Delatora revelou como funcionavam “manobras fraudulentas” nas Americanas
Segundo Flávia Carneiro, dados da companhia foram ajustados para adequar os resultados às expectativas de mercado, elevando valor das ações
A operação deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta para prender dois ex-diretores das Lojas Americanas é estruturada em uma série de provas colhidas no curso das investigações da fraude bilionária na rede varejista.
Além de quebras de sigilo, de perícias em equipamentos eletrônicos e do cruzamento de dados fornecidos pela rede varejista, os investigadores contaram com a delação de Flávia Carneiro para chegar ao que pode ser a estrutura da ação criminosa na companhia.
Segundo a delatora relatou aos investigadores, as “manobras fraudulentas” iniciavam-se com a equipe de Relações com Investidores preparando um arquivo denominado “Verdes e Vermelhos”, que fazia parte de um “kit de fechamento trimestral”.
O documento, segundo Flávia, “era onde constava a expectativa de crescimento por parte dos analistas de mercado. Quando essas expectativas não eram atingidas, a Diretoria alterava os resultados ‘para não frustrar as expectativas do mercado'”, registra a decisão judicial que autorizou os mandados nesta quinta.
“Pelo teor da representação, a conversa entre a colaboradora Flávia e um dos Investigados, Carlos Eduardo Rosalba Padilha, ocorrida no dia 20/04/2018, confirma que uma das estratégias do grupo era incrementar os números reais para que ficassem próximos do que era esperado pelo mercado”, segue registrando a decisão judicial.
Além da ex-responsável pela Controladoria da empresa, o ex-executivo Marcelo Nunes fechou delação com o MPF.
Flávia diz que entrou na companhia em 2007 e desde essa época já havia ações irregulares. “De uma forma bastante sintética, é possível afirmar que a maioria das fraudes praticadas tinha dois objetivos. De um lado, um conjunto de manobras fraudulentas foi marcado pela inserção de receitas fictícias no balanço da empresa, bem como o uso de outros expedientes para maquiar os resultados. De outro lado, um outro conjunto de operações foi realizado para gerar caixa, de forma a impedir que o primeiro grupo de manobras fraudulentas fosse descoberto, mas não foi incluído nos demonstrativos contábeis ou foi incluído com informações insuficientes, disfarçando a real dívida da empresa”, dizem os investigadores no despacho enviado ao juiz.