O — surreal — retorno de Lula ao Sítio de Atibaia
Em abril de 2015, VEJA revelou ao país a existência da famosa propriedade e sua reforma milionária bancada por malas de dinheiro de empreiteiras

O sepultamento da condenação de Lula no Sítio de Atibaia, um caso revelado por uma reportagem deste colunista na capa de VEJA em abril de 2015, abre um curioso impasse.
Se não houve crime no caso e Lula não pode responder pela ilha da fantasia comprada por “amigos” nas montanhas de São Paulo e reformada com dinheiro de “amigos”, quem vai devolver as chaves da propriedade ao petista que usava o lugar como se fosse dono? Aquela cozinha cara feita sob medida e paga por “amigos” voltará a ser utilizada nos fins de semana pelo petista?
Trabalhadores entrevistados por este colunista, que atuaram na reforma da propriedade, revelaram que eram pagos por representantes das empreiteiras do petrolão com pacotes de dinheiro vivo. A maleta subia o morro em Atibaia todo fim de semana.
A Lava-Jato, que até a revelação de VEJA, desconhecia a propriedade, entrou no caso e descobriu as notas fiscais do material de construção indicado na reportagem da revista como fornecedor da obra.
Uma operação da Polícia Federal encontrou no sítio uma infinidade de objetos do petista. Delatores confirmaram em detalhes as reformas reveladas por VEJA.
Como nada disso existe perante a Justiça, se o Sítio de Atibaia ainda não foi vendido pelo amigo de Lula, ele poderia — veja que surreal — voltar a usá-lo como recanto de fim de semana. É improvável que coloque os pés na propriedade, mas um desfecho que torne legalmente isso possível apenas seis anos depois de toda a investigação não deixa de ser surpreendente.