Anavitória revela a VEJA motivo que quase impediu nova Turnê dos Namorados
Duo segue comprometido com a tradição de projeto em homenagem aos casais após oito anos de sua concepção

Em 5, 6 e 7 de junho, o duo Anavitória, formado por Ana Caetano e Vitória Falcão, realiza a 7ª edição da Turnê dos Namorados nas cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Vestida de vermelho, a dupla reúne algumas de suas músicas mais românticas e viaja pelo Brasil para apresentá-las em comemoração a todos os casais. A celebração do sentimento vem em forma de alguns de seus grandes hits como Ai, Amor, Trevo (Tu) e Porque Eu Te Amo, que já são figurinhas carimbadas do repertório desses shows.
Um pouco mais curta do que de costume, a Turnê dos Namorados desse ano quase não aconteceu. Ainda em junho, Ana e Vitória embarcam para a Europa, onde passarão o famoso dia 12 de junho entre Bergen, na Noruega, e Porto, em Portugal, ocupadas com a turnê de seu último álbum Esquinas, que ainda não foi apresentado ao vivo. Apesar da agenda cheia, “a Turnê dos Namorados merece”, conta Vitória.
Em julho, o duo ainda estreia no Montreux Jazz Festival, que desde 1978 oferece um amplo espaço para a música brasileira e que já levou para seus palcos Elis Regina, Gilberto Gil, João Gilberto, Beth Carvalho e tantos outros. Prestes a encararem uma bateria de shows e viagens, as duas contaram a VEJA a razão da existência da Turnê dos Namorados, falaram das expectativas para o Festival de Montreux e se ainda vale a pena usar a música para falar de amor.
Como surgiu a ideia de fazer a Turnê dos Namorados?
Ana: Essa não é uma ideia nossa. A nossa primeira turnê dos namorados foi em 2017, e foi uma ideia do Felipe Simas [empresário da dupla]. Ele já tinha idealizado essa turnê, tínhamos acabado de começar a ir para a estrada, no final de 2016. Eu lembro dele sugerir, não me lembro exatamente como foi essa conversa e os detalhes, mas fizemos a primeira nesse nosso primeiro ano. A gente não estava nem vestidas de vermelho, estávamos com as nossas roupas normais. Mas foi uma turnê especial, aí a gente seguiu fazendo. Só paramos na pandemia, e agora vamos fazer a sétima [turnê].
Vitória: A turnê também foi se desenhando ao longo do tempo. Tem uma importância que ela foi tomando dentro da nossa trajetória de shows, é sempre uma turnê que queremos fazer com muito cuidado, com qualquer ideia às vezes tenhamos. Fazer todas as turnês são muito legais, mas eu acho que a gente acaba sempre pensando muito nas coisas da Turnê dos Namorados, tanto que esse ano quase que a gente não ia fazer porque vai ter um monte de outros shows na Europa nesse meio tempo, mas ficamos assim: “Poxa, mas a Turnê dos Namorados merece”, mesmo que sejam só essas três datas. É uma turnê especial para nós.
Em que momento perceberam que essa turnê se tornou uma tradição?
Ana: A tradição se constrói pela repetição. Aí fomos fazendo, acho que na terceira vez já sabíamos que era uma coisa que gostamos muito de fazer e fomos criando os nossos símbolos. Acho que na segunda vez, já estávamos usando vermelho e tinham ativações acontecendo na turnê. Tudo isso foi trazendo uma carga de costume. Mas não existiu um momento em que falamos: “Vamos criar uma tradição”. Foi acontecendo de forma espontânea.
E por que o amor ocupa esse espaço tão fundamental na arte de vocês?
Ana: Sobre narrativa, acho que é um tema que eu gosto muito de escrever sobre. Acho que todo mundo tem esse sentimento em comum na vida, todos estão se relacionando, não só romanticamente. Todo mundo está sempre prestando muita atenção e elaborando sobre isso, se relacionar