A experiência na estrada com o maior ícone esportivo alemão
Produzido de forma ininterrupta há 60 anos, o Porsche 911 é um carro de alto desempenho que brilha nas rodovias, mas enfrenta perrengue na cidade
Entre os grandes carros esportivos, há um punhado de nomes importantes, que têm uma rica história, causaram impacto quando foram lançados e se transformaram em ícones culturais. Ou seja, daqueles que até quem não liga muito para o automobilismo conhece. Nenhum, no entanto, é produzido há tanto tempo, e de forma ininterrupta, quanto o Porsche 911. Em 2023, o modelo completou 60 anos de fabricação contínua. Teve gerações diferentes e é vendido em uma grande variedade de opções, de conversíveis ao modelo Dakar, voltado para o off road. Todas têm charme, elegância e potência de sobra.
Não à toa, ter um desse na garagem é motivo de orgulho. Pelo preço, claro – um 911 Carrera, o mais básico da linha, custa R$ 835 mil, sem nenhum opcional. Mas também pelo design atemporal, que sofreu modificações ao longo das décadas, sem dúvida, mas manteve características próprias, como o desenho coupé, com o para-brisa inclinado, o teto que cai de forma fluida em direção à traseira e as lanternas arredondadas. E pelo prazer de dirigir que ele oferece.
Antes da experiência, um pouco de contexto. Dentro da família 911 há algumas diferenças entre os modelos. Atualmente, a linha está na oitava geração, lançada oficialmente em 2019. O 911 Carreta GTS que testamos é uma versão intermediária, de uso mais variado. Há o já citado Dakar, com vão livre do solo mais alto, pneus de uso misto e reforço na base, para encarar terrenos acidentados em alta velocidade. Há os modelos conversíveis, Cabriolet, ou os Targa, uma espécie de intermediário entre os conversíveis e os coupés. Há ainda o GT3, versão voltada para as pistas, a mais agressiva e esportiva de todas. Tem para todos os gostos.
De volta ao Carrera GTS que testamos, a experiência começa já na hora de entrar no carro, em que é preciso sentar a poucos centímetros do chão – são apenas 132 mm. Basta acionar a ignição, do lado esquerdo do volante, para dar vida ao motor 3.0 biturbo de seis cilindros, com 480 cavalos e 58,1 kgfm de torque, capaz de atingir os 100 km/h em 3,4 segundos. O ronco dos escapamentos é alto e empolgante. Impossível não ficar com vontade de sair por aí. E o 911 Carrera GTS é considerado o mais versátil da linha, capaz de servir a uma família de quatro pessoas. Mas na hora de engatar a ré e sair da garagem, os avisos sonoros começam a apitar alucinadamente. Até a pequena rampa de acesso representa um problema e tirar o carro sem raspar a dianteira ou a traseira requer habilidade e muito cuidado.
E essa é a experiência de dirigir o Porsche 911 em São Paulo: um vai e vem constante entre a absoluta animação e as frustrações que a cidade impõe. Nas abundantes valetas e lombadas é necessário reduzir muito a velocidade e tomar cuidado. Mesmo assim, é quase impossível não dar aquela raspadinha em obstaculos piores. Logo no primeiro passeio, encaramos um trânsito intenso sob chuva pesada na Marginal Pinheiros. A velocidade mais alta alcançada foi de 30 km/h – um décimo dos 311 km/h de velocidade máxima. Em dado momento, olho para o lado e há um Ford Mustang na mesma situação. Carros feitos para o alto desempenho presos no tráfego. É até cômico.
Apesar das limitações, ele é gostoso de dirigir na cidade. No modo de condução normal ele é até comportado, com o acelerador respondendo de forma suave à pressão. Mantendo o pé leve, ele é mais dócil. A direção é naturalmente mais firme, por conta de sua pegada esportiva, e a suspensão faz com que os ocupantes sintam mais as irregularidades do solo. Mas o porta-malas dianteiro de 132 litros até que comporta algumas coisas – serviu para levar compras feitas tranquilamente. E dá, sim, para levar dois adultos atrás. Vão todos um pouco mais apertados, sem dúvida, e o trajeto pode ser desconfortável para quem tiver mais de 1,80m. Mas todos podem curtir o passeio. O interior é luxuoso, com acabamento em camurça e atenção aos detalhes. Embora usá-lo nas atividades do dia a dia não seja uma decisão racional, é possível.
É na estrada, no entanto, que ele realmente brilha. Aproveitamos a oportunidade para fazer um bate e volta até a região de Itu, uma viagem de cerca de 150 quilômetros. E o carro mostrou a que veio. Basta pisar mais forte para que o ronco da aceleração invada a cabine, engolindo a música do som. Mesmo a 120 km/h, no limite da rodovia, seu poder é impressionante. Ultrapassagens são feitas de forma suave, e a sensação de segurança em curvas é enorme. Até o consumo é razoável: quase 9 km por litro. Tem SUVs que consomem bem mais e andam bem menos.
Ele também chama a atenção por onde passa. No trânsito, os outros motoristas dão passagem – talvez por medo de ralar um carro tão caro, ou para ter uma visão melhor de seu design. Nas ruas, muitos viram a cabeça para acompanhar a aceleração. E basta estacioná-lo para ver as pessoas se aproximando para dar uma olhada de perto ou até tirar uma foto. Impossível andar por aí discretamente. E nem é a intenção de quem compra um deles.
Com o 911, o destino é bem menos importante que o trajeto. O barato mesmo é conduzir esse clássico absoluto. A experiência ao volante é extremamente satisfatória, e dá para dirigi-lo por horas curtindo cada momento. Não é à toa que ele é tão desejado há tanto tempo. Pode não ser o carro mais prático do mundo, mas isso é irrelevante. O que vale é diversão da pilotagem.