Vai virar filme a vida de um grande roqueiro que teve uma morte misteriosa
O caso ocorreu em 1980 e ainda há muitas dúvidas a respeito se o episódio fatal esteve relacionado com o consumo de heroína
A parada de sucessos de fake news mórbidas do rock’n’roll é pródiga em casos. Uma legião de lunáticos ainda repercute “avistamentos” de Elvis Presley que, claro, não morreu (para essa turma, evidentemente) — como se sabe, ele apenas fingiu bater as botas em 1977 para escapar da prisão da fama. Lenda urbana quase tão famosa quanto à do Rei do Rock é a relacionada à reposição forçada de Paul McCartney nos Beatles por um sósia, depois que o original teria partido desta para melhor no auge do sucesso do Fab Four. Ele brincou com a história batizando um disco lançado em 1993 de Paul is Live (Paul está vivo).
Mesmo as mortes que realmente aconteceram alimentam teorias conspiratórias. Guitarrista e um dos fundadores dos Rolling Stones, Brian Jones foi encontrado sem vida na piscina de sua casa e até hoje há dúvidas se realmente foi um afogamento acidental. A versão não-oficial defende que ele teria sido assassinado por causa de uma dívida contraída junto ao pedreiro Frank Thorogood. Jones tinha 27 anos e havia sido demitido dos Stones há algumas semanas.
Outra morte que gera dúvidas até hoje é a do cantor Bon Scott, do AC/DC. Um filme em fase de pré-produção de uma companhia australiana de cinema independente, a Halo Films, fará uma versão ficcional da juventude do vocalista que se tornou o protótipo de frontman carismático, machão, desgovernado e beberrão para várias gerações de bandas de rock pesado. Quem fará o papel principal será o ator australiano Lee Tiger Halley, que fez parte do elenco de um sucesso recente da Netflix, a série Garoto Devora Universo.
Nascido na Escócia e criado na Austrália, Bon Scott morreu aos 33 anos dentro de um Renault 5 depois de uma noitada, em 19 de fevereiro de 1980. O amigo que o acompanhava na balada declarou que o abandonou vivo no carro por não conseguir acordá-lo — de tão bêbado que ele estava. O King’s College Hospital registrou o caso como “intoxicação aguda por álcool”, mas há muitas evidências de que o consumo de heroína associado à bebida naquele dia pode ter sido a combinação responsável pelo resultado fatal. Para evitar problemas policiais, a presença de heroína na cena teria sido escondida por amigos e pelo staff do AC/DC.
Foi com Bon Scott à frente que o AC/DC alcançou fama mundial e a morte dele ocorreu logo depois do disco de maior sucesso da banda até então, Highway to Hell. Quando entrou para o grupo, ele abandonou o estilo hippie e encarnou o clássico vocalista roqueiro, com jaqueta jeans aberta sobre o peito nu e tatuagens à mostra. Era um figurino que se encaixava perfeitamente ao personagem. O lema de Bon era beber mais que todos, brigar mais que todos e transar com qualquer uma. Passou parte da adolescência num reformatório e usava na boca uma prótese depois de ter perdido parte dos dentes num acidente de moto. Confira o vocalista em ação com a banda em um vídeo promocional dos anos 70:
O perfil e o talento dele para o rock pesado ajudaram a banda a deixar de tocar em pequenos pubs para começar a lotar estádios. Tão diretas e rústicas quanto o som da banda, as letras do AC/DC, sob a responsabilidade de Bon, eram cheias de “poesia” inspirada nas experiências pessoais dele. She’s got balls (ela tem colhões), da primeira fase do grupo, era uma homenagem a uma ex-namorada. The Jack, gíria australiana para doença venérea, fazia referência à animada e irresponsável vida dos roqueiros com as groupies. A personagem de outro sucesso, Whole Lotta Rosie (Um bocado de Rosie), é uma garota com mais de 100 quilos, não exatamente bonita, mas que dá tudo de si para transar a noite toda. Se for levado a sério hoje esse tipo de “lirismo”, o AC/DC corre o risco de acabar no paredão de fuzilamento das patrulhas politicamente corretas.
Por falar na banda, ela seguiu em frente sem Bon Scott. Com Brian Johnson no posto de vocalista, continuou fazendo grande sucesso. Perdeu no meio do caminho outro de seus membros originais, o guitarrista e líder Malcolm Young, que morreu em 2017, depois de sofrer nos últimos tempos com demência. O último disco de inéditas do grupo foi lançado em 2020 e está prevista para 2025 uma turnê pela América do Norte.