Os segredos de bastidores que levam pérolas da MPB às paradas do TikTok
Para além de lançamentos contemporâneos, usuários da plataforma têm resgatado sucessos de Tim Maia, Ney Matogrosso e Vanessa da Mata

Para além dos típicos lançamentos de popstars colossais e das dancinhas fabricadas que fizeram a fama da rede TikTok, a plataforma tem se tornado espaço polifônico para fãs de música — e grande amplificadora da produção brasileira, na qual um hit de 20 anos atrás e a safra atual de pop, funk e sertanejo podem coexistir nas mesmas paradas. Só em maio de 2025, por exemplo, mais de 100 000 publicações foram sonorizadas por Amado, faixa que Vanessa da Mata primeiro divulgou em 2007. Menina Veneno, de Ritchie, também voltou a mobilizar os jovens quarenta anos após o lançamento. A faixa foi declarada um dos “hits do verão” pela rede, assim como Aliança, dos Tribalistas, de oito anos atrás. Para conquistar o carinho do público por lá, contudo, alguns macetes vêm a calhar — de remixes a desafios. Em entrevista a VEJA, a líder de relacionamento entre o TikTok, artistas e gravadoras, Carol Moreira, detalha os bastidores da operação:
Uma vez que os artistas e gravadoras percebem a movimentação em torno de um lançamento antigo, é possível impulsioná-lo artificialmente? Quando uma música antiga começa a ganhar tração no TikTok, normalmente é porque algum criador ou comunidade encontrou uma forma criativa de usá-la em um contexto atual, seja em trends, memes ou narrativas visuais. Vanessa da Mata é um exemplo que bombou recentemente com o hit Amado, se conectando a uma nova base de fãs, mas também já vimos com faixas como Acende o Farol, de Tim Maia, que ultrapassa a marca de 177 mil publicações com seu áudio na plataforma, e Poema, de Ney Matogrosso, que já soma mais de 82 mil. Esse ciclo de descoberta, redescoberta e conexão é o que mantém a MPB viva e pulsante por aqui. O papel das gravadoras, quando percebem esse movimento, é aproveitar o momento para criar conteúdo próprio, engajar com criadores ou ampliar a divulgação em outros canais, mas o alcance inicial no TikTok vem da própria comunidade. Não existe um incentivo financeiro que aumente o alcance de um áudio, o que faz uma faixa se destacar é a relevância e a conexão genuína com a comunidade.
@minha.music4br 🎧| Vanessa da Mata – Amado #musicas #status #vanessadamata #amado ♬ som original – Minha Musica®
É possível transformar uma música em tendência sem o ponto de partida espontâneo? O ponto de partida pode ser orgânico ou planejado. Muitas músicas viram tendência de forma espontânea, mas também há casos em que gravadoras e artistas criam estratégias específicas para o TikTok, como desafios, colaborações com criadores e conteúdos pensados para a linguagem da plataforma. Um exemplo recente é o Djavan, que lançou no TikTok um desafio inédito convidando fãs a criarem versões de sua nova faixa Melodia, envolvendo a comunidade no processo criativo do seu novo álbum. O que é importante entender é que, mesmo quando há um planejamento, o sucesso depende de como a comunidade da plataforma abraça aquele som. Não se trata apenas de assistir a um vídeo ou ouvir uma música: os fãs recriam, reinterpretam e adaptam o conteúdo ao seu próprio estilo, multiplicando as formas de uso daquele som. Essa participação ativa da comunidade é o que transforma uma faixa em tendência, porque cada vídeo adiciona um significado ou contexto diferente, mantendo o interesse vivo e ampliando o alcance.
