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Fim de série não é o fim do mundo

Antigamente, quando acabava uma novela, o dia seguinte era de depressão: "O que vai ser da minha noite depois do Jornal Nacional?"

Por Mario Mendes Atualizado em 30 jul 2020, 20h58 - Publicado em 3 abr 2017, 19h00

Nos tempos analógicos, quando acabava uma novela do horário nobre, daquelas que o Brasil parava para assistir, o dia seguinte era de depressão pós final de relacionamento: “E agora, o que vai ser da minha noite depois do Jornal Nacional?”. Era osso ter menos de dez canais de TV e só a Globo, sempre ela, transmitindo 24 horas. Mas hoje temos inúmeras possibilidades de entretenimento doméstico da dinossáurica TV aberta até os serviços de streaming, passando pelos já de época canais pagos. Quer dizer, aumentaram as opções… e também a frustração. Só nesse último domingo terminaram as temporadas da competição de calouros mirins The Voice Kids e da festejadíssima série The Walking Dead, além do capítulo final da minissérie Big Little Lies.

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Durante semanas o horário global do almoço de domingo foi tomado pela cantoria de crianças que entoaram de sambão a rock, com grande ênfase no sertanejo e sem esquecer as divas – meio assustador ver uma pré-adolescente se esgoelando para soar como Whitney Houston. A audiência foi às alturas, principalmente porque um monte de gente adorava ir às lágrimas com os petizes cantores. Ganhou Thomas Machado, devidamente trajado de gaúcho da fronteira, matando a todos com dose extra de fofura e garantindo mais uma vez a choradeira dominical antes da macarronada.

De noite foi a vez das verdadeiras donas de casa desesperadas de Big Little Lies, que a princípio achei estranho, mas depois se revelou instigante, incômodo e com aquele toque de humor malvado que não se pode resolver com risadinhas – havia uma adolescente com o projeto de leiloar on line a virgindade a fim de angariar fundos para a Anistia Internacional, tudo encarado na maior seriedade. Sem falar no desempenho matador de Reese Whitherspoon e o casal neura vivido por Nicole Kidman – nos acostumamos com sua expressão botocada ou ela passou por uma geral de funilaria e pintura? – e Alexander Skarsgard, simplesmente assustador. Para quem não se contentou com a conclusão da trama, há explicações detalhadas – repletas de spoilers – no site da revista Vanity Fair.

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(FOX/Divulgação)

Gran finale também para epopeia zumbi The Walking Dead, série que acompanhei até a terceira temporada e perdi o interesse – encerrou na sétima. Pelo que li passeando pelos blogs, sites, fanfics etc dos leais fãs da série, a conclusão surpreendente prometida pelos realizadores deixou a desejar. Todo mundo queria mais. Mais drama, mais ação, mais sangue e mais surpresas. Fã é fã e sempre quer mais. Prefiro a opinião do amigo Jerônimo Teixeira que sustenta que, enquanto universo distópico, The Walking Dead mata a pau o Ensaio Sobre a Cegueira, do Saramago. Isso que eu chamo de olhar radical.

AMOR E ÓDIO - Susan Sarandon e Jessica Lange posam nas filmagens de 'Feud': sorrisos dissimulados diante das câmeras, caneladas sem trégua nos bastidores
(Kurt Iswarienko/VEJA)

Porém, nem tudo está perdido. Ainda restam três episódios da primeira temporada FEUD: Bette and Joan, a série de antologia de Ryan Murphy – o queridinho do imaginário bizarro americano, criador das festejadas American Horror Story e American Crime Story – sobre o embate das divas Bette Davis (Susan Sarandon) e Joan Crawford (Jessica Lange) nos bastidores de O Que Teria Acontecido a Baby Jane? e além. Apesar do desempenho impecável da dupla central, fico boquiaberto a cada aparição de Judy Davis como a diabólica colunista Hedda Hopper. Aliás, já que ideia de FEUD é dedicar cada temporada à rixa de uma dupla famosa, Murphy bem que poderia contar a briga de foice disputada por Hedda e Louella Parsons, para ver quem era a venenosa mais poderosa nos mexericos da era de ouro de Hollywood. Consta que ao receber a notícia da morte da rival – de câncer, em 1966 – Louella teria comentado: “Bem feito!”. Mas já está decidido, a próxima FEUD (rixa, em inglês) relatada será a de Charles e Diana.

Assim, enquanto o mais aguardado desenlace de todos os tempos, a temporada final de Game of Thrones não vem – o tal “winter is coming” que nunca chega – acho que vou me contentar em acompanhar A Força do Querer, o bom e velho novelão analógico, como tranquilizante para crise de abstinência que deve se seguir nas próximas semanas. E também para não ficar sem assunto no final da noite nas redes sociais.

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