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Doria e os ovos: onde fomos parar com a estupidez?

"Voltamos ao período em que espetáculos artísticos eram rechaçados com tomates, folhas e comestíveis de outras espécies?"

Por Gabriel Galo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h47 - Publicado em 9 ago 2017, 14h42

Depois do fatídico evento desta segunda (7), quando João Doria foi recebido por uma chuva de ovos na chegada para uma cerimônia de recebimento do título de cidadão de Salvador, surgiram duas vertentes de opinião nas redes sociais: a de que uma ovada foi pouco; e a de que os políticos merecem não só ovos como também – acreditem – fezes.

Onde fomos parar com nossa estupidez? Quanto retrocedemos? Voltamos ao período em que espetáculos artísticos eram rechaçados com tomates, folhas e comestíveis de outras espécies? Voltamos ao tempo em que a única forma de demonstrar insatisfação era fazer-se forte na humilhação alheia?

Há alguns anos me afastei de amigos que achavam bom que atacassem com virulência gente do PT ou de qualquer linha de pensamento diferente. Vejo estas notícias de agora e sinto exatamente o mesmo incômodo.

Não, eu pessoalmente não gosto da gestão de João Doria à frente da maior cidade do Brasil. E entendo que ele é mestre do marketing. Se facilmente ele consegue apoio sem apresentar quase nada, imagine com motivo?

Foi o que fizeram os intolerantes. Criaram uma razão para que a figura de Doria cresça. Ele capitalizou isso muito bem em seu discurso. Lembrou de seu sangue baiano – seu pai nasceu na Bahia –, reiterou querer o bem do Brasil e disse que não vai se intimidar com os ataques de “petistas e comunistas”.

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O efeito é simples: em vez de fazê-lo se afastar da corrida presidencial – e o discurso proferido no plenário da Câmara foi o de um candidato atacado – a ovada dos opositores do prefeito ajuda a criar empatia e faz com que os moderados tendam a se alinhar com ele. Erro estratégico do nível mental de quem acredita que atirar ovos é eficaz.

Doria é um valentão, que faz do poder de sua imagem um meio para intimidar quem o critica. Entendo, no entanto, que devemos sempre procurar estabelecer um diálogo. A militância agressiva não produz qualquer benefício.

É compreensível haver divergências de pensamento, em qualquer esfera. É compreensível não concordar com a homenagem da cidade de Salvador ao paulistano. É compreensível não estar satisfeito com a prefeitura tanto de ACM Neto quanto de João Doria. O que não é compreensível é o ataque com ovos. Há ainda, embutida, uma questão de jurisprudência, de precedente: quer dizer que quem ataca um grupo divergente com ovos ou cassetetes pode ser atacado também?

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Às armas, portanto? Tô fora. Quero poder demonstrar meu pensamento livremente, sem a vigilância autoritária e ditatorial dos intolerantes. Em guerra de grito, no fim, estão todos roucos.

* Texto originalmente publicado por Gabriel Galo, empresário e escritor, no blog Papo de Galo

 

 

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