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O Som e a Fúria

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Como primeira paquistanesa a vencer Grammy foi parar no interior da Bahia

Arooj Aftab se apresenta no C6 Fest nessa quinta-feira, 22 — sua segunda passagem pelo país após uma estadia de um mês em Barra Grande

Por Thiago Gelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 Maio 2025, 15h19 - Publicado em 22 Maio 2025, 09h02

Na noite desta quinta-feira, 22 de maio, o Auditório Ibirapuera receberá o primeiro show no Brasil da pioneira paquistanesa que venceu um troféu do Grammy americano em 2022: Arooj Aftab, cantora e compositora que mescla gêneros e tradições ao jazz contemporâneo que dá identidade ao seu disco mais recente, Night Reign. Parte da programação do C6 Fest, a apresentação trará faixas cantadas em urdu, a língua nacional de seu país de origem, e introduzirá parte do público à história e à personalidade da artista, ambas surpreendentes.

Prodígio musical, ela começou a cantar e tocar violão na infância e a divulgar seu próprio trabalho via internet na adolescência. Aos 19 anos, se mudou para os Estados Unidos e lá permaneceu, onde tece rede complexa e diversa de colaboradores e inspirações. Com olhar afiado para realidades além da própria, ela costuma reformular poemas antigos do Paquistão e da Índia, mas tem sede cultural tão profunda que já até buscou saciá-la no interior da Bahia. Em entrevista a VEJA, Aftab detalha suas viagens anteriores pelo Brasil, sua relação com estereótipos orientais e as expectativas para o show antes esgotado — parte dos ingressos voltaram à venda após o cancelamento do compositor etiópico Mulatu Astatke por questões de saúde. Eles podem ser adquiridos no site oficial do evento.

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Antes de lançar Night Reign, você veio ao Brasil nas suas férias. Como foi a viagem? Eu queria passar um mês ou mais em algum lugar distante. Queria que tivesse uma praia e, francamente, não queria ir para a Europa. Procurei por lugares que tivessem gente preta e marrom. Queria me sentir confortável, em casa, rodeada por uma paisagem que não fosse um resort com energia de cocaína ou qualquer coisa assim. No fim, fiquei entre a Quênia e a Bahia. Pesquisando por essas regiões, descobri Barra Grande, que nenhum amigo brasileiro meu conhecia. É super distante, mas foi maravilhoso. É uma cidade pequena ao lado da água e, aparentemente, era ainda mais linda 20 anos atrás. Foi ótimo estar lá, e foi onde recebi uma amiga fotógrafa para um ensaio que resultou na capa do disco. Barra Grande está, com certeza, entrelaçada ao álbum.

Como a cidade a inspirou? A cultura brasileira sempre me afetou. Amei ritmos do país desde meu tempo na faculdade. Adoro a música, a língua e a energia das pessoas. É muito emocional. Brasileiros mantêm tudo à flor da pele. Aquela história de “saudade” é épica. No meu último álbum [Vulture Prince], eu colaborei com a brasileira Badi Assad. Tudo isso para dizer que mantenho uma conexão com essa cultura há muito tempo sem ter estado aí. No single Raat Ki Rani, incorporo um ritmo brasileiro. Não fiz essa viagem com uma intenção de pesquisa, só queria relaxar, mas às vezes o universo se alinha de jeitos sutis e é melhor não questioná-lo.

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Por outro lado, o Brasil não é alvo forte de migração sul-asiática. Quais são suas expectativas sobre cantar em urdu para um público novo? Estou com bastante medo, mas acho que o line-up completo da noite é bom. Aparentemente, os ingressos estão esgotados, então a expectativa é positiva. Sei que esse festival atrai pessoas curiosas sobre música e que querem descobrir novos sons. O que eu faço não é tradicional. Você não vai chegar ao meu show para um tipo de “experiência oriental”. Esse trio de artistas é ótimo porque todos estamos inovando do jeito que podemos, evitamos definições. Só espero que todos venham sabendo que essa não é “a música do Paquistão”. Vai ser uma noite divertida e tranquila.

Sua música equilibra os sons contemporâneos com inspirações antigas, como a poesia de Mah Laqa Bai, do século XVIII. O que guia sua intenção artística? Só acompanho o chamado, basicamente. A obra sempre será música paquistanesa, mas também sempre será minha. O que quero dizer é que não faço música tradicional. Não estudei assim, não tenho essas regras. Obviamente, minhas faixas advém de alguém que nasceu no Paquistão, mas que busca diferentes influências e diferentes poetas de todo o mundo. 

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E o que despertou seu interesse sobre Mah Laqa Bai? Gostei muito da história dela. Antes de descobri-la, não tinha ideia de que alguém assim havia existido. Uma amiga minha me deu esse toque, disse “ei, existe essa mulher de verdade, de um século doido, que era uma guerreira, uma política, uma cortesã e uma poeta”. Daí, tentei ler os poemas dela, mas eram impenetráveis. Eles foram escritos em um dialeto urdu muito antigo, mas eu fiquei determinada a desvendá-los. Essa poeta está até pintada em miniaturas de séculos atrás que estão no museu Metropolitan, em Nova York. Estou perplexa com isso há pelo menos uma década, tentando entender quem ela é na história. Mah Laqa Bai foi a primeira poeta feminina urdu a ter seu trabalho publicado no subcontinente — e, claro, ninguém se importa. Então comecei a mergulhar mais fundo, juntar mais informações sobre ela, tentar fazê-la minha. Por fim, consegui entender dois dos seus poemas e disse: vou transformá-los em canção mesmo que minha vida dependa disso. Os resultados são Na Gul e Saaqi.

Para além de inspirações históricas, você trabalha com colaboradores contemporâneos e variados. O que a levou a colaborar com Elvis Costello? Um amigo dele o enviou minha música durante a pandemia e ele gostou de mergulhar nesse universo sem ter que se preocupar com as letras ou com uma história, já que ele não entendia a língua. Aquele álbum era mais suave e ele se tornou um grande fã, assim viramos amigos. Ele é uma lenda e um cara muito humilde que ama música de verdade. Ele não tem questões ou pretensões, só é gentil, aberto e genuíno. Como mora em Nova York, acabou nos visitando no estúdio enquanto gravávamos. Perguntei se queria tocar alguma coisa e ele acabou acrescentando poucas notas aqui e ali. É por isso que está creditado no álbum, mas não queríamos capitalizar em cima disso e explorar o nome dele.

A lista de artistas que as inspiram vai muito além de artistas paquistaneses e cantoras de jazz e chega até no rap. No momento, quais músicos têm a fascinado? Entrei em um buraco negro maluco de flamenco contemporâneo. Sempre gostei muito do gênero, me lembra o canto islâmico qawwali. Existe um fogo ali. Além disso, tenho ouvido um cantor chamado Roy Borland. Não sei detalhes sobre quem ele é ou de onde vem, mas ele produz músicas muito suaves e bonitas. É um trabalho que escuto muito enquanto viajo de avião.

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Após compor um álbum que homenageia a noite, como é tocá-lo em um evento noturno como esse festival? O álbum foi feito justamente porque nos apresentamos à noite, no mesmo período que vamos para hotéis e conhecemos pessoas novas. Essa é a única constante da vida do músico. Tocar um repertório inédito para um público inexplorado é incrível. É como visitar um lugar pela primeira vez, ou como pedir aos espectadores que se juntem a uma religião. No começo, é como implorar. No fim, é triunfante. Os convencemos a acreditar em algo que não conheciam antes. É um trabalho lindo.

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