Aventura na Argentina: rodamos pelas estradas até a Garganta do Diabo
A bordo da Rampage, participamos da primeira edição da Ram Expedition, jornada que partiu de Salta com destino a Cafayate, famosa pelos vinhedos de altitude
O burburinho do grupo de turistas ficou para trás. À medida que subimos por trechos mais íngremes da formação rochosa, a quantidade de aventureiros diminuía. Estávamos entrando na Garganta do Diabo, formação rochosa localizada na Ruta 68, entre as cidades argentinas de Salta e Cafayate. As paredes de rocha de cor alaranjada formam um caminho sinuoso e impressionante. Com mais de quase 50 metros de altura, é como se a fenda fosse uma boca aberta brotando do solo em direção ao céu.
A Garganta do Diabo foi um dos pontos altos – literalmente – de uma viagem de dois dias pela região norte da Argentina. O roteiro da primeira Ram Expedition, evento organizado pela marca de picapes de luxo, era ambicioso. O plano era rodar por mil quilômetros, visitando alguns destinos incríveis e menos populares do país vizinho e, de quebra, testar as capacidades do menor modelo da montadora disponível no Brasil, a Rampage, em um uma “road trip” extensa que passaria majoritariamente por asfalto, com alguns trechos de terra.
Como no dia anterior, saímos da cidade de Salta, na região noroeste da Argentina. Dessa vez, em vez de subir em direção ao norte, tomamos a Ruta 68 em direção a Cafayate, ao sul. A cidade tem se destacado como destino turístico para os amantes de vinho. Embora Mendoza concentre grande parte da produção e do turismo, Cafayate é uma alternativa para quem busca rótulos diferentes, produzidos em grande altitude, e querem fugir um pouco do burburinho mendocino.
No ambiente urbano, o tamanho da Rampage, embora menor que suas primas maiores, impõe respeito, e a posição elevada de dirigir ajuda a ficar sempre à frente dos obstáculos do trânsito. Mas é na estrada que sua performance brilha. A condução é confortável e responsiva. O motor 2.0 turbo dá muita segurança em acelerações, ultrapassagens e retomadas. Fizemos todo o trajeto a bordo da Rebel, uma das três versões disponíveis. A Rebel tem vocação off-road, com detalhes em preto e pneu de uso misto (que faz barulho mesmo com o bom isolamento acústico da cabine, mas é algo esperado e tolerável). Acima dela, há a Laramie, com detalhes em cromado e bancos na cor marrom. Nas duas, é possível escolher entre gasolina e diesel. A topo de linha, R/T, tem apelo esportivo e é abastecida apenas com gasolina. A R/T já foi testada aqui no Pé na Estrada em uma viagem pelo interior de São Paulo.
Seguindo pela Ruta 68, a primeira parada do dia foi na Estación Alemania Salta, uma antiga estação ferroviária transformada em restaurante. Inaugurada originalmente em 1916, deixou de atender as linhas de trem em 1977. O prédio, no entanto, continua de pé, bem como os antigos trilhos. Além de oferecer um cardápio de empanadas e tamales (clássico andino que consiste em uma massa de milho, parecida com uma pamonha, recheada com carne), serve cafés e vende itens de artesanato feitos por artesãos locais. Há ainda um museu que conta a história da estação e mostra como a região foi habitada por dinossauros há milhares de anos. Infelizmente, o espaço estava fechado na data de nossa visita. Abastecidos com café e comida, seguimos viagem.
A Rampage tem um sistema de wi-fi dentro da cabine que funciona muito bem mesmo em ambientes mais inóspitos em que o sinal do celular não é tão eficiente. Mas parte da graça em visitar regiões tão diferentes do que estamos acostumados é buscar as rádios locais. Em boa parte do trajeto, optamos por procurar no dial das estações FM alguma estação cujo sinal pudesse ser captado em meio à cadeia de montanhas. E as descobertas foram surpreendentes. Esqueça o tango, o estilo mais urbano tão associado a Buenos Aires. No noroeste argentino, os gêneros mais populares são o chamamé, estilo folclórico que usa o violino e o acordeão, e o carnavalito, conhecido principalmente no altiplano andino e na região de puna, que surgiu a partir de danças em festas religiosas e usa instrumentos típicos, como as flautas quena e siku e o pequeno charango, da família dos alaúdes.
