
Ao fim do primeiro debate presidencial que o correu ontem, 28 de agosto, a conta fechou da seguinte forma: Lula e Bolsonaro cometeram os dois erros mais graves e previsíveis para os respectivos lados da campanha.
Bolsonaro tinha como missão reforçar o estigma de corrupção durante os governos do PT, e fez em sua primeira pergunta, o que todos poderiam esperar que fizesse. Apesar disso, a resposta de Lula foi frágil. O ex-presidente perdeu a oportunidade de retrucar com uma fala contundente que equilibrasse o jogo no confronto direto, deixando de apontar suspeitas que pesam sobre o atual governo, como fez no Jornal Nacional. Ao tentar desviar desse conflito direto o candidato pareceu não ter uma resposta estruturada para um questionamento tão óbvio a respeito do tema corrupção vindo de Bolsonaro. Um erro no preparo para o debate.
Bolsonaro, entretanto, tropeçou sozinho. Tendo como prioridade conquistar o eleitorado feminino, onde tem sua maior rejeição, o presidente tinha à mão uma cartilha com ações desenvolvidas durante seu governo com foco no público feminino e uma resposta treinada e ensaiada. Mas, em um momento de descontrole, ao ser questionado sobre a queda no índice de vacinação, atacou de forma agressiva a jornalista Vera Magalhães e a senadora Simone Tebet. Só reforçou sua imagem de desrespeito às mulheres, trazendo esse tema para o centro do debate. Lula não enfrentou o presidente, mas Bolsonaro perdeu para seu próprio descontrole.
O melhor desempenho durante o debate foi o de Simone Tebet, que se manteve firme e equilibrada nas críticas aos temas mais sensíveis aos dois candidatos que lideram as pesquisas. A senadora revisitou assuntos como o orçamento secreto, a corrupção na compra das vacinas, a misoginia de Bolsonaro (ao lado de Soraya) e os escândalos dos governos do PT. Fez críticas ao atual presidente que poderiam ter sido exploradas na primeira oportunidade por Lula.
O debate, na prática, representa munição para redes sociais e programa eleitoral. O saldo final nos mostra: ambos os candidatos líderes não se saíram bem e erraram o tom. Lula mal olhou para câmera e usou pouco a linguagem popular que sempre foi sua fortaleza. Teve poucos momentos positivos, como quando afirmou que “os motoristas, jardineiros e empregadas domésticas viram” as mudanças que seus opositores não reconheciam. Deixou Bolsonaro falar sozinho no tema corrupção, e desperdiçou seu tempo de considerações finais com improvisações, respondendo as provocações de Ciro e lembrando o impeachment de Dilma. Já Bolsonaro chegou preparado para tentar aumentar a rejeição de Lula no tema corrupção, fez falas contundente nesse sentido, mas só foi capaz de seguir à risca seu script por um bloco. Não resistiu às primeiras críticas diretas e deixou vir à tona toda a agressividade que o afasta de grande parte do eleitorado, sobretudo o feminino.
Em resumo, Lula e Bolsonaro deram munição de sobra para suas principais fraquezas serem exploradas pelos adversários. O cenário criado nos aproxima cada vez mais de um segundo turno, com Bolsonaro afastando as mulheres e Lula tendo dificuldade de responder ao estigma da corrupção, algo que ainda pesa para os eleitores moderados e indecisos, e aceitando entrar em embates diretos com Ciro, que mantem cerca de 10% do eleitorado. São exatamente os perfis de eleitores que decidirão se a eleição terá, ou não, dois turnos.