Como Pinky e o Cérebro, Do Val e Silveira queriam dominar o mundo
Relatório da Polícia Federal sobre as mensagens do senador bolsonarista revela delírios da dupla que sonhou reinar num Brasil pós-golpe

No dia 8 de janeiro, o senador Marcos do Val divulgou um laudo psiquiátrico, emitido pelo Senado, que atestava sua sanidade mental. Em outras palavras, o senador procurou ajuda médica da Casa para provar que não estava maluco.
Nesta quarta, o Radar teve acesso ao relatório de 54 páginas da Polícia Federal, sobre mensagens encontradas no celular do senador. O conteúdo é um tiro no tal laudo de sanidade.
Do Val se propõe a participar de um plano supostamente arquitetado por Jair Bolsonaro e Daniel Silveira para derrubar “e até prender” o ministro Alexandre de Moraes. Enquanto trama contra o ministro, o senador canta todos os passos para o próprio Moraes, colocando, inclusive, Bolsonaro na reta: “O Bolsonaro pediu para falar com o Silveira”.
Quando a trama avança, com o famoso encontro no Palácio da Alvorada, as conversas de Silveira e Do Val descambam para um roteiro de Pink e o Cérebro, os ratos de laboratório que tramavam dominar o mundo. A tocaia contra Moraes, em várias mensagens, é descrita pela dupla como “um acontecimento histórico”.
A operação, como não poderia ser diferente, é “ultrassecreta”, restrita a “cinco pessoas”, as “cinco estrelas”: “Nem o Flávio saberá!”. O celular mostra que Do Val saiu cantando a tal missão secreta para dois assessores, falou num grupo de zap chamado “Amigas para a eternidade” e, acredite, até uma tal de “Inteligência Americana” recebeu relatos do senador, segundo ele próprio. Sem contar que já havia entregado o plano ao próprio alvo, o ministro Moraes.
Enquanto fazia tudo isso, o agente Do Val sonhava com seus poderes e a glória: “A missão vai entrar para a história do Brasil e do mundo”.
Depois de ter seu celular apreendido, com todo o plano mirabolante guardado no “zap”, o senador se afastou do mandato. Apesar do tal laudo do Senado, precisou cuidar da saúde.
Em tempo, os personagens envolvidos nessa “obra” eram, naqueles dias, o presidente da República, um deputado federal e um senador. Seria cômico se não fosse trágico.