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Por Renato Meirelles
Renato Meirelles é pai da Helena, acredita que a Terra é redonda, está à frente do Instituto Locomotiva e, neste espaço, interpreta os números muito além da planilha Excel
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Mulheres, mercado de trabalho e a “meritocracia”

Mulheres estão chefiando famílias, mas ainda recebem menos que colegas homens, diferença é acentuada no caso das trabalhadoras negras

Por Renato Meirelles 10 mar 2023, 10h00

Mais da metade da população brasileira, as mulheres conquistaram muitos espaços nos últimos anos, estão mais escolarizadas, são mais chefes de família, mas ainda não têm reconhecidas as mesmas condições dos homens no mercado de trabalho. Elas seguem recebendo menos, mesmo exercendo funções semelhantes e com a mesma formação dos trabalhadores masculinos. Nada disso é uma grande novidade para as leitoras mulheres, mas o cenário traz à tona a necessidade de se discutir a “meritocracia” em um mercado de trabalho ainda marcado pelo machismo e preconceito no nosso país.

Lançada neste dia 8 de março, a pesquisa “Mulheres no Mercado de Trabalho” do Instituto Locomotiva a pedido da Io Diversidade, consultoria que trabalha com foco na promoção de diversidade nas empresas, faz um raio-x do mercado de trabalho para as mulheres brasileiras. O estudo ajuda a pensar nos desafios que elas ainda enfrentam e como as dificuldades são maiores quando se analisam recortes de raça. O levantamento mostra que, nos últimos 20 anos, mais de 5,4 milhões de brasileiras passaram a integrar o mercado de trabalho formal e, no mesmo período, o percentual de domicílios chefiados por mulheres dobrou, chegando a 34 milhões de lares.

Ainda assim, as mulheres ganham, em média, 80% dos salários dos homens. Para muitos dos que defendem a meritocracia o número poderia ser justificado por alguns fatos “naturais” do mercado, como diferenças de função, de formação e mesmo de desempenho dos trabalhadores e trabalhadoras. A pesquisa da Locomotiva, porém, traz um dado que ajuda a derrubar, em grande parte, estes argumentos: quando se considera apenas a população com ensino superior, a diferença salarial entre homens e mulheres segue grande, e é ainda maior quando se compara homens brancos com mulheres negras.

Segundo a pesquisa, uma mulher negra com ensino superior recebe, em média, 55% menos do que um homem branco com a mesma formação. A diferença salarial ainda é observada entre uma mulher branca com ensino superior – que possui uma renda média de trabalho de R$ 5.097, e uma negra com o mesmo grau de escolaridade – R$ 3.571. Um homem branco com diploma universitário, por sua vez, recebe em média R$ 7,9 mil.

 Além disso, o levantamento mostra que 43% das trabalhadoras brasileiras já sofreram algum tipo de preconceito ou violência no ambiente de trabalho. Estamos falando de um contingente de 16,3 milhões de trabalhadoras que sofreram um tipo de agressão que nem eu nem os leitores homens sentiremos na pele.

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 Lidos com atenção, estes números levam a importantes reflexões. A primeira é de que é necessário, antes de tudo, um grande mea culpa dos homens. Ainda que não sejam agressores ou “redpills” de carteirinha, a verdade é que grande parcela dos homens ainda não assume a divisão justa das tarefas domésticas e cuidado com os filhos, dificultando a vida profissional das mulheres que sentem o peso da jornada dupla nas costas e muitas vezes não conseguem evoluir na carreira porque carregam este peso.

 A segunda reflexão, e que envolve um outro problema profundo enraizado em nossa sociedade, é o desafio dobrado que mulheres negras tem para serem reconhecidas e conseguirem salários e posições mais elevados. E aqui, cai por terra o argumento da meritocracia por um fato que é muito claro em um país tão desigual como o Brasil. Mesmo conseguindo mais acesso ao ensino superior nos últimos anos, a população negra e pobre ainda vai demorar para desenvolver a mesma teia de relacionamentos e convívio social que, em geral, as pessoas brancas de classe média e média alta já possuem. Em outras palavras, o filho do pedreiro com diploma ainda não tem o mesmo acesso que o filho do empresário que pode pedir emprego na empresa de algum colega do pai.

 Some-se a isso os desafios que as mulheres já enfrentam em um mercado machista que, ainda usa o “receio” de uma gravidez como argumento para evitar promover trabalhadoras. Não é difícil perceber então que, mesmo as mulheres negras com qualificação ainda estão vários degraus abaixo para conseguir ascender na carreira e lutar pelos melhores cargos do que seus colegas homens e mulheres brancos com ensino superior. Que neste dia 8 de março sirva para lembrarmos todos (nós homens, principalmente) destes desafios e fazermos a nossa parte para que a paridade avance cada dia mais. São os votos deste colunista que pretende ver ainda a filha do pedreiro  e do executivo terem, de fato, as mesmas condições para alcançar os postos de trabalho e salário que merecem.

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