O maior trabalho de Maurício Kubrusly antes do sucesso na Rede Globo
Jornalista que luta contra doença degenerativa será tema de documentário que estreia na quarta, 4, no Globoplay
Está prevista para quarta, 4, a estreia do documentário sobre a carreira e a comovente luta de Maurício Kubrusly contra a demência frontotemporal, uma doença degenerativa que afeta linguagem, memória e comportamento. “Ele é outra pessoa”, contou Beatriz Goulart, mulher do jornalista, em reportagem na última edição de VEJA. O casal está junto há duas décadas e vive hoje na Bahia. Batizado de Kubrusly — Mistério Sempre Há de Pintar por Aí, em referência a uma das músicas mais conhecidas de Gilberto Gil (Esotérico), o programa é uma produção da Globoplay e vai relembrar a rotina atual dele e a carreira da imprensa do carioca que fez sua trajetória profissional em São Paulo. Kubrusly tornou-se nacionalmente conhecido quando ingressou no Fantástico, protagonizando o quadro Me Leva Brasil. Foram cerca de 300 reportagens abordando personagens, hábitos e curiosidades dos rincões do país.
Antes do sucesso na Globo, ele já havia feito um grande e valioso trabalho na imprensa, mas que ficou conhecido apenas no meio musical. Ele foi o criador da Somtrês, revista mensal que circulou entre o final dos anos 70 e a maior parte da década de 80. Boa parte do conteúdo consistia na avaliação de novos equipamentos de áudio lançados no Brasil. Rapidamente, virou a bíblia de referência para audiófilos, pois não havia nada por aqui com a mesma consistência e profundidade técnica. A Somtrês avaliava os equipamentos de som com o mesmo rigor que a revista Quatro Rodas testa carros.
Apear da relevância dessa parte técnica, o que causou maior impacto no meio musical foi a parte da revista dedicada à cobertura dos lançamentos de artistas, com reportagens e críticas. Um dos que faziam parte do time de free-lancers era Paulo Ricardo, que assinava como Paulo Ricardo Medeiros uma coluna sobre novidades da cena de Londres. O espaço terminou quando Paulo Ricardo decidiu largar o jornalismo para montar o RPM. Outros nomes conhecidos, como Lulu Santos, também faziam parte do time de colaboradores, assinando resenhas de álbuns recém-lançados.
Nas reportagens, a Somtrês registrou os bastidores da primeira gravação do Barão Vermelho, na SomLivre, no Rio. A matéria era assinada pelo folclórico jornalista Ezequiel Neves, que era também o produtor do Barão. No texto, o autor narrava cenas da insegurança dos jovens músicos diante da pressão do estúdio. Sem qualquer distanciamento crítico, Ezequiel, também conhecido como Zeca Jagger por conta de sua paixão pelos Rolling Stones, tratava a banda carioca como uma das mais promissoras de sua geração — o que acabou se revelando profético, embora o estouro dela só tenha ocorrido bem depois daquele álbum de estreia.
Outro dos feitos de Kubrusly à frente da Somtrês foi o de abrir um generoso e merecido espaço nas páginas da revista para a promissora cena independente do início dos anos 80, com artistas como Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Premeditando Breque, entre outros. A Somtrês foi uma das primeiras publicações a levar a sério a chamada vanguarda paulistana e tratá-la como um movimento musical.