Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Radar

Por Robson Bonin
Notas exclusivas sobre política, negócios e entretenimento. Com Gustavo Maia, Nicholas Shores e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Leia a íntegra do discurso de Edson Fachin no TSE

Ministro assumiu o comando do tribunal nesta terça-feira

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 nov 2022, 18h04 - Publicado em 22 fev 2022, 20h41

Edson Fachin assumiu nesta terça o comando do TSE. O ministro fez um duro discurso contra os ataques ao sistema eleitoral protagonizados por Jair Bolsonaro e apoiadores do governo. Leia a íntegra do pronunciamento do novo chefe da Justiça Eleitoral:

Agradeço, genuinamente honrado, as ilustres presenças nesta sessão.

Assumo a honrosa posição de Presidente do Tribunal Superior Eleitoral. São mais de trinta
anos de Estado de Direito democrático à luz da Constituição de 1988; governos e governantes
sucederam e foram sucedidos; alçamos a maturidade democrática nessas três décadas com
enorme ganho institucional.

Nada obstante, assumo essa função atento, de imediato, aos árduos desafios da hora que
vivemos. Nela, a esperança nos move em direção à cooperação pacífica entre as instituições;
cumpre-nos, assim, preservar o patamar civilizatório a que acedemos e evitar desgastes
institucionais. Esse patamar a que acedemos é, dentro do marco constitucional, um direito
inalienável do povo. Dele retroceder é violar a Constituição.

Cumpre, assim, agregar a sociedade pelo bom exemplo. A tolerância, a disposição para o
diálogo e o compromisso inarredável com a verdade dos fatos afloram no povo quando,
primeiramente, constituem faróis para o labor diário das autoridades de todas as esferas. Aos
líderes e às instituições, portanto, toca repelir a cegueira moral e incentivar a elevação do
espírito cívico e as condutas de boa-fé que abrem portas ao necessário comportamento
respeitoso e dialógico.

Há muitos desafios a serem enfrentados. Menciono alguns deles.

Continua após a publicidade

O primeiro desafio é proteger e prestigiar a verdade sobre a integridade das eleições
brasileiras.

O Tribunal Superior Eleitoral tem indisputado histórico de excelência de organização e
realização de eleições seguras, corpo técnico multitudinário e capacitado, legitimidade
constitucional em suas atribuições, e desenvolve Programa de Enfrentamento à
Desinformação estruturado e em pleno funcionamento.

Este Tribunal comunga os seus afazeres com tribunais regionais, juízas e juízes eleitorais,
servidores, funcionários e colaboradores que atuam na Justiça Eleitoral que completa 90 anos
de existência e 25 anos de urnas eletrônicas, com eleições íntegras e confiáveis.

O segundo desafio é o de fortificar as próprias eleições, as quais, como se sabe, constituem a
ferramenta fundamental não apenas a garantir a escolha dos líderes pelo povo soberano, mas
ainda para assegurar que as diferenças políticas sejam solvidas em paz pela escolha popular. A
democracia é, e sempre foi, inegociável.

A democracia, casa acolhedora do plural, tem espaço suficiente para todas as cosmovisões.
Estende liberdades a todas e todos: o conservador democrata, o liberal democrata, o
progressista democrata e o centrista democrata, independentemente das diferentes
convicções que levam no coração, preservarão, juntos, a prerrogativa constante à correção de
rumos, que a rigor corresponde a não desistir de melhorar o país.

Continua após a publicidade

A estabilidade democrática, nesse contexto, só é possível à vista de um comprometimento
integral, a unir a sociedade e seus inúmeros atores em uma aliança forjada sobre o solo firme
da reciprocidade.

O terceiro desafio, e que transcende a Justiça Eleitoral, é o respeito ao escore das urnas; mais
do que reconhecer a dignidade do outro, é também proteger o avanço civilizatório.
E é assim que, em nosso país, por meio das seguras urnas eletrônicas, as eleitoras e os
eleitores decidem, em conjunto, a pilotagem do futuro e a escolha dos líderes e da orientação
geral das políticas públicas.

