Conheça a eminência parda da Suécia por trás dos grandes hits do pop
Ao misturar heavy metal com o pop grudento do Abba, Max Martin ajudou a criar sucessos de astros que vão de Britney Spears a Måneskin
No fim de agosto, uma polêmica tola tomou conta das redes sociais. A apresentação da banda italiana Måneskin na premiação VMA, da MTV, teria sido “censurada” pelo canal devido aos trajes sumários que os integrantes usaram no palco. A história ajudou a banda a chamar atenção, mas serviu também para despertar o interesse pela nova música que eles tocaram: Supermodel. A divertida canção, de versos simples e diretos, fala sobre a anódina vida de uma modelo, e destoa bastante do rock spaghetti dos italianos. Assim como o ousado figurino que eles usaram, a escolha da faixa não foi aleatória. A música, que começa com uma levada de grunge, vai crescendo em intensidade até ser impossível parar de ouvi-la. Ela carrega todos os elementos pop que dominaram as rádios nos últimos vinte anos e exibe a marca de uma eminência parda da indústria musical: o produtor sueco Max Martin, grife por trás dos hits de astros que marcaram diferentes gerações, como Taylor Swift, Justin Timberlake, Katy Perry, The Weeknd e até Adele.
Aos 51 anos, o artista faz a linha low-profile: prefere manter-se longe dos holofotes. Mesmo desconhecido do público, já é um dos mais bem-sucedidos compositores da história. Em seu currículo, acumula 25 músicas que atingiram o primeiro lugar da Billboard Hot 100, a mais importante parada dos Estados Unidos. Um feito apenas superado por Paul McCartney (com 32) e John Lennon (26). Mais que isso, Max encontrou a fórmula ideal para produzir hits em série. Nascido e criado nos arredores de Estocolmo, ele cresceu fanático pelo glam rock dos anos 1980. Na infância, aprendeu a ler partituras e a tocar vários instrumentos nas escolas públicas do país. Ainda naquela época, formou uma banda de glam metal chamada It’s Alive (que nunca fez sucesso). Mas escondia dos colegas outra paixão: o pop rasgado do quarteto sueco Abba.
No fim dos anos 1990, ao perceber que não levava jeito para estar em cima do palco, mudou-se para Los Angeles para trabalhar em um novo selo musical, a Jive, que havia acabado de contratar Britney Spears, adolescente talentosa mas sem repertório. Martin lembrou de uma música que havia composto alguns anos antes, Hit Me Baby (One More Time), oferecida originalmente para o trio TLC. O grupo negou, alegando que não pegaria bem para garotas negras cantar uma faixa que dizia “me bata mais uma vez”. Britney não se importou, mas mudou o título para …Baby One More Time. A música se transformaria em uma das mais tocadas de 1999 na voz dela — e também carregava uma série de elementos inovadores para a época. O instrumental tinha linhas de baixo funkeadas e abusava do suingue do R&B — porém soava como pop. É como se Martin tivesse combinado as texturas do Abba com os riffs de guitarra das bandas de rock de arena. Meses depois, uma boy band que também estava então começando, os Backstreet Boys, entrou para a gravadora Jive. Para eles, Max compôs os hits Show Me the Meaning of Being Lonely, I Want it that Way e Everybody.
Para além das melodias-chiclete, o segredo está nas suas letras com versos diretos e fáceis de entender. Por não ser americano, Martin jamais escreveu como um Bob Dylan — e essa limitação se tornou seu maior trunfo. Suas letras privilegiam as rimas às vezes sem sentido, mas que colam nos ouvidos. Ele sacou que uma música precisa conquistar o ouvinte nos trinta segundos iniciais, regra que se tornou ainda mais essencial num mundo dominado pelas dancinhas do TikTok.
Pensando nisso, até Anitta, em sua recente cruzada para conquistar a América, contratou o estúdio de Martin, o MXM, em Los Angeles. Embora não tenha gravado com ele, a brasileira teve auxílio de seu sócio, Rami Yacoub, também sueco, em Boys Don’t Cry, hit que já acumula 33 milhões de visualizações no YouTube. O sucesso de Martin é inegável, mas suas músicas sofrem do mesmo mal do sertanejo: são absolutamente esquecíveis e, em geral, não sobrevivem ao escrutínio do tempo. Eis aí uma forma de sabedoria que nem mesmo o midas do Norte conseguiu dominar.
Publicado em VEJA de 26 de outubro de 2022, edição nº 2812
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