Na rua, na estrada, na pista: testamos o Mustang em condições diversas
Sétima geração do icônico esportivo americano alia performance e conforto e mostra desempenho surpreendente em qualquer situação
São dez horas a manhã e o comboio de Mustang está pronto para sair da sede da Ford, no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo, e encarar o caótico trânsito matinal da cidade. Nosso destino é o Autódromo Velocitta, em Mogi Guaçu, na divisa com Espírito Santo do Pinhal, um trajeto de pouco menos de duzentos quilômetros. O objetivo é ver como o mais icônico dos “muscle cars” americanos – e último ainda à venda no Brasil – se comporta na cidade, na rodovia e na pista.
Com o destino no GPS – incluindo uma pequena parada para um café em Holambra – começamos a viagem a bordo do Mustang GT Performance, versão da sétima geração do esportivo à venda no país. No anda e para do tráfego pesado, dá para reparar com mais atenção nos detalhes da cabine. O acabamento é bom, sem exageros. Afinal de contas, é um “muscle car”, um tipo de veículo que surgiu em meados da década de 1960 para ser potente. Ao longo de 60 anos, é claro, houve muita evolução. O assento do motorista é inspirado em um cockpit, e a sensação é de estar conduzindo um jato. Diversas regulagens do assento e do volante permitem um ajuste preciso da posição ideal. O som, um elemento essencial para longas viagens, é de boa qualidade e definição. E foi projetado para anular o barulho do motor que invade a cabine. Ou seja, a rodagem é confortável e pode ser silenciosa, dependendo do que quer o condutor.
Quando o movimento de carros diminui e finalmente chegamos à Rodovia dos Bandeirantes, no entanto, que ele mostra sua verdadeira vocação. A sigla GT não é à toa. No mundo automobilístico, significa Grand Tourer, em inglês, ou Gran Turismo, em italiano. É usada para carros que aliam performance e conforto. Ou seja, são rápidos, feitos para longas e confortáveis viagens na estrada. Alguns esportivos sacrificam elementos de conveniência em nome da velocidade, enquanto outros deixam a desejar na esportividade em nome de amenidades que tornam a vida a bordo mais aprazível. Aqui, há os dois.
Não é à toa. Sob o enorme capô há um motor Coyote V8 de 488 cavalos de potência e 58 kgfm de torque capaz de acelerar de 0 a 100km/h em apenas 4,3 segundos. Ele foi calibrado para entregar 80% do torque em rotações mais baixas, abaixo de 2.000 RPM. Tem cinco modos de condução, normal, esportivo, escorregadio, pista e pista drag. Mesmo no modo normal é possível ver sua potência. Basta pisar um pouco mais forte que o carro responde. É para isso que ele foi projetado. Acima das 3.000 rotações o motor já começa a rosnar.
Aos 120 km/h, limite da via, o Mustang se comporta com tranquilidade. A velocidade é quase imperceptível. O carro está em seu elemento natural. Ele tem uma limitação eletrônica e não passa dos 250 km/h – muito acima do limite, mas abaixo de sua capacidade. Além da potência bruta, o modelo tem bastante tecnologia embarcada. Desde a suspensão, que é capaz de detectar buracos em tempo real e evitar maiores danos aos pneus e rodas, até os freios Brembo, potentes e que aumentam a sensação de segurança. Se algum caminhão entrar subitamente na frente, por exemplo, eles vão dar conta de parar o Mustang com rapidez.
O tempo ao volante também passa rápido. Após cerca de uma hora e meia chegamos a Holambra. O comboio de Mustangs parecia atração turística da cidade e os carros, com visual repaginado, mais musculoso, mas que remete aos modelos clássicos dos anos 1960 e 1970, faziam as pessoas virarem a cabeça. Após um rápido café no Zoet en Zout, conhecido pelo delicioso strudel de maçã, voltamos ao volante para a perna final de viagem. Agora, rumo ao autódromo Velocitta.
Na pista, mais surpresas boas. Os “muscle cars” não são exatamente conhecidos pela precisão nas curvas. São famosos pela força bruta e pela velocidade em retas, não pela dirigibilidade precisa. Aqui, a história é outra. O novo Mustang responde bem mesmo nos trechos mais sinuosos, e de fato dispara nas retas. No modo esportivo, a reação do acelerador é mais dinâmica. Só não testamos o modo Drag, indicado para disputas de aceleração. Em breves três voltas pelos circuitos deu pra ver que ele é diversão garantida em qualquer Track Day.
No final, ainda tivemos a chance de ver uma apresentação de drift, comandada pelo experiente piloto Luís Gozzani. O novo Mustang tem um freio de estacionamento eletrônico, mas com um alavanca usada justamente para o drift. Na pista molhada, Gozzani fez o carro dançar, cantando os pneus a cada zerinho.
É bem provável que quem busca versatilidade em um carro não pense em um modelo de apelo esportivo como primeira opção. Mas o Mustang surpreende. É prático na cidade, confortável na estrada e empolgante na pista. Para um casal com R$ 529 mil disponíveis no banco, é diversão garantida. Para famílias, o negócio complica um pouco. Os dois bancos traseiros são apertados e comportam apenas crianças com algum conforto. O consumo, cerca de 6 quilômetros por litro, com gasolina, também precisa ser levado em conta. Mas quem compra um modelo desses quer ter na garagem não apenas um ícone, mas um dos últimos representantes dos muscle cars. E essa função o Mustang cumpre com louvor.