Vem aí a IA que (finalmente) vai lavar e dobrar sua roupa
Robôs com nova tecnologia da Meta já conseguem mover e organizar itens com sucesso de até 80%. Especialistas apostam que podem ser realidade até 2027

“Quero uma IA que lave minha roupa enquanto faço arte, não que faça arte enquanto lavo minha roupa”, diz um meme que vira e mexe ressurge nas redes sociais. Não sem razão, porque o advento das ferramentas generativas fez as máquinas ocuparem atividades criativas, deixando para nós tarefas domésticas que não são exatamente campeãs de popularidade.
A boa notícia é que, sim, existem pesquisas nesse sentido. E apareceram novidades relacionadas a uma delas nos últimos dias, caso do projeto V-JEPA 2, da Meta.
Esse nome estranho vem da sigla para Video Joint Embedding Predictive Architecture 2 — ou seja, mais fácil usar a forma abreviada mesmo — e se refere a uma tecnologia que usa vídeos para tentar reproduzir a forma como humanos lidam com tarefas complexas. Especialmente, a maneira como nosso cérebro processa os diferentes estímulos ao nosso redor por meio do olhar.
A Meta divulgou um vídeo de braços mecânicos que, graças ao V-JEPA 2, dá os primeiros passos para dominar a tarefa de dobrar uma camiseta. Eu sei, para gente como a gente é a tarefa mais prosaica do mundo, mas para os robôs é mais simples recriar um Da Vinci. O V-JEPA 2 ensina às máquinas um tipo de “bom senso” sobre o mundo físico, um ingrediente fundamental para que, no futuro, elas possam de fato assumir tarefas complexas. Ou seja, é uma tecnologia que abre caminho para uma nova geração de robôs e sistemas autônomos.
Como um robô vai saber dobrar roupas?
Desenvolvido sob a liderança de Yann LeCun, um dos pioneiros da área, o V-JEPA 2 não é um robô, mas sim o cérebro por trás dele. A tecnologia funciona como um “modelo do mundo”: ela constrói uma representação interna do ambiente, quase como um mapa mental.
Para isso, foi treinada com mais de 1 milhão de horas de vídeo, aprendendo as leis da física, as dinâmicas dos objetos e os padrões de interação sem que um humano precisasse rotular os dados.
No caso da atividade de dobrar roupas, por exemplo: o modelo assiste a milhares de horas de vídeo para criar uma compreensão intuitiva da física. Com isso, ele não decora a tarefa, mas antecipa como uma peça de roupa vai se mover, amassar ou se acomodar a cada dobra. Essa capacidade de prever as consequências de uma ação é o que permite ao robô manipular objetos flexíveis e imprevisíveis como tecidos. Essencialmente, ele ganha o “bom senso” necessário para a tarefa.

É essa habilidade de prever consequências que se torna essencial para robôs que precisam manipular objetos ou navegar em espaços desconhecidos. Em testes, robôs equipados com o V-JEPA 2 já conseguem pegar, mover e organizar itens em ambientes nunca vistos antes, atingindo taxas de sucesso de até 80%.
Onde na sua vida o V-JEPA 2 poderá aparecer?
As possibilidades vão além da robótica tradicional. O V-JEPA 2 pode ser empregado em veículos autônomos, assistentes domésticos, dispositivos de realidade aumentada e virtual, logística e até mesmo em sistemas de auxílio para pessoas com deficiência visual. Por ser open source, o modelo e seus benchmarks estão disponíveis para pesquisadores e startups, acelerando a inovação global e democratizando o acesso à IA de ponta.
A expectativa no segmento de IA é que os robôs que atualmente a gente vê mais nos vídeos de Instagram se proliferem por domicílios mundo afora por volta de 2027. Essa é a previsão, por exemplo, de Sam Altman, CEO da OpenAI.
“Em breve, tudo o que se move será robótico”
Em um texto recém-publicado em seu blog, Altman descreve um futuro onde robôs poderão operar toda a cadeia de suprimentos — da mineração à fabricação — para construir mais robôs, acelerando drasticamente o progresso em áreas críticas como a criação de novos data centers e fábricas de chips.

(E, sim, precisamos debater com mais afinco o que isso representará para o futuro dos empregos. O mais provável é que a humanidade precise redefinir sua relação com o trabalho, como falamos aqui na coluna no texto de estreia.)
Jensen Huang, CEO da NVIDIA, chama essa tendência de a “próxima onda da IA”: a “IA Física”. Em palestras como a que fez na Computex, ele falou da ideia de uma inteligência artificial que “compreende as leis da física e pode trabalhar entre nós” — que é exatamente o que tecnologias como o V-JEPA 2 vêm fazendo.
Huang acredita que essa mudança dará início a uma nova revolução industrial e declarou de forma contundente: “Em breve, tudo o que se move será robótico”. Essa perspectiva reforça que a IA está saindo das telas para se tornar uma força ativa em nosso ambiente.