O ex de Taylor Swift que faz sucesso posando de decadente
O roqueiro inglês Matty Healy ganhou fama após um namorico fugaz com a cantora — mas conquistou luz própria no TikTok
Até 2013, a banda inglesa The 1975 era só mais uma entre tantas que se valiam de guitarras e do visual retrô para emular o rock da década de 80. Naquele ano, contudo, o grupo virou febre numa rede social — em boa dose, graças à figura peculiar de seu vocalista. A bem da verdade, Matty Healy, 34, chama atenção menos pelos dotes vocais do que por sua persona: ele encarna o clássico rock star decadente, de aparência desleixada e movido por excessos. Em 2014, meses após a banda chamar atenção, a superestrela Taylor Swift apareceu com uma camiseta do The 1975 — e o interesse pelo grupo se ampliou.
Healy redobrou desde então a performance errática: nos shows, desabotoa sua camisa e afrouxa a gravata, ajoelha cambaleante e, num transe embriagado, come carne crua. Tropeçando no palco, convoca fãs — homens ou mulheres — para beijos na boca, gagueja falas ofensivas e nunca larga a garrafa de vinho ou o frasco de uísque. Em maio deste ano, a estrela do momento do pop deu o empurrão que faltava: ao viver um namorico de apenas um mês com Healy, Taylor Swift alçou o rapaz à fama global.
Filho de atores, Healy nasceu em Londres e utiliza a banda para expor suas angústias, dos problemas com o vício em heroína — de que fala em It’s Not Living (If It’s Not With You) — ao aquecimento global — foco da canção de protesto que entoa ao lado da ativista Greta Thunberg em Notes On A Conditional Form. Mas a peça de resistência de seu trabalho é, naturalmente, a mise en scène de doidão nos palcos. O público brasileiro conheceu seu estilo num show da turnê Still… At Their Very Best, que passou pelo país em março passado e retornará em janeiro de 2024.
Being Funny in a Foreign Language
As micagens histriônicas de Healy nas apresentações ao vivo viralizaram como vídeos “engraçadinhos” no Instagram e TikTok. E isso ressalta a ironia paradoxal do personagem. Ao longo da história, o rock foi pródigo em lendas orgulhosamente desregradas, como o folclórico stone Keith Richards (vivo até hoje, a despeito de tudo), algumas que corriam demasiado risco de forma insana no palco, a exemplo do Iggy Pop de seus anos masoquistas, até os casos tristemente mais comuns em que aquilo que parecia só comportamento subversivo se revelou um problema de saúde com consequências trágicas — de Kurt Cobain a Amy Winehouse, a lista aí é longa. Vendo Healy ao vivo, é difícil dizer até onde vão os excessos de verdade — mas é inegável que há um tanto de encenação no negócio. Eis que até os comportamentos incendiários do rock viraram isso: um produto embalado para “bombar” no TikTok.
Publicado em VEJA de 19 de julho de 2023, edição nº 2850
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