“Emprestei minhas rugas para interpretar o Adoniran”, diz Paulo Miklos
Roqueiro dos Titãs dá vida ao lendário sambista paulista em "Saudosa Maloca", filme que romantiza os personagens de suas músicas famosas
A história do paulista João Rubinato se confunde com o progresso de São Paulo. Ao criar o matuto e esperto personagem de Adoniran Barbosa nas rádios da capital, Rubinato deu vida a um tipo raro, de vocabulário próprio e visão aguçada das agruras da metrópole. Pois é esse tipo que surge em Saudosa Maloca, filme que entra em cartaz na próxima quinta-feira, 21, estrelado pelo roqueiro dos Titãs, Paulo Miklos, no papel título.
Não se trata, no entanto, de uma cinebiografia de Rubinato e, sim, de uma ficção criada pelo diretor Pedro Serrano onde os personagens criados pelo sambista: Iracema, Mato Grosso, Joca e o próprio Adoniran, convivem juntos enfrentando inúmeros perrengues para sobreviver em São Paulo. A ideia foi facilitada, já que as canções de Adoniran versam de tal forma como se fossem histórias com começo, meio e fim. Estão lá o acidente de Iracema, a destruição da maloca de Mato Grosso e Joca, o samba do Arnesto e assim por diante. Há, no entanto, poucos momentos musicais. As referências às canções são feitas nos próprios diálogos dos personagens.
Para interpretar Adoniran, Paulo Miklos precisou se despir de seu visual roqueiro para assumir a gravatinha borboleta e o chapéu de sambista. Em turnê com os Titãs, o músico também precisou conciliar os shows com as gravações. O artista, no entanto, tirou de letra a missão, já que nos últimos anos tem investido cada vez mais no trabalho como ator. Miklos conversou com a reportagem de VEJA sobre o filme. Confira a seguir os melhores momentos.
Foi difícil se despir da jaqueta de couro de roqueiro para assumir o chapéu e a gravata borboleta do sambista? Na verdade, o Adoniran Barbosa é muito rock ‘n ‘roll, devido aos temas de suas músicas, as tragédias, a crítica social e a crônica muito afiada sobre São Paulo e o povo brasileiro. Ele é um personagem muito rico e, ao mesmo tempo, marcante na memória afetiva das pessoas. Fiquei muito a vontade para criar o meu Adoniran, assim como foram criados o Joca e o Mato Grosso. Eles saíram da música para ganhar vida. Tomei cuidado para não fazer um Adoniran caricatural, sem imitar trejeitos ou a voz. Fiz o meu Adoniran. Também aprendemos com o Pedro Serrano, nosso diretor, um glossário de “adonirês”, para falar com improviso.
Você usou objetos originais de Adoniran, como o chapéu, a gravatinha borboleta e os óculos. Como essa indumentária auxiliou na composição do personagem? Usamos com o maior cuidado. Fiquei com um medo grande porque são itens de museu. Não precisaria necessariamente de toda a indumentária para ser o Adoniran. Tem momentos em que ele não está caracterizado. Emprestei também as minhas rugas para fazer o Adoniran mais velho.
Assim como suas músicas nos Titãs, as de Adoniran Barbosa também versavam sobre São Paulo. Essa proximidade o ajudou a compor esse personagem? Sem dúvida. São Paulo é uma personagem do filme. Ela é personagem das canções do Adoniran. Essa gentrificação que a gente vive cada vez mais veloz, cada vez mais transformadora é uma coisa que todo paulistano sabe muito bem do que se trata. É esse tal de “pogrécio” desenfreado, para usar as palavras de Adoniran. A casa onde cresci não existe mais. Agora tem um edifício lá. Desde sempre, o Adoniran fez essa crítica social afiada. Acho que é uma coisa que tem também nas canções dos Titãs.
Você fez uma guinada da carreira de músico para ator. Como é transitar entre esses dois universos: o da música e o do cinema e TV? Fiquei muito a vontade. Eu já havia atuado na série Manhãs de Setembro, por exemplo. No filme, fiz uma parceria muito gostosa com Gero Camilo e o Gustavo Machado. Transito com muita alegria entre todas as áreas, fazendo filmes, séries e curtas. O processo criativo é algo que me interessa demais e aprendo muito com eles.
Os Titãs vão se apresentar no Lollapalooza no final de semana da estreia do filme. Algumas cenas do filme foram gravadas também enquanto você estava em turnê. Como conciliou seu tempo? As coisas se cruzam. Acho que assim é mais gostoso e divertido. Para mim, o momento de maior realização artística é quando as duas coisas se cruzam dessa forma.
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