A transparência das atividades governamentais, a probidade, a responsabilidade dos governos,
na gestão pública, o respeito aos direitos sociais e a liberdade de expressão e de imprensa são,
não por acaso, componentes fundamentais do exercício da democracia (Carta Democrática
Interamericana, art. 4º).

Nos ambientes democráticos, é forte a imbricação existente não apenas entre liberdade de
expressão e democracia, mas, também, entre liberdade de imprensa e formação da vontade
popular.

Paz e segurança nas eleições em 2022, eis o que almejamos.

Continua após a publicidade

Quem é da paz diz não à violência de gênero e de todas as suas formas, não à misoginia, não à
homofobia, e clama: sim à dignidade, à liberdade, aos direitos fundamentais, aos deveres
essenciais de cada pessoa, da família e da própria sociedade constitucional: livre, justa e
solidária.

Quem almeja a paz, portanto, também reconhece o papel da imprensa livre e efetivamente
respeitada em todas as suas prerrogativas, na garantia do pluralismo democrático.
Nosso quarto desafio é o combate à perniciosa desconstrução do legado da Justiça Eleitoral.
Seremos implacáveis na defesa da história da Justiça Eleitoral. Calar é consentir.
Dentro de seu campo de atuação, a Justiça Eleitoral, ao longo de seus 90 anos, tem
assegurado, com reconhecida excelência, a higidez de mecânicas elementares para o
processamento pacífico dos dissensos coletivos, na escolha de representantes do povo e,
assim, para a manutenção da estabilidade político-social.

Há que se respeitar, desse modo, a dimensão de sua grandeza histórica, extraída do seu
longevo papel de agente da paz e garante fiel do poder e da voz das cidadãs e dos cidadãos,
dos tempos das urnas de lona à era do voto eletrônico, referendado por especialistas
independentes e por diversas instituições públicas como um paradigma de integridade para
todo o mundo. Há que se levar a história a sério.

A Justiça Eleitoral é, para todos os efeitos, ao lado das instituições constitucionais, incansável
fiadora da democracia e limite às alternativas opressoras do passado. Dentro desse contexto,
as investidas maliciosas contra as eleições constituem, em si, ataques indiretos à própria
democracia, tendo em consideração que o circuito desinformativo impulsiona o extremismo.
O Brasil merece mais. A Justiça Eleitoral brada por respeito. E alerta: não se renderá.
Cumprir a Constituição da República se impõe a todos: o Brasil é uma “sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna
e internacional, com a solução pacífica das controvérsias”.

Diante desses desafios, há, por isso mesmo, urgências inadiáveis.

Continua após a publicidade

É urgente e imprescindível: a união de atores comprometidos com o sistema democrático, a
fim de preservar, mediante suas vozes, o protagonismo da verdade no sistema informativo.
Impende preservar a união e a concórdia, recusando, a todo o custo e por todos os meios
legítimos, as armadilhas da pirataria informativa.

A desinformação não tem a ver, apenas e tão somente, com a distorção sistemática da
verdade, isto é, com a normalização da mentira. A desinformação vai além e diz também com
o uso de robôs e contas falsas, com disparos em massa, enfim, com todas as formas de
comportamentos inautênticos no mundo digital. Diz, mais, com a insistência calculada em
dúvidas fictícias, bem ainda com as enchentes narrativas produzidas com o fim de saturar o
mercado de ideias, elevando os custos de acesso a informações adequadas.
Por isso mesmo, parece-nos igualmente urgente e imprescindível cessar o esgarçamento dos
laços sociais. Uma sociedade quista em comunhão não pode – simplesmente não pode! –
flertar com o rompimento.

Atenta às suas responsabilidades constitucionais e democráticas, a Justiça Eleitoral, como
instituição responsável pelo processamento pacífico das diferenças políticas, tem um papel
específico a desempenhar: cabe-lhe acudir a verdade escrutinada e, com ela, promover a
tolerância.

A tolerância, isto é, o exercício de reconhecer a dignidade alheia é, como se sabe, um
elemento indispensável para a harmonia social. Invoca, nesse sentido, a ideia de que pessoas
são iguais em dignidade e que, por isso, não se podem anular.

