Em reduto do ruralismo de direita, Lula bate em Bolsonaro
Presidente participou nesta sexta-feira de cerimônia de entrega de chaves do Minha Casa, Minha Vida em Rondonópolis, Mato Grosso

Durante cerimônia de entrega de 1.400 apartamentos do Minha Casa, Minha Vida nesta sexta-feira em Rondonópolis (MT), importante polo do agronegócio do Centro-Oeste, Lula fez duras críticas a Jair Bolsonaro na presença do governador bolsonarista do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil).
O presidente desafiou o público a indicar uma obra de Bolsonaro na cidade e ironizou o ex-presidente pela inauguração, em maio de 2021, de uma ponte de madeira em uma terra indígena de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
“Eu seria capaz de dar um prêmio para qualquer cidadão de Rondonópolis que me dissesse um metro de obra que o Bolsonaro fez aqui. Eu duvido porque eu ando o Brasil inteiro. A única coisa que eu sei que ele inaugurou foi uma ponte em São Gabriel da Cachoeira, uma ponte de 18 metros feita de madeira”, disse ele, para o público de beneficiários do Minha Casa, Minha Vida.
Durante o seu discurso, Lula falou diretamente ao governador Mendes quando contrapôs a abundância do agronegócio em Mato Grosso com a fila do osso vista em dezembro de 2021 na porta de um açougue em Cuiabá (MT).
“Foi aqui nesse estado que é um dos maiores criadores de gado do país, foi aqui nesse estado que é o maior produtor de grãos do país que apareceu uma mulher na porta de um açougue recebendo um osso para fazer uma sopa dentro de casa. Não é explicável no país que é o terceiro produtor do planeta, no país que é o maior produtor de proteína animal do mundo a gente ter 33 milhões de pessoas passando fome”.
Pouco antes, Lula mencionou a chacina de sete pessoas em Sinop (MT) por um jogo de sinuca e afirmou que o “país foi tomado pelo ódio” durante o governo Bolsonaro. Como o Radar mostrou nesta sexta, a presença do presidente em um reduto de bolsonaristas, muitos dos quais radicalizados e com acesso a armas em razão do trabalho no campo, gerou preocupação em assessores no Planalto.
Lula repetiu, contudo, o que tem dito aos governadores de oposição, de que passadas as eleições, o momento é de colaboração entre os entes federativos e a União. “Eu queria que vocês soubessem que eu não quero saber se o governador foi contra mim ou a favor nas eleições. Eu não quero saber de qual partido é o governador. Eu quero saber que ele está eleito e eu tenho que trabalhar junto com ele para governar para o povo do estado e da cidade”, disse.
Lula evitou dirigir-se diretamente a Mendes neste momento do discurso e preferiu mencionar o prefeito anfitrião José Carlos Junqueira de Araújo, o Zé do Pátio (PSB), apoiador seu nas eleições. “Se o Zé do Pátio não fosse um amigo e fosse um adversário, ainda assim eu viria aqui e trataria ele com respeito porque a democracia exige a nossa convivência mesmo que na adversidade”.