119 milhões de pessoas comprariam menos com fim do parcelamento sem juros
Pesquisa mostra que o parcelamento sem juros faz parte da cultura de compras da população

Há pouco mais de duas décadas, esse colunista estuda a vida financeira dos brasileiros e o papel que o parcelamento sem juros tem na economia. Graças a este modelo de parcelamento (este mesmo modelo que alguns economistas de ar-condicionado chamam de “jabuticaba brasileira”), milhões de pais e mães de família conseguiram comprar o primeiro computador para seus filhos estudarem, máquinas para lavar a roupa da família ou uma geladeira nova.
No palco da vida cotidiana dos brasileiros, o parcelamento sem juros é uma dança que todos nós sabemos dançar. Assim como o café da manhã com pão fresquinho e o “bom dia” aos vizinhos, essa prática financeira faz parte do nosso jeito de viver. Mas, além de ser uma forma de pagamento, o parcelamento sem juros também tem uma história a contar: a história da democratização do consumo e da batalha contra o endividamento.
Imagine você, caro leitor, indo ao mercado fazer suas compras semanais. O carrinho vai ficando cheio, os produtos se acumulam e, no caixa, a grande questão surge: pagar tudo de uma vez ou parcelar sem juros? É como se essa dança do parcelamento fosse uma melodia que embala nosso orçamento, permitindo muitas vezes que a família seja alimentada até o final do mês.
Recentemente, tive a oportunidade de conduzir pelo Instituto Locomotiva uma pesquisa que mostra, estatisticamente, que a grande maioria dos brasileiros (78%) diminuiriam o consumo se o parcelamento deixasse de existir. É como se o ato de dividir o valor da compra em várias parcelas fosse a nossa maneira de democratizar o consumo, de tornar acessíveis produtos e serviços que, de outra forma, seriam um sonho impossível para a população de menor renda.
Mas e se essa dança fosse interrompida? E se, de repente, você só pudesse parcelar suas compras com a adição de juros? A pesquisa nos diz que 42% das pessoas reduziriam seus gastos pela metade nesse cenário. Seria como se alguém desafinasse a música da nossa rotina, piorando nossa qualidade de vida. E essa não é a solução para o problema do endividamento.
É importante entender que o problema do endividamento não está no parcelamento sem juros. A pesquisa nos mostra que a inadimplência não está diretamente relacionada ao parcelamento, desafiando a ideia de que essa dança é a vilã das finanças pessoais. Entre os brasileiros com dívidas em aberto ou nome no Serasa, é maior a fatia que não parcela sem juros no cartão, ou seja: parcelar sem juros no cartão é um viabilizador de acesso com menor impacto no endividamento prejudicial.
Além disso, a pesquisa revela que 34% da população precisaria recorrer ao parcelamento no cartão de crédito se tivesse uma despesa urgente de R$ 500. Essas são as situações imprevistas que surgem no nosso caminho, como um pneu furado ou um encanamento quebrado. O parcelamento sem juros muitas vezes é a tábua de salvação que nos permite enfrentar esses desafios sem afundar nas dívidas. Do contrário, mesmo em um cenário de emergência, os consumidores seriam obrigados a pagar juros, aumentando a chance da bola de neve do endividamento.
O parcelamento sem juros é uma coreografia que todos nós aprendemos a dançar. Ele faz parte da nossa vida cotidiana, permitindo-nos gerenciar nosso orçamento, ter acesso a produtos e serviços essenciais ou sonhos e enfrentar despesas imprevistas. Mudar essa dança pode ter impactos profundos em nossa rotina, e é importante que qualquer mudança seja pensada com cuidado, levando em consideração o que é melhor para todos nós brasileiros que dançam ao ritmo do parcelamento sem juros. É uma dança que democratiza o consumo e nos mantém no compasso certo da nossa vida financeira.
Em um país desigual como o nosso, o Parcelamento Sem Juros é uma Questão de Justiça Financeira.