No duelo com o STF, convite de Trump já rendeu lucros a Bolsonaro
Se for autorizado a viajar, o ex-presidente terá pelo menos cinco dias para promover um carnaval nas redes; se não for, reforçará o discurso de vítima

Alvo de múltiplas investigações no STF, o ex-presidente Jair Bolsonaro tornou-se um dos principais vetores de críticas ao trabalho da Corte nos últimos anos. O duelo com o ministro Alexandre de Moraes é hoje poderoso entretenimento para manter a militância bolsonarista engajada nas redes e serve ao propósito do ex-presidente de estabelecer uma narrativa de perseguição pessoal do magistrado contra ele.
“Já há precedentes em que investigados foram liberados a viajar pelo STF. Logo, se Bolsonaro não for liberado, ficará evidente que há algo pessoal na decisão”, diz um interlocutor do ex-presidente.
Nesse contexto, aliados do ex-presidente avaliam que ele já lucrou com a discussão sobre sua possível viagem aos Estados Unidos para a posse de Donald Trump. Se for liberado a viajar, Bolsonaro terá pelo menos cinco dias de palanque internacional para denunciar a tal “perseguição” da “ditadura do judiciário” no Brasil. Se não for autorizado, usará a negativa para seguir bombardeando Moraes e o STF.
Inelegível, Bolsonaro mantém sua candidatura ao Planalto em 2026 num movimento semelhante ao feito por Lula em 2018. Bolsonaro se diz perseguido por uma tal “ditadura da toga”. Não há nada novo nesse front.
Em 2018, Lula foi convidado a participar de um evento da União Africana sobre erradicação da fome na África. A Justiça, na ocasião, vetou a viagem porque o passaporte do petista também estava retido. Naqueles dias, Lula botou a boca no trombone reclamando de uma tal “ditadura” do Judiciário criada pela Lava-Jato. As frases de Lula poderiam bem servir ao tipo de discurso feito por Bolsonaro agora:
“Eles não querem que eu seja candidato porque, quanto mais eles me denunciam, quanto mais me perseguem, mais eu cresço nas pesquisas de opinião pública… Eles estão preocupados porque eles sabem que eu vou voltar e vou fazer mais e melhor”, disse Lula.
“Nós estamos vivendo um momento de uma ditadura de uma parcela do Poder Judiciário, sobretudo o Poder Judiciário que cuida de uma coisa que chama Operação Lava-Jato, que vocês já devem ter ouvido aí na África”, seguiu o presidente.
Nesta terça, o ministro Alexandre de Moraes mandou a PGR se manifestar sobre o pedido de Bolsonaro. O ministro aguarda a análise da procuradoria para decidir se Bolsonaro viajará ou não aos Estados Unidos. Aliados dizem que o risco de fuga, principal argumento para o eventual veto, não existe.
Na visão desses aliados, o ex-presidente, se decidisse fugir, perderia o discurso que vem fazendo, sairia completamente do jogo político de 2026 e ainda assinaria um atestado de culpa, ao escolher tal destino.