A trilha sonora fez o tempo passar logo e, em pouco tempo, havíamos chegado no mirante da Garganta do Diabo. Parte da Reserva Natural Quebrada de las Conchas, é uma formação geológica impressionante. “Quebrada” é o termo usado para se referir às cadeias de montanhas, e a região chama Las Conchas em referência ao Rio de las Conchas que passa por ali. É uma parada movimentada, com turistas se aglomerando na entrada da garganta em busca do ângulo ideal para um selfie. Na entrada da fenda, alguns vendedores oferecem alimentos e peças de artesanato.
De volta ao volante da Rampage, nosso próximo destino, o último da viagem, era a cidade de Cafayate. No caminho, há outros mirantes dignos de nota, como El Anfiteatro, outra formação rochosa que cria um interessante efeito acústico, e Tres Cruces, com vista panorâmica do vale do Rio das Conchas, que estava bem pouco caudaloso na época de nossa visita. O trecho final é tranquilo, o que reforça a sensação de conforto da cabine da Rampage. Mesmo quando o percurso é menos exigente, a sensação de guiar a caminhonete é boa. Quem vai na primeira fileira viaja sem nenhum perrengue. A segunda fileira é mais apertada, especialmente para adultos. A caçamba, com capacidade de 980 litros, pode levar até 750 kg nas versões à gasolina ou 1.015 kg nas versões a diesel. Ela não vem com capota marítima de série, portanto é necessário pensar nisso na hora de viajar. Por estarmos em dois na cabine, levamos nossas malas no banco de trás, sem problemas.
Check-in feito no Grace Cafayate, um dos hotéis mais luxuosos da região, localizado em meio a vinhedos e com cabanas individuais para os hóspedes, fomos explorar a charmosa cidade. Depois de Mendoza, Cafayate tem atraído os enófilos em busca de bons rótulos. Além da altitude, com vinhedos localizados a mais de 2.000 metros, os efeitos da radiação solar são intensos, e isso se reflete no caráter das uvas. São vinhos suculentos e generosos, com muita fruta. Lá são feitos alguns dos melhores brancos produzidos com a uva Torrontés. Entre os tintos, além da uva Malbec, ícone da Argentina, e da Cabernet Sauvignon, há uma variedade de rótulos elaborados com a Tannat, muito plantada no Uruguai, e com a Criolla, variedade tradicional trazida pelos espanhóis há centenas de anos que vem sendo redescoberta pelos enólogos.
Boa parte da atividade da cidade é voltada para a enogastronomia. Há visitas a vinícolas e muitas adegas com rótulos locais. No centro urbano, uma das melhores pedidas é circular pela praça, onde fica a bela Catedral Nuestra Señora del Rosario de Cafayate, visitar as feiras de artesanato, e depois jantar no Bad Brothers, vinícola local que oferece uma “experiência enológica”. Além de servir pratos típicos e carnes preparadas na parilla, acompanhadas de legumes e batatas variadas, todas as etapas são acompanhadas por vinhos próprios. É uma chance de entender o apelo dos rótulos de Cafayate.
No dia seguinte, voltamos ao volante da Rampage uma última vez como parte da Ram Expedition. Seguimos até o aeroporto de Salta para a longa viagem até São Paulo, feita em duas etapas, com parada em Buenos Aires. O saldo final da expedição é extremamente positivo. Serviu para mostrar que o norte da Argentina tem muito a oferecer. E deixou a vontade de retornar o quanto antes.
Esta é a segunda parte do relato sobre a Ram Expedition na Argentina. Leia a primeira parte aqui.