Estamos sempre abertos ao diálogo e aos aprimoramentos. As portas estão abertas desde há
muito à sociedade civil, aos partidos políticos, às entidades de classe, às Universidades, à
ciência, às pesquisadoras e aos pesquisadores e acadêmicos, às lideranças empresariais e de
trabalhadores, às pessoas e às instituições em geral, ao Ministério Público, à advocacia, às
defensorias públicas, à Polícia Federal, às Forças Armadas, e a todas e a todos que tenham fé
na democracia.

Continua após a publicidade

Refiro-me agora, em síntese, às principais diretrizes.

Anuncio, nesta oportunidade, uma síntese daquilo que a gestão irá primar: pela transparência
e pela defesa da integridade do processo eleitoral; pela primazia do diálogo nas relações
interinstitucionais, inclusive perante a comunidade eleitoral internacional; pela formação de
alianças estratégicas, com entidades genuinamente interessadas na perpetuidade do
patrimônio democrático; pela prevalência do clima de paz e tolerância na esfera pública; pela
prevenção do conflito e de todas as formas de violência política; pelo respeito à dignidade e às
potencialidades das autoridades técnicas e profissionais do honroso corpo de servidores da
Justiça Eleitoral; pelo aperfeiçoamento constante dos serviços prestados, mediante a revisão
de processos de auditoria e mapeamento de vulnerabilidades; pela inclusão e pela diversidade,
em ordem a universalizar o acesso à democracia; pelo combate a formas violentas de
expressão política; e pela eficiente administração dos recursos humanos, tecnológicos,
patrimoniais e financeiros do Tribunal Superior Eleitoral.

A partir de hoje, entra em curso o Programa de Fortalecimento Institucional da Justiça
Eleitoral. Estamos instituindo a Comissão de Combate ao Racismo; igualmente, amanhã
instalaremos o Núcleo de Inclusão e Diversidade. Teremos a honra de continuar com o
programa “TSE Mulheres”. Também manteremos e apoiaremos os setores, os grupos e as
comissões de acessibilidade e de saúde laboral.

Manteremos e ampliaremos a importante Comissão de Transparência Eleitoral e do
imprescindível Observatório de Transparência, ambos com a missão de observar e dialogar
com a Justiça Eleitoral.

Especial preocupação teremos com o direito fundamental de dados pessoais e sua proteção,
sopesado sempre com o dever de transparência inerente a todo e qualquer serviço público. A
transparência como primazia será nossa diretriz. Desenvolveremos intenso programa de
governança e de avaliação de riscos.

Iremos nos integrar de pronto ao esforço da comunidade eleitoral internacional pela defesa da
democracia e em articulação com instituições e entidades encarregadas dos processos
eleitorais no contexto global.

Durante o mês de março nos reuniremos com cada uma das presidências de todos os partidos
políticos para dialogar construtivamente sobre ideias e práticas de cooperação institucional,
inclusive no combate à desinformação. Impende aqui realçar a relevância e o papel central
destinado aos partidos políticos. Para eleger seus representantes, os titulares dos direitos
políticos materializam, nos termos do artigo 14 da Constituição, a soberania popular que “será
exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos”. É a
manifestação da garantia do voto igual a livre expressão da vontade dos eleitores, como indica
o Pacto de São José da Costa Rica.

Essa postura colaborativa também já tem as portas abertas pela Presidência do Senado
Federal e da Câmara dos Deputados, e aqui reitero meu agradecimento aos Presidentes
Senador Rodrigo Pacheco e Deputado Arthur Lira, para ações coordenadas de combate à
desinformação eleitoral.

No tocante aos recursos financeiros necessários ao desenvolvimento das atividades eleitorais,
após planejamento meticuloso elaborado pelos tribunais eleitorais, contamos com o apoio da
área econômica do Governo e do Congresso Nacional, que aprovou em lei a dotação adequada
aos gastos para a realização das eleições gerais e demais atividades da Justiça Eleitoral.
Destaco também a continuidade da implantação da Identificação Civil Nacional, projeto que
contribuirá para a modernização do Estado Brasileiro.
A Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE – que tanto contribuiu para o processo de
informatização das eleições – terá todo o apoio de minha gestão, notadamente nas ações de
defesa cibernética da Justiça Eleitoral. Como sabem, vivemos em um mundo novo, em que o
espaço das redes digitais precisa ser defendido dos contra-ataques de criminosos que tentam
vilipendiar as instituições.

