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O Som e a Fúria

Por Felipe Branco Cruz
Pop, rock, jazz, black music ou MPB: tudo o que for notícia no mundo da música está na mira deste blog, para o bem ou para o mal
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Cinquenta anos do sucesso mais improvável da história do rock’n’roll

Nem a gravadora acreditava no álbum e chegou a pensar em engavetar o projeto depois de gravado

Por Sergio Ruiz Luz Atualizado em 17 jun 2024, 20h53 - Publicado em 17 jun 2024, 12h11

Qual a chance de sucesso de um disco ao vivo estrelado por um músico que se apresentava com uma capa cintilante detrás de uma torre de pianos, órgãos e sintetizadores, acompanhado por orquestra sinfônica e coral executando temas inspirados num clássico da ficção científica do final do século XIX e cujo lançamento foi boicotado até pela gravadora? A resposta é mais de uma dezena de milhões de álbuns vendidos para o LP que se tornou o mais improvável hit da história do rock’n’roll.

O resultado surpreendeu até as expectativas mais otimistas do tecladista inglês Rick Wakeman, autor de Journey to the Centre of the Earth (Viagem ao Centro da Terra), baseado no livro homônimo do escritor francês Júlio Verne. Deliciosamente datado de uma época em que artistas de formação clássica resolveram misturar elementos eruditos ao universo pop, o que originou o chamado rock progressivo, o álbum, que acaba de completar cinquenta anos de seu lançamento, conta ainda com uma legião de fãs e bandas-tributo fazendo apresentações com o mesmo repertório.

O disco de 1974: estrela foi acompanhada por orquestra, coral e uma banda de rock semi-amadora
O disco de 1974: estrela foi acompanhada por orquestra, coral e uma banda de rock semi-amadora (//Divulgação)

Mesmo para os exageros que marcaram os anos 70 (um dos “rivais” de Wakeman era Keith Emerson, cuja marca registrada era esfaquear durante os shows com adagas de samurai seu órgão Hammond), a ideia de Wakeman parecia difícil de emplacar. O amigo David Bowie teve um papel decisivo, pois o encorajou a seguir em frente com seus projetos-solo, sem se intimidar com qualquer resistência. Além do fascínio pelo livro de Verne, o tecladista se inspirou na sinfonia O Pedro e o Lobo, de Prokofiev, enquanto forma de contar uma história musical do começo ao fim.

No caso de Viagem ao Centro da Terra, um ator foi convocado para relembrar a saga do trio de exploradores às profundezas de um vulcão da Islândia, costurando os trechos de narrativas com os temas executados por banda, orquestra e coral. Não era um intérprete qualquer. David Hemmings, o artista em questão, tinha amealhado grande fama como o fotógrafo protagonista de Blow Up, o clássico do diretor Antonioni. Na hora de escolher a banda de rock que acompanharia a Orquestra Sinfônica de Londres e o Coral de Câmera Inglês, Wakeman desprezou ofertas para recrutar guitarristas estelares como Eric Clapton e Ritchie Blackmore. No lugar deles, preferiu a turma do grupo que se apresentava em seu pub predileto.

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O FIM DA CARREIRA DE WAKEMAN NO YES

Sem dinheiro suficiente para levar banda, orquestra e coral a um estúdio, o tecladista resolveu registrar o álbum ao vivo, usando o dinheiro amealhado na bilheteria para amortizar os custos da gravação. A apresentação ocorreu em janeiro de 1974 no London’s Royal Festival Hall, mas o álbum só chegou ao mercado quatro meses depois. Executivos do braço inglês da A&M torceram o nariz para o disco e Wakeman salvou o projeto de ser engavetado indo falar diretamente com o sócio-fundador da gravadora, Jerry Moss (o “M” de A&M), que deu sinal verde para o lançamento.

Na época em que a Viagem ao Centro da Terra chegou às lojas, Wakeman era um das estrelas do Yes. A banda inglesa de rock progressivo estava no auge, mas o tecladista andava insatisfeito com os rumos musicais, cada vez mais radicais e herméticos na direção progressiva. Ele já havia lançado um disco solo, mas foi o sucesso impressionante do novo álbum que o encorajou a mudar os rumos de sua carreira. No mesmo dia em que recebeu a notícia de que Viagem ao Centro da Terra havia chegado ao topo das paradas britânicas (nos Estados Unidos alcançou o terceiro lugar), pediu demissão do Yes.

Em tempo: hoje, aos 75 anos, Wakeman continua fazendo excursões pelo mundo (veio ao Brasil em várias ocasiões, a partir de 1975); Viagem ao Centro da Terra é tema obrigatório nos shows.

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