D. Pedro I, o compositor musical, renasce nos 200 anos da Independência
Além do 'Hino da Independência', ele escreveu obras religiosas; agora, a Filarmônica de Minas Gerais lança um álbum dedicado às obras do imperador

No Bicentenário da Independência do Brasil, muito se falou, analisou e escreveu sobre D. Pedro I, desde as inúmeras conquistas amorosas até as conquistas militares. Mas um aspecto pouco conhecido do monarca ainda hoje é parcamente estudado: sua produção musical. Em seus 35 anos de vida, Pedro de Alcântara compôs inúmeras peças religiosas e canções patrióticas, inclusive o Hino da Independência do Brasil. Como parte das comemorações dos 200 anos da Independência, a Filarmônica de Minas Gerais se debruçou sobre a obra de D. Pedro I e gravou o álbum A Música do Brasil, integralmente dedicado às composições do primeiro imperador do país, lançado em parceria com o Itamaraty e o selo internacional Naxos.
Sob a regência do maestro Fabio Mechetti, que também é diretor artístico da Filarmônica, foram gravadas quatro peças. As duas primeiras são a Abertura para a Independência do Brasil e Hino da Independência. As duas últimas são religiosas: Credo in unun Deum e Te Deum Laudamus. “Embora ele tenha entrado para a história como o Rei Soldado, a formação da aristocracia daquela época incluía estudos musicais e filosóficos. D. Pedro I tocava vários instrumentos e teve bons professores. Sua obra não é a de um grande gênio musical, mas ela é competente e mostra que ele tinha conhecimentos bastante interessantes”, explicou Mechetti a VEJA. Nessa gravação foi registrado seu Credo e Te Deum, com a participação de um quarteto de solistas vocais de destaque no cenário nacional – a soprano Carla Cottini, a meio-soprano Luisa Francesconi, o tenor Cleyton Pulzi e o baixo-barítono Licio Bruno – e a colaboração do coral Concentus Musicum de Belo Horizonte (grupo dirigido por Iara Fricke Matte).

Além do lançamento do álbum, a Filarmônica de Minas Gerais fará apresentações nos dias 1º e 2 de setembro, na Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte, sede da orquestra. Em seguida, viaja para Portugal para uma série de concertos em celebração da Independência do Brasil, com quatro apresentações, sendo três nas principais salas de concerto das cidades do Porto (Casa da Música, 6/9), Lisboa, no bairro histórico de Belém (Centro Cultural de Belém, 8/9) e Coimbra (Convento São Francisco, 9/9). No dia 7 de setembro, a apresentação será ao ar livre, no Jardim da Torre de Belém, dentro da programação do festival “Lisboa na Rua”, organizado pela prefeitura de Lisboa.
“É difícil comparar D. Pedro I com um profissional. Ele soa como Mozart e Rossini, mas não está no nível profissional. É louvável que um líder político como ele tenha tido o tempo e a capacidade para escrever música. Suas obras mostram competência e, acima de tudo, vontade de se expressar pela música”, completa o maestro. Para ele, as composições de D. Pedro I refletem o fim do rococó e o começo do classicismo, que já marcava a música escrita nessa época. Em suas composições, o imperador utilizou todos os instrumentos de orquestra clássica daquele período, como flauta, oboé, clarinete, fagote e trompete. “Sua produção teve caráter mais celebratório que político”, conclui.