O que faz uma faixa ser pegajosa na plataforma? Trechos com ritmo marcante, refrões memoráveis, frases que geram identificação ou que podem ser reinterpretadas de forma criativa têm mais chances de se destacar. Muitas vezes, o que “gruda” é uma combinação de melodia e contexto: um som que se conecta com um sentimento coletivo, torna-se inesquecível. Um exemplo é Beijos, Blues e Poesia, forró da banda Desejo de Menina, lançado em 2015, cujo refrão voltou a ganhar força no TikTok, no ano passado, graças a vídeos engraçados que exploravam a letra e melodia de forma bem-humorada, criando uma nova camada de significado para a música. Na MPB, esse efeito também acontece por meio da reinvenção de clássicos, seja em remixes ou novas interpretações que recuperam o som para o contexto atual. Um caso recente é o MTG Quem Não Quer Sou Eu, do DJ Topo com Seu Jorge, que conquistou um público mais jovem. Essas releituras mostram como a plataforma não apenas resgata obras consagradas, mas também cria novas formas de conexão entre gerações.
@djtopooficial #mtg #mtgtiktok #funk #dj #viral #brasil ♬ MTG Quem Não Quer Sou Eu – DJ TOPO
Como é a comunicação entre TikTok e gravadoras? A comunicação é constante e colaborativa. Trabalhamos lado a lado com gravadoras e artistas para compartilhar insights sobre tendências, comportamento da comunidade e formatos que estão funcionando bem. Um dos recursos que facilita esse processo é o TikTok Para Artistas, uma ferramenta que reúne dados, análises e dicas práticas para ajudar músicos e suas equipes a entenderem melhor o que está engajando na plataforma e como adaptar seus conteúdos. Não é sobre dizer “faça isso ou aquilo”, mas sobre oferecer informações que permitam que cada parceiro crie conteúdo autêntico e relevante para seu público. Essas estratégias se conectam com outros recursos da plataforma, como o “Adicionar a App de Música”, que prolonga o ciclo de engajamento ao permitir que o usuário salve a faixa que descobriu na plataforma em serviços de streaming e continue a interação e o engajamento fora do TikTok. Dessa forma, o trabalho conjunto com artistas e gravadoras não se limita ao momento da viralização: ele cria oportunidades para que a música circule em diferentes ambientes, fortaleça a relação com os fãs e amplia seu alcance de forma orgânica e duradoura.
Comparado ao compartilhamento de músicas estrangeiras por contas brasileiras no TikTok, qual é o espaço da cena nacional? No Brasil, a música brasileira lidera no TikTok, e isso fica evidente ao observar a lista de músicas virais da plataforma, que é frequentemente dominada por faixas nacionais de diferentes gêneros. Seja MPB, sertanejo, trap, funk, pagode, gospel e forró, os mais diversos gêneros têm comunidades extremamente engajadas. É comum vermos nomes nacionais dividindo espaço com grandes hits internacionais, impulsionando a descoberta e a popularidade de músicas e artistas, tanto estabelecidos quanto emergentes. Um exemplo recente é o refrão de Vaitimbora, na voz de Mari Froes, que ganhou nova vida ao ser misturado com o eletro do Trinix, criando uma fusão inesperada que conquistou mais de 100 mil publicações na plataforma, virando tendência em vídeos de viagem. Esse tipo de movimento mostra que o TikTok não só conecta o Brasil ao mundo, mas também exporta nossa música para novas audiências. E essa vocação para descoberta é comprovada: segundo o Relatório de Impacto da Música 2024, usuários da plataforma têm 28% mais chances de descobrir novas músicas na plataforma do que a média global.
Qual o equilíbrio entre autoimagem e interesse genuíno pela música quando criadores montam vídeos seus ao som de uma faixa viral? O TikTok é também um espaço de expressão pessoal, onde é natural que as pessoas queiram participar da narrativa. Ao se filmar cantando, o usuário não apenas registra um momento, mas cria conteúdo que dialoga com a linguagem da plataforma, se conectando com outras pessoas que compartilham dos mesmos gostos musicais. Ao mesmo tempo, esse comportamento reflete um interesse genuíno pela música. Ao participar ativamente de uma trend ou performance, o usuário ajuda a espalhar aquela faixa, amplia seu alcance e, muitas vezes, desperta curiosidade para que outros conheçam mais sobre o artista ou o gênero. Essa exposição inicial, pode despertar a curiosidade para explorar mais sobre o artista, por exemplo. É assim que o TikTok se torna um catalisador de descobertas, capaz de transformar uma música em um fenômeno cultural.
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