Como um produtor musical uniu medalhões do rock e jovens talentos
Andrew Watt, de 33 anos, virou o queridinho de Elton John, Ozzy Osbourne e Paul McCartney e de jovens como Justin Bieber, Miley Cyrus e Post Malone

Embora seja canhoto, o produtor novaiorquino Andrew Watt, de 34 anos, só toca violão com a mão direita, razão de não ter nenhum instrumento em seu estúdio para quem usa a mão esquerda. Certa tarde, o ex-beatle Paul McCartney, um dos músicos canhotos mais famosos do mundo, iria passar em seu estúdio para tomar um chá. McCartney era um dos convidados do novo disco dos Rolling Stones, Hackney Diamonds, que teve Andrew como produtor. Andrew, antevendo que algo poderia acontecer, pegou emprestado um conjunto de violões, guitarras e baixos para canhotos, só por garantia, caso a xícara de chá rendesse algo mais. E rendeu. O ex-beatle queria lhe mostrar algo no violão, mas não havia levado nenhum instrumento. Horas depois, a dupla havia composto uma música, ainda inédita, e fechado uma parceria para um novo disco de Paul com produção de Watt, a ser lançado ano que vem.
Nascido em 1990, Watt é hoje uma espécie de ponte que une duas gerações de artistas. Apaixonado por música pop, dono de um conhecimento musical enciclopédico e um venerável respeito pelos ícones do rock, o produtor se tornou o favorito de nomes como Ozzy Osbourne, Madonna, Elton John e Roling Stones, e desejado por jovens como Justin Bieber, Post Malone e Miley Cyrus. Não por acaso, a maioria de suas produções há parcerias da turma mais experiente com novos talentos.

Antes de se tornar produtor, Watt chegou muito próximo de ele próximo se tornar um rockstar. Em 2013, formou a California Breed, banda que durou só dois anos, e tinha entre seus integrantes Glenn Hughes e Jason Bonham, filho de John Bonham, do Led Zeppelin. Se por um lado o grupo não deu certo, por outro lhe abriu as portas para a produção, ao conhecer Justin Bieber e gravar com ele uma faixa do álbum Purpose, 2015, com uma pegada mais roqueira. A curiosa mistura de pop e rock despertou a atenção do rapper Post Malone, que o convidou para trabalhar com ele. Coincidentemente, Malone seria também um dos convidados de Ozzy Osbourne para gravar uma faixa do álbum Ordinary Man e lá foi Watt fazer a produção. O trabalho com o Príncipe das Trevas rendeu a Watt seu primeiro Grammy, de Produtor do Ano de 2021 e mais portas se abriram com outros baluartes do rock, como os Rolling Stones e Elton John.
Com mais de 50 anos de carreira, muitas estrelas do rock se transformam em um cover de si próprio, vítimas do próprio tamanho e incapazes de inovar. É aí que entra o trabalho de Watt. Para o novo disco de Elton John, Who Believes In Angels?, lançado este ano, ele recrutou a cantora country Brandi Carlile e, em parceria com Bernie Taupin compôs diversas músicas do disco. O trabalho rendeu a Watt uma indicação ao Oscar de melhor canção por Never Too Late, que entrou na trilha do documentário sobre a última turnê do astro britânico.
Embora o talento com músico conte muitos pontos no trabalho de produção, o que chamou a atenção dos medalhões do showbiz foi não ter medo de dizer a esses ícones o que eles deveriam fazer. Numa mistura de firmeza com diplomacia, ele, por exemplo, convenceu Mick Jagger a gravar o cover Rolling Stone Blues, clássico de Muddy Waters que deu nome a banda, algo que Keith Richards queria, mas Jagger não estava a fim. “Ele ajudou os Stones a superar a inércia”, disse Jagger ao The New York Times. Ao final, o álbum Hackney Diamonds se tornou o mais bem avaliado dos Stones em décadas.
