O destino coerente e inusitado para as cinzas de um roqueiro da pesada
Homenagem póstuma ocorrerá em Londres, no dia 18 de dezembro
Nascido na região da West Midlands, na Inglaterra, Lemmy Kilmister tornou-se uma lenda da rock por uma série de razões. No quesito duro na queda, revelou-se acima da média desde o início. Como roadie de Jimi Hendrix, contava que sua principal função era arrumar drogas para o guitarrista. A primeira banda de sucesso de Lemmy foi o Hawkwind, mas a parceria terminou mal. O abuso de substâncias ilícitas pareceu insuportável até para os colegas de banda, que estavam longe de serem santos. Acabou expulso e, tempos depois, formou seu próprio grupo, o Motorhead. À frente do power trio, empunhando o baixo Rickenbacker distorcido e grunhindo com sua voz rouca letras sobre sexo, jogatina e carros, entre outros temas, elevou a alguns decibéis o padrão vigente do heavy metal. O recado era dado sempre de forma seca e direta, sem firulas instrumentais. Assim, tornou-se referência para várias gerações posteriores. Do Metallica aos punks, todos passaram a venerá-lo.
Fora dos palcos, ele também chamava atenção, nem sempre por motivos muito positivos. Com um rosto emoldurado por um cavanhaque generoso e uma enorme verruga na bochecha, Lemmy não dava a mínima quando aparecia na lista dos homens mais feios da história do rock, ao lado de gente como Roy Orbinson e Geddy Lee, do Rush. Muito pelo contrário, orgulhava-se de ser admirado como um anti-modelo, um manequim às avessas, com um toque pós-apocalíptico de cowboy — o chapéu preto, estilo western, aliás, era parte obrigatória do look, assim como as botas pesadas de couro. Sem se importar com a turma do politicamente correto, adorava exibir suas coleções de facas e de roupas e objetos nazistas. Diante do horror de muitos para esse hábito, dizia candidamente que apenas fazia isso porque esses itens eram muito mais estilosos do que os usados pelas tropas aliadas durante a II Guerra.
Roqueiros mais jovens que tentaram acompanhá-lo nas noitadas jamais conseguiram superar o mestre, imbatível no apetite por álcool. Jamais escondeu também o hábito de usar drogas, fazendo apenas a ressalva que era contra heroína. Quando não estava tocando em turnês, passava boa parte do tempo em uma máquina de caça-níquel com um drink de Jake-Cola na mão no seu bar predileto, o Rainbow, na Sunset Boulevard, em Los Angeles, onde morava. Outro de seus vícios eram os clubes de strip-tease. Em Londres, vivia no Stringfellows, local que receberá uma nova homenagem ao músico, morto há nove anos em decorrência de um câncer de próstata. No dia 18 de dezembro, uma cerimônia conduzida por Phil Campbell, ex-guitarrista do Motorhead, levará para lá as cinzas de Lemmy, que ficarão expostas dentro de uma urna no formato de seu famoso chapéu de cowboy.
Não poderia haver homenagem mais coerente para esse lendário roqueiro da pesada.