro, o governo decidiu comprar arroz num leilão bilionário que acabou ruindo por suspeitas de fraude envolvendo um aliado de Lula na campanha eleitoral, o secretário de Política Agrícola e ex-ministro da Agricultura Neri Geller.
Sentindo o bafo quente da oposição, que já colhia assinaturas para uma CPI e fazia estragos nas redes sociais com as revelações sobre os vencedores do dito leilão — alguns próximos a Geller –, o governo achou melhor tentar conter os danos de um potencial escândalo, ainda mais diante da associação direta com a tragédia no Rio Grande do Sul.
No caso da MP do PIS-Cofins, o recuo se deu por pura ausência de apoio político para bancar a matéria apresentada pelo Ministério da Fazenda ao Parlamento, sem diálogo com o setor produtivo e com o próprio Congresso.
Lula, diga-se, recuou corretamente nas duas frentes, mas nem sempre recua diante de suspeitas de fraude ou de apelos “das elites”, como ele costuma chamar o empresariado. Tivesse o governo base parlamentar para tratorar a oposição, barrando uma investigação parlamentar sobre o arroz, e impondo a vitória na discussão tributária contra a vontade do empresariado, talvez o caminho fosse outro, como diz um auxiliar: “É uma semana pra gente esquecer”.
Lula já foi um presidente forte num governo marcado por seguidos erros e tiros no pé. Avançava, em muitos casos, por sua popularidade e atuação pessoal no front político. Sem a força de outros tempos nem a paciência para fazer política no varejo, pena com as escolhas que fez ao montar sua máquina administrativa e sua articulação — distante da realidade atual no Parlamento.
Para muitos empresários — sobraram declarações nos últimos dias –, o governo tem uma ala que defende o ajuste nas contas e o equilíbrio fiscal e outra que quer apenas ampliar arrecadação para gastar mais e mais, na velha lógica populista. As duas alas não cabem no mesmo projeto, dado que uma existe para anular a outra. A diferença, nesse caso, está novamente na atuação pessoal de Lula, mais petista do que nunca.