O dilema de Mauro Cid no novo depoimento à Polícia Federal
Ex-ajudante de ordens "ama Bolsonaro", segundo aliados, mas virou figura central da investigação que pode colocar o ex-presidente na prisão
Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid vai voltar a depor na Polícia Federal nesta segunda-feira. Apesar de ser o único delator nas investigações que apuram diferentes irregularidades cometidas por Bolsonaro e seus aliados no governo, Cid vive um dilema.
O militar, nas palavras de um interlocutor próximo, “ama Bolsonaro” e não perdeu essa admiração mesmo depois do tormento judicial em que se meteu por ter seguido o ex-presidente em diferentes episódios.
No fim de semana, VEJA revelou que Cid considera, ainda hoje, que não incriminou Bolsonaro em sua delação. Cid, segundo apurou Marcela Mattos, acredita que seus depoimentos são distorcidos pela Polícia Federal para complicarem a situação jurídica de Bolsonaro.
“Não sou traidor, nunca disse que o presidente tramou um golpe. O que havia eram propostas sobre o que fazer caso se comprovasse a fraude eleitoral, o que não se comprovou e nada foi feito”, disse Cid a um interlocutor.
Como colaborador, Cid deve se empenhar na produção de elementos que corroborem seus depoimentos — contando tudo que fez, viu e ouviu enquanto esteve ao lado do capitão. Mentir ou omitir não são possibilidades e a prisão é caminho certo para o delator que se desvia do acordo.
Como admirador de Bolsonaro, Cid jura que não incriminou o ex-chefe, mas está cada vez mais difícil sustentar essa postura. A PF não tem a mesma avaliação sobre a história contada por Cid. Nesta segunda, ele será confrontado com diferentes versões apresentadas por militares que estiveram na famosa reunião da minuta golpista no Alvorada. E terá de ser mais direto sobre Bolsonaro.
É aí que está o dilema de Cid. Ele terá de escolher entre sua delação e o amor pelo capitão. “Como é que não quer dar golpe e organiza reunião para falar de minuta golpista?”, questiona um investigador sobre as contradições de Cid. “Será preciso dar nome aos bois”, garante o investigador.