Barroso diz que crime ameaça instituições do país: ‘Estado precisa reagir’
Presidente do STF vê 'risco de contaminação da política' pelo crime organizado e defende ação na segurança pública, agora sob comando de Lewandowski
Com a chegada do ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski ao comando do Ministério da Justiça, o combate ao crime organizado, uma de suas prioridades na nova função, voltará ao centro do noticiário, com o anúncio das primeiras medidas da nova gestão da pasta.
Presidente do STF, o ministro Luis Roberto Barroso avalia que o governo deve definir com urgência uma política “significativa” de segurança pública para o país.
O magistrado conversou com o Radar durante o Brazil Economic Forum, realizado por VEJA e pelo Lide em Zurique, na Suíça. Durante a semana, trechos da entrevista, concedida em vídeo, serão publicados no Radar.
Para Barroso, o crime organizado tornou-se uma grande ameaça às instituições brasileiras por sua capacidade de infiltração.
“Mais recentemente tem se agravado, no Brasil, a questão da segurança pública. E eu acho que é preciso que isso entre na agenda brasileira de uma maneira muito significativa, pelo risco de contaminação das instituições e da própria política pelo crime organizado. Acho que o Estado brasileiro tem que reagir e tem que atuar”, diz o ministro ao Radar.
O ministro também enfrenta o debate sobre a política de drogas no país. Para Barroso, o atual modelo de ação do Estado na área fracassou e precisa ser reavaliado de modo a buscar enfraquecer o poder do tráfico na sociedade.
“Eu mesmo defendi uma rediscussão da política de drogas. Lembrando que não importa se você é a favor de um aumento de repressão ou se alguém é a favor de uma descriminalização paulatina, como alguns países estão tentando. Qualquer que seja a posição de cada um. O fato é o que o que nós estamos fazendo não está dando certo, porque o consumo tem aumentado e o poder do tráfico, sobretudo sobre as comunidades pobres, tem aumentado”, diz Barroso.
“Eu considero que essa é uma das grandes violações de direitos humanos no Brasil. A ausência de Estado impede que uma família humilde, modesta, que viva numa comunidade simples, eduque os seus filhos numa cultura de honestidade, porque eles são intimidados ou cooptados pelo tráfico”, complementa Barroso.