O aceno de Lula por uma reaproximação com os bolsonaristas do Centrão
'Não existe possibilidade de você deixar de conversar com muita gente que hoje tá no governo', declarou o petista

Ainda existe espaço para uma reaproximação de Lula com partidos que hoje estão muito ligados a Jair Bolsonaro, cujas lideranças hoje fazem uma defesa firme e radical do presidente, como por exemplo o PP do seu ex-aliado Ciro Nogueira e o PL de Valdemar Costa Neto? O petista foi questionado se trabalha com essa hipótese durante a entrevista que concedeu à Rádio Super, de Minas Gerais, na manhã desta quarta-feira, e fez um aceno aos atuais companheiros do seu principal adversários.
“Em política, a gente tem que sempre fazer a separação entre o momento da disputa e o momento da governança. A hora que a eleição terminar, você vai ter um Congresso Nacional eleito. Você vai ter senadores, deputados federais e governadores”, declarou o ex-presidente, no início da sua longa resposta sobre o tema.
Depois de explicar por que a relação com os governadores será “muito tranquila” se ganhar as eleições, reforçando que chamará os eleitos para elencar as principais obras de infraestrutura de cada estado, Lula disse que é preciso ter uma relação com o Congresso “independentemente de quem sejam os deputados eleitos”.
“Você vai ter que conversar com os eleitos. Você não vai poder conversar com os suplentes ou com aqueles que não ficaram sequer de suplentes. Você vai conversar com quem tá dentro da Casa, com os presidentes de partidos, com os líderes de partidos, você vai fazer um pacote de propostas que você quer mandar ao Congresso Nacional e você vai discutir. É assim que a gente governa e é assim que a gente vai governar”, afirmou.
Na sequência, Lula relativizou a adesão do Centrão a Bolsonaro, lembrando que o grupo político sempre se alia a quem estiver no poder.
“Eu digo sempre o seguinte: o Centrão não é um partido político. O Centrão é um conjunto de forças políticas que se une, de quando em quando, a qualquer pessoa que estiver no governo, na medida em que eles participem do governo. Eu obviamente que vou conversar com todo mundo porque não há como você governar sem conversar com todo mundo”, disse.
Relembrando a divisão do eleitorado dos pleitos que venceu, contra José Serra e Geraldo Alckmin, em 2002 e 2006, Lula afirmou que, após o fim das eleições, “é preciso restabelecer um clima de paz, um clima de cordialidade, um clima de civilidade”.
“Não existe possibilidade de você deixar de conversar com muita gente que hoje tá no governo. Se as pessoas forem eleitas governadores, você vai ter que conversar. Se as pessoas forem eleitas deputadas ou senadores, você vai ter que conversar. O que é importante é que você tenha um projeto com medidas concretas para conversar com essa gente, para que você não fique fazendo conversas casuais. Ou seja, é muito melhor você fazer um acordo programático com os partidos políticos e governar um país quatro anos com uma certa tranquilidade”, explicou.
Instado a comentar se vai se sentir confortável em voltar a ter diálogos para formar uma coalização para governar a partir de 2023 com pessoas como Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson e integrantes do PP e se fará isso pessoalmente, Lula desconversou sobre ficar “nominando as pessoas que a gente vai ou não conversar”.
“Eu posso conversar com o PTB sem precisar conversar com o Roberto Jefferson, eu posso conversar com o PL sem precisar conversar com o presidente do PL. Ou seja, o que é importante é que você estabeleça uma política de conversação com as pessoas que têm mandato, com as lideranças que estão no Congresso Nacional, para você poder restabelecer uma política de boa convivência no Brasil”, declarou.
“Sabe, essas pessoas cometeram erros, essas pessoas cometeram crimes, essas pessoas foram julgadas, essas pessoas foram condenadas, mas essas pessoas estão livres e estão fazendo política. Essas pessoas são presidentes de partidos, são dirigentes partidários, essas pessoas têm mandatos. Então você não pode criminalizar porque a pessoa cometeu apenas um crime. Mas ele já foi julgado, já foi processado, já foi absolvido ou já cumpriu a sua pena. E é vida que segue. E aí você tem que conversar com as pessoas, não tem outro jeito”, acrescentou Lula.
O candidato do PT concluiu o raciocínio dizendo que estamos numa situação em que todos temos que pensar no Brasil.
“[Hoje] nós não temos tempo de ficar brigando com ninguém, de ficar fazendo coisinhas pequenas, de picuinha. A hora é de cuidar do Brasil, do povo brasileiro, de colocar essa gente pra comer, pra estudar, pra trabalhar e pra se divertir”, disse o ex-presidente.