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O Som e a Fúria

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
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“Ficaram chateados com minha música”, diz Hozier, atração do Lolla 2024

O cantor irlandês falou a VEJA sobre a polêmica religiosa envolvendo o hit 'Take Me To Church' e explicou por que vai do sagrado ao profano em suas letras

Por Mariana Carneiro
Atualizado em 20 ago 2024, 16h34 - Publicado em 21 mar 2024, 14h42

Filho de um cantor de blues, Andrew Hozier-Byrne, o irlandês Hozier, se interessou pela arte ainda na infância. Chegou a iniciar uma licenciatura em música no Trinity College, em Dublin, mas largou a faculdade para tentar a sorte gravando suas próprias faixas no sótão da casa dos pais. Deu certo. Ele despontou em 2014 com Take Me To Church, canção ácida que traça comparativos entre o desejo carnal e a devoção religiosa. O videoclipe viral que acompanha a faixa retrata um casal gay violentamente atacado por sua orientação sexual. São cenas fortes, mas que refletem bem a frustração do cantor com o silêncio da igreja católica frente à homofobia. 

De mãos dadas com a religião, a literatura também é tema frequente no trabalho de Hozier. Seu mais novo álbum, Unreal Unearth (2023), baseia-se no mapa do submundo imaginado por Dante Alighieri na Divina Comédia. Cada música se relaciona tematicamente com um dos nove círculos do Inferno — áreas com diferentes níveis de punição para os não batizados e aqueles que cometeram pecados de luxúria, gula, ganância, ira, heresia, violência, fraude e traição, conforme o texto do poeta italiano. O profano serve de gancho para o cantor explorar temas relevantes e atuais, como o apagamento de línguas indígenas, a violência colonial e a motivação capitalista por trás das guerras.

O artista, que se apresenta pela primeira vez no Brasil no sábado, 22, no festival Lollapalooza, no autódromo de Interlagos, em São Paulo, conversou com a reportagem de VEJA sobre o sucesso de Take Me To Church, o idioma gaélico e novo álbum, inspirado em no poema Inferno, de Dante Alighieri. Confira a seguir os principais trechos:

Você vem ao Brasil pela primeira vez neste mês. O que planejou para sua apresentação no Lollapalooza? Apresentaremos um mix de músicas de todos os álbuns. Estou em turnê com uma banda de oito integrantes e fazemos tudo ao vivo, então é um som bem grande.

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Take Me To Church completou dez anos de lançamento e alcançou 2 bilhões de streams no Spotify. Você achou que essa música teria um impacto tão duradouro? Não achei, não. Enquanto eu escrevia a música. Então me sinto super encorajado pelo seu impacto. Fico contente que uma faixa com uma mensagem social e política como essa possa inspirar tantas pessoas, e honrado que o público tenha acolhido essa música em seus corações e mentes. 

A música tece críticas à Igreja Católica e foi repreendida por grupos religiosos, mas também é comumente confundida com uma canção gospel. Como você lida com esses diferentes tipos de respostas à canção? Tento me remover da cena e deixar a música ter várias interpretações. Tenho minha própria compreensão desse trabalho, mas também sei que a maneira como o público vai compreendê-lo foge do meu controle. Estou em paz com isso. Algumas pessoas entendem minha música como uma canção espiritual, e de certa forma, ela até é. Do meu ponto de vista, Take Me To Church narra uma maneira muito diferente de se envolver com a espiritualidade. E sim, algumas pessoas ficaram chateadas com a música. Tenho certeza que isso acontece com muitas obras. Enquanto meu trabalho não estiver sendo usado para fins prejudiciais, por mim está tudo bem. 

Unreal Unearth é baseado no poema Inferno, de Dante Alighieri. Foi desafiador se manter nesse conceito? Na verdade, não. Não depois que descobri como abordar os temas do poema nas canções. Inicialmente, as músicas traziam referências mais diretas ao texto, e eu achei que seria limitante criar um álbum popular contemporâneo dessa forma. Não queria que [a narrativa do álbum] fosse como a de um musical da Broadway. Então decidi trabalhar com o conceito dos nove círculos do inferno de forma mais ampla, e encontrei uma tela muito, muito maior para pintar. Tive muito espaço para brincar com as ideias.

Você consideraria escrever músicas sobre Purgatório e Paraíso, os outros dois poemas da Divina Comédia? Possivelmente. Não sei se dedicaria um álbum inteiro a eles, mas consigo me ver fazendo referência às outras partes dessa jornada.

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Quais outras obras literárias influenciam seu trabalho? Sempre há trechos de livros aqui e ali que encontram seu caminho até as minhas músicas. É mais poesia, geralmente. Um exemplo é Metamorfoses, de Ovídio, um antigo poeta romano. Um capítulo dessa obra chamado On The Flood inspirou minha canção The Flood. Os textos do James Joyce também influenciaram a escrita do meu primeiro disco. Às vezes as referências são muito, muito indiretas, mas a literatura desperta ideias em mim. 

Em Butchered Tongue, você se posiciona contra o apagamento de línguas nativas e a violência que esse ato carrega. Você também canta em gaélico irlandês na faixa De Selby (Part 1). Quão importante é para você destacar a língua oficial do seu país? Como irlandês, conheço e compreendo a história do meu país, por mais dolorosa que ela seja. A Irlanda nunca se recuperou do processo de colonização [britânica] que viveu. Perdemos cerca de 50% da nossa população em um período de 100 anos, e nossa língua foi dizimada junto com o povo. Isso é algo que vive dentro de mim e influencia a maneira como vejo o mundo. Penso nisso quando viajo [ao redor do mundo] para cidades que têm nomes indígenas. Então, para mim, Butchered Tongue foi uma forma de reconhecer essa realidade violenta e oferecer espaço de alguma forma para essas línguas nativas através da arte.

Unreal Unearth é seu primeiro álbum feito em colaboração com outros compositores. Como foi? O processo de produção do disco foi muito diferente. Quando trabalho com outros músicos, geralmente improvisamos melodias em sessões de jam. Apenas nos reunimos, fazemos barulho e vemos no que dá. Eu não fazia isso há muito tempo, e achei a experiência bem agradável. Para mim, compor foi durante muito tempo uma experiência solitária e isolada. Escrever a letra das canções ainda é algo que acho importante fazer sozinho, mas criar paisagens sonoras e brincar com os elementos da melodia em grupo foi super divertido.

Como é o processo de decidir o que entra e o que não entra em um disco? Um dos momentos mais difíceis de fazer um álbum é abandonar músicas que você ama ou já está apegado. Há uma certa ganância em querer deixar as pessoas ouvirem tudo. Às vezes você só quer jogar para o mundo tudo o que gravou e deixar que o público encontre seu próprio caminho com as faixas, mas, ao mesmo tempo, quer que seu disco seja o melhor possível. Isso exige foco, concisão.  

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