As pautas ora anunciadas serão levadas em um contexto de presença unida e de operar
sinérgico, a congregar os vinte e sete tribunais regionais e mais de 22.588 (vinte e dois mil
quinhentos e oitenta e oito) colaboradoras e colaboradores, assim como as magistradas e os
magistrados eleitorais que servem à sociedade, bem assim o Ministério Público Eleitoral, os
dedicados mesários – essas testemunhas oculares da lisura, da confiabilidade e da
autenticidade dos pleitos movidos pela vocação de servir ao País.

A eleição não é um feito do TSE. É uma realização de muitos parceiros. Dos servidores da
Justiça Eleitoral, dos mesários, aos barqueiros, motoristas, de quem prepara o lanche e de
quem prepara os locais de votação, dos integrantes das juntas eleitorais, aos administradores
de prédios ou locais de votação, passando pelo papel importante e imprescindível das Forças
Armadas, especialmente nos trabalhos cívicos e patrióticos de levar as urnas nas mais
distantes regiões e rincões do país, fazendo ali chegar, com zelo, segurança e eficiência, todo o
conjunto de instrumentos para operar as urnas, e ainda das forças policiais que auxiliam
sobremaneira a segurança das eleições. Somos muitos (mais de 22 mil todos os dias,
cotidianamente, e mais de dois milhões no dia das eleições) e chegamos a todas as seções
eleitorais, incluindo as comunidades indígenas e ribeirinhas.

Eis aí, dentre tantos zelosos e abnegados, os embaixadores da democracia brasileira.
Por fim, não poderia terminar a presente solenidade sem antes dirigir algumas palavras aos
Excelentíssimos Ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, a quem,
respectivamente, sucedo e precedo.

Ao amigo Presidente Barroso, meu sincero reconhecimento pela patriótica dedicação, pelo
zelo, pela empatia e pela sinergia com que se houve nos exemplares afazeres na chefia
máxima da Justiça Eleitoral. Dirigiu o Presidente Barroso eleições no ambiente da pandemia;
soube colher a orientação científica adequada, em situação inaudita, sem precedentes, e o fez
com cautela, serenidade e eficiência. Merece, sem favor algum, nosso reconhecimento e nosso
aplauso.

Ao Ministro Alexandre de Moraes, expresso aqui minha honra e alegria em compartilhar esse
momento histórico. A experiência e o conhecimento de Vossa Excelência pavimentam o
percurso a ser percorrido.

Concluo.

Aos meus colegas de Tribunal, ministros oriundos do Supremo Tribunal Federal e do Superior
Tribunal de Justiça, e aos ministros juristas: juntos iremos preparar, organizar e realizar as
eleições, administrando, julgando, regulamentando e dando as diretrizes consultivas
necessárias. Prestamos aqui um serviço público e prestamos contas à sociedade brasileira.
Conclamo todas e todos, a partir da ciência das responsabilidades que temos, a encontrarmos
o extrato líquido das metas comuns e que os comportamentos públicos sejam testemunha da
autenticidade e da firmeza de nossos compromissos democráticos.

Por derradeiro, seguiremos com o estrito respeito às orientações das autoridades sanitárias e
científicas, utilizando as ferramentas disponíveis e propícias ao maior cuidado com a saúde e o
ambiente de trabalho.

Sigamos em paz. O importante é ter em mente a vasta extensão das agendas que nos unem.
Queremos uma vida próspera, rica em harmonia, plena de trocas francas, generosas,
colaborativas, dentro do Estado de Direito democrático. O coração do presente ainda sabe à
esperança. O futuro esse sonho não deve nos negar.

Muito obrigado pela vossa atenção.

Ministro Edson Fachin.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.