Comissão de Anistia pede desculpas por perseguição da ditadura à Panair
A presidente do órgão, Eneá de Stutz e Almeida, se desculpou em nome do Estado brasileiro ao filho de Celso da Rocha Miranda, um dos sócios da empresa

A Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, nesta quarta-feira, reconheceu nesta quarta-feira a perseguição política promovida pela ditadura militar contra a Panair, companhia aérea fechada pelo governo Castelo Branco em 1965.
Durante a sessão plenária, a presidente do órgão, Eneá de Stutz e Almeida, se desculpou em nome do Estado brasileiro a Rodolfo da Rocha Miranda, filho de Celso da Rocha Miranda, um dos sócios da empresa, que morreu em 1986.
“É com muita emoção, muita honra que eu, primeiramente, agradeço pelo senhor ter trazido a oportunidade pra essa Comissão de Anistia contar a história da Panair, contar a história do seu pai, e também do seu sócio, e contar um pouco da história brasileira, do que significou o estado de exceção no Brasil. Eu quero pedir desculpas em nome do Estado brasileiro por todas as atrocidades, por toda a perseguição política que tanto a família dos senhores como as 5.000 familiares, todos os familiares da família Panair, sofreram”, declarou Eneá.
O processo foi apresentado por Rodolfo em 2014, ano em que a Comissão Nacional da Verdade do governo Dilma Rousseff concluiu que “alguns empresários não compactuaram com a conspiração e o golpe, defenderam a Constituição e foram perseguidos e punidos pelo regime ditatorial”.
“Um caso exemplar foi o de Mario Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda, que juntos detinham o controle acionário da Panair do Brasil, a segunda maior empresa privada do país. As atividades da Panair do Brasil foram encerradas por um decreto arbitrário do governo Castelo Branco”, diz o relatório da CNV.
“Nas alegações que conduziram ao fechamento da Panair, apresentadas ao presidente Castelo Branco, o empresário Celso da Rocha Miranda fora o mais citado e atacado. Para Celso Miranda, o golpe contra as suas empresas e a sua pessoa não terminaria com a ‘falência’ da Panair e a ocupação manu militari da Companhia Eletromecânica – Celma (empresa que fazia revisões e manutenções de turbinas, única da América Latina autorizada pela Federal Aviation Administration – FAA – EUA) pelo Batalhão de Caçadores de Petrópolis. A Aeronáutica, por meio de seu serviço de inteligência, o CISA, torná-lo-ia vítima de uma perseguição implacável”, afirma o documento.
Na sua fala, a chefe da Comissão de Anistia solicitou que seja apresentado um pedido de anistia política coletiva em nome das vítimas da Panair, para que se tenha o registro de “todos esses nomes”. “E seu pai e o sócio do seu pai foram verdadeiros heróis, foram perseguidos pelo Estado brasileiro e, por essas perseguições, por essa repressão, por todas as dificuldades, todas essas atrocidades, eu peço desculpas”, concluiu, sob aplausos dos conselheiros.