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Por Renato Meirelles
Renato Meirelles é pai da Helena, acredita que a Terra é redonda, está à frente do Instituto Locomotiva e, neste espaço, interpreta os números muito além da planilha Excel
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Cortina de Fumaça

Após o caso de Roberto Jefferson, campanhas seguem criando factoides na reta final da eleição

Por Renato Meirelles Atualizado em 28 out 2022, 18h07 - Publicado em 28 out 2022, 15h42

“Nuvem espessa de fumaça produzida pelas chaminés dos navios de guerra, ou feita artificialmente com produtos químicos, cujo propósito é encobrir a visão dos oponentes para os despistar, enganar”

No Marketing Político, usamos esse termo quando queremos esconder do debate algum assunto que só interessa ao candidato adversário. Pode ser uma proposta, ou um ponto fraco que está sendo explorado na campanha do oponente.

Esta campanha está sendo muito criativa neste método de direcionamento narrativo. Vamos relembrar alguns exemplos: banheiro unissex, maçonaria, fechamento de igrejas e o mais recente, a polêmica sobre as propagandas de rádio que, não por acaso, surgiram logo após o presidente do PTB e criador do Padre Kelmon, Roberto Jefferson, atirado contra os agentes da Polícia Federal. Mas, antes disso, quem é o atirador de granadas?

Roberto Jefferson é uma figura tradicional da política brasileira. Ganhou visibilidade nacional por ter sido o primeiro denunciante de um esquema de corrupção, muito vivo na memória de todos nós, o “mensalão”. De lá pra cá, Bob Jeff foi preso, solto, se aproximou do governo e, até domingo, estava em prisão domiciliar.

Bem que tentou, mas o presidente da República não conseguiu negar a proximidade que sempre existiu entre ele e Roberto Jefferson, fartamente documentada em registros de visitas do ex-parlamentar a Bolsonaro no Planalto. A foto do Padre Kelmon na casa de Jefferson é a materialização dessa proximidade.

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Todas as pesquisas e análises de rede mostram o desgaste que o ocorrido leva para a imagem do candidato incumbente. Em especial duas camadas importantes do eleitorado: A dos policiais (até então dominada completamente por Bolsonaro) e as mulheres de classe média, na maioria, ex-eleitoras de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).

A atitude de Jefferson foi mais impactante que a arruaça dos bolsonaristas em Aparecida (SP). Em face das atitudes muito questionáveis do presidente e candidato à reeleição, este episódio de Roberto Jefferson levou Bolsonaro a ter que dar explicações sobre um ato inaceitável, em vez de estar concentrado nos seus ataques antipetistas no terreno dos costumes, da corrupção e da ditadura da Nicarágua.

Para tentar “tapar o sol com uma peneira”, a campanha de Bolsonaro criou um factoide, entrando com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre eventuais falhas nas inserções da sua campanha em rádios no Nordeste. A ação foi divulgada na segunda-feira, 25 horas após a prisão de Jefferson, na voz do ministro das Comunicações, Fábio Faria, na frente da residência oficial do presidente da República, o Palácio da Alvorada.

O TSE foi rápido na resposta. O ministro da Suprema Corte, Alexandre de Moraes, teve o cuidado de solicitar provas à campanha de Bolsonaro, concedeu prazo de 24h para responderem, mas fez, também, as pesquisas necessárias a se munir de dados credíveis, que incluíam respostas de peritos. Na posse dessas informações, todos chegam à conclusão de que as queixas são infundadas. Uma cortina de fumaça fina demais para esconder a verdade por detrás dessa ligação entre Bolsonaro e Jefferson.

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A maioria absoluta dos analistas políticos hoje tem a nítida impressão de que as campanhas agem, muitas das vezes, de improviso. Simplesmente para desviar o foco de alguma notícia negativa. Não foi à toa que Alexandre de Moraes não deixou de reforçar, em sua decisão, a possibilidade de crime eleitoral caso a “denúncia” tenha como fundamento apenas tumultuar a eleição.

Após as 24h dadas para o envio das provas e a óbvia constatação que não existiam provas para que se constatasse eventual dolo da candidatura adversária ou prejuízo à reeleição, o presidente do TSE arquivou o caso. No entanto, a tentativa de manter a fumaça com notícias que nada mais são do que “fogo de encontro”, não acabou. A nova cortina é o adiamento das eleições, aventado na esteira das acusações infundadas sobre as inserções de rádios e vocalizada mais recentemente pelo filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro, (PL-SP). “A gente está diante de um caso que, se for dado o direito de resposta, será necessário adiar as eleições deste ano”, afirmou o parlamentar na quinta-feira, 27.

Ao que tudo indica, o modus operandi do candidato à reeleição parece querer replicar a estratégia do ex-presidente americano, Donald Trump, que fracassou em todas as tentativas de questionar os resultados da eleição presidencial e hoje vê o cerco da Justiça e do Congresso americano se fechar sobre ele. Seria a tentativa de adiamento a próxima cortina de fumaça na eleição brasileira? Esse colunista, sinceramente, espera que não.

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