Lula diz que “Brasil não tem heróis” e, acredite, assume o posto
"Todo país tem um monte de herói, este não tem (...) Eu achava que era preciso mudar", disse o petista lembrando que fez "coisas impossíveis" pelo país

Passou batido o discurso de Lula no palanque de Araraquara, no fim da semana passada, mas a leitura das falas do presidente revela um surpreendente descolamento de realidade que gerou desconforto até entre auxiliares do governo.
Diante de uma plateia que gritava os bordões petistas de sempre, o presidente pareceu revelar algo surpreendente sobre o Brasil. “Neste país, vocês perceberam que a gente não tem herói? Todo país tem um monte de herói, esse não tem. Só tem Tiradentes”, disse o petista.
A plateia começou então a gritar o nome de Lula. E ele não teve dúvida, dizendo que “eu achava que era preciso mudar” esse preocupante quadro de inexistência de um herói tupiniquim.
Todo herói, sabe-se, tem poderes para fazer o que é impossível aos meros mortais. Lula continuou o discurso: “E, pois bem, nós ganhamos as eleições (…) E, aí, a gente começou a tentar fazer coisas impossíveis de fazer”.
Não é a primeira vez que o petista mergulha nesses delírios. Em 2018, antes de ser preso pelos crimes investigados na Lava-Jato, o petista disse: “Eu não sou um ser humano, sou uma ideia”.
Na campanha, o petista também se comparou a Nelson Mandela: “Eu não me incomodo mais com o fato da minha prisão. Porque eu fico olhando, fico vendo, o Mandela foi preso. E saiu para ser presidente da República”.
Os superpoderes de Lula foram inúteis, como descobriu a Lava-Jato, para evitar o maior esquema de corrupção da história da República. O herói das “coisas impossíveis de fazer” não foi capaz, por exemplo, de reformar um simples sítio sem a mão acolhedora de empreiteiros que assaltaram a Petrobras.
Os feitos do petista na área social e em outras frentes do governo são conhecidos. Mesmo assim, Lula só venceu as eleições por causa da desastrosa obra de Jair Bolsonaro no Planalto. As pesquisas mostram que muita gente no Brasil não considera Lula um herói. Pior: avaliam que ainda falta muito para cumpriu o que prometeu. Com um ano e meio de mandato, o petista é aprovado por 50% dos entrevistados, segundo a Quaest de maio. Os que desaprovam sua gestão são 47%.
Como presidente da República, Lula vive numa bolha de assessores e seguranças dentro dos palácios de Brasília. Não precisa girar uma maçaneta para abrir uma porta. Talvez, nesses espaços, ele seja tratado mesmo como herói. O problema, para o país, é que o chefe do Planalto passe mesmo a acreditar nesse delírio.