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O Som e a Fúria

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As revelações impagáveis do novo documentário sobre Elton John

Prestes a se aposentar, cantor ganha um registro no Disney+ que revisita sua carreira singular na música pop

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 dez 2024, 08h00

Em 1975, Elton John era o maior astro da música pop. Os álbuns Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy e Rock of the Westies, que ele lançou naquele ano, se tornaram os primeiros da história a estrear no primeiro lugar da Billboard. Até então, nem mesmo Elvis, Beatles ou Rolling Stones haviam atingido o topo logo na estreia. Na esteira do sucesso, aos 28 anos, ele decidiu fazer algo especial — e também inédito: dois shows no estádio dos Dodgers, em Los Angeles, para 50 000 pessoas por dia. Só mesmo ele teria força para juntar uma multidão daquele jeito. A última atração musical no estádio haviam sido os Beatles, em 1966. Para celebrar, Elton trouxe toda a família de Londres (menos o pai, que nunca assistiu a uma apresentação do filho ao vivo) e a hospedou em sua mansão, em Beverly Hills. Por trás do artista brilhante no auge da fama, porém, havia um homem doente e deprimido: viciado em drogas e álcool, ele tentou se matar afogando-se na piscina na véspera da apresentação histórica, após consumir dúzias de pílulas de calmante. Resgatado pelos familiares, sobreviveu — e, no dia seguinte, fez o show.

Quase cinquenta anos depois, e limpo das drogas há mais de três décadas, Elton retornou ao estádio em 2022 para o show de encerramento da turnê Farewell Yellow Brick Road, uma das mais lucrativas da história: arrecadou 900 milhões de dólares, menos somente que a Eras Tour, de Taylor Swift, e a Music Of The Spheres, do Coldplay. Os dois shows marcantes de 1975 e 2022 balizam o documentário Elton John: Never Too Late, que estreia no Disney+ na sexta-feira 13 e celebra a aposentadoria oficial do músico inglês, aos 77 anos.

Embora a direção caiba ao marido de Elton, o cineasta David Furnish, em parceria com o documentarista R.J. Cutler, o filme não é nada chapa-­branca. Logo de cara, ele mostra disposição de ser o mais sincerão possível. “Eu não tinha nada além do sucesso e das drogas”, diz. Elton teve um de seus períodos mais criativos entre 1970 e 1975, quando lançou treze álbuns, sete dos quais atingiram o primeiro lugar nas paradas, com canções compostas em parceria com o amigo Bernie Taupin. Foi também nessa época que enfrentou os piores dramas amorosos e familiares, e se afundou nas drogas. Inseguro, Elton só se sentia poderoso sentado ao piano. O jeitão nerd nunca ajudou. Ele conta que ainda era virgem quando atingiu o estrelato e foi apenas com o empresário e primeiro namorado, John Reid, que fez sexo pela primeira vez. A relação abusiva é contada em detalhes, inclusive as surras que o músico levou de Reid. “Eu via muito do meu pai nele”, diz Elton.

VIDA AGITADA - Três momentos de Elton: acima, tocando seu piano na turnê de despedida, no ano passado; à esq., em 1974, nos bastidores de show com John Lennon; à dir., com o marido David Furnish, com quem está casado desde 2014: carreira cheia de êxitos, problemas com drogas e aposentadoria aos 77
VIDA AGITADA – Três momentos de Elton: acima, tocando seu piano na turnê de despedida, no ano passado; à esq., em 1974, nos bastidores de show com John Lennon; à dir., com o marido David Furnish, com quem está casado desde 2014: carreira cheia de êxitos, problemas com drogas e aposentadoria aos 77 (Oli Scarff/AFP; Disney+;/Disney+)

Para além do drama, um dos momentos mais divertidos do documentário é quando ele fala de sua amizade com John Lennon, seu ídolo maior. Entre as histórias saborosas está a lembrança do dia em que ambos, isolados num hotel com “montanhas de pó no nariz”, ouviram o artista plástico Andy Warhol tocar a campainha. Elton se diverte ao revelar que o ex-­beatle não deixou Warhol entrar porque ele carregava uma Polaroid para todos os lugares e poderia flagrá-los consumindo drogas.

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Elton relembra ainda a gravação com Lennon da canção Whatever Gets You Thru the Night. O ex-beatle apostou que, se o single ficasse em primeiro lugar, ele faria uma participação no show de Elton. Dito e feito. Numa apresentação no Madison Square Garden de 1974, Lennon cumpriu a promessa. Ele estava então rompido com Yoko Ono, e se reconciliou com a esposa nos bastidores. Tempos depois, Elton virou padrinho do filho do casal, Sean. Curiosamente, o show foi também o canto do cisne de Lennon, que nunca mais tocou ao vivo até seu assassinato, em 1980.

Com imagens inéditas e áudios de entrevistas antigas, o documentário traz outros momentos decisivos na carreira do artista — como a gravação da entrevista para a Rolling Stone em 1976, na qual assumiu, pela primeira vez, ser “bissexual”. Há lacunas também. Não se aborda seu amor por futebol e pelo clube Watford, do qual foi presidente, ou a notória amizade com a princesa Diana. Os problemas na coluna e a cegueira que se agravou recentemente ficaram igualmente de fora. Ainda assim, a produção faz jus à grandeza de Elton e ilumina suas preocupações na velhice, como o desejo de ter mais tempo com o marido e os filhos Zachary, de 13 anos, e Elijah, de 11. Que o brilho da estrela mais cintilante do rock jamais se apague.

Publicado em VEJA de 6 de dezembro de 2024, edição nº 2922

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