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Por Trás dos Números

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Renato Meirelles é pai da Helena, acredita que a Terra é redonda, está à frente do Instituto Locomotiva e, neste espaço, interpreta os números muito além da planilha Excel
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A quem serve o voto útil agora?

Definir o voto neste momento é sepultar o necessário debate de propostas para o país

Por Renato Meirelles Atualizado em 21 fev 2022, 15h19 - Publicado em 21 fev 2022, 14h23

O voto útil é um instrumento legítimo da democracia. Permite que, entre duas opções que não nos satisfazem plenamente, possamos escolher a mais aceitável.

A questão é quando ele deve entrar em cena. O mais saudável para o processo democrático é que seja usado perto da reta final, quando as alternativas se afunilam.

Para começar, o voto útil pressupõe uma questão: útil para quem? Para Lula, são úteis os votos dele e os nulos e brancos, porque ajudam a vencer no primeiro turno. Para os outros, voto útil é o contrário, é qualquer voto que ajude a ter o segundo turno.

O voto útil prematuro é nefasto porque tolhe o livre curso das propostas para o país. Se desde antes do início oficial da campanha se pensa em termos de voto útil, muitas boas ideias acabam ficando pelo caminho, sem chance de se viabilizarem eleitoralmente.

Faço essas observações a propósito de uma resposta, detectada em grupos de debate, para se lidar com a possibilidade de não haver segundo turno.

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Lula, dependendo da pesquisa, está com qualquer coisa entre 45% a 48% das intenções de voto, considerando-se os válidos. Seu interesse, claro, é agregar o que falta para a metade mais um, o que lhe daria a vitória já em outubro. Sua caminhada em direção ao centro é reveladora dessa estratégia. Quanto a Bolsonaro, seus 25% podem não ser suficientes para levá-lo ao segundo turno.

Diante desse quadro, os defensores da terceira via propõem que os insatisfeitos com a polarização canalizem a intenção de voto para um único candidato, entre os vários cujos nomes são lembrados.

Trata-se, no entanto, de uma estratégia míope, por não levar em conta que a transferência automática de voto não passa de quimera. Os eleitores de Ciro ou Moro, para citar dois exemplos, não migrariam em peso para nenhum outro candidato. O mais provável é que, na ausência deles, se pulverizariam, inclusive elevando a quantidade de votos brancos ou nulos.

A tentativa de canalizar o descontentamento para um novo nome é uma falsa solução. O voto útil de quem assim se posiciona deveria ser simplesmente em qualquer um que não no próprio Lula. Esse seria o caminho mais seguro para se chegar ao segundo turno. Candidaturas, portanto, deveriam ser incentivadas. Para os entusiastas da terceira via, o voto útil clássico é bom, mas não agora, e talvez o índice de rejeição seja ainda mais importante do que a intenção de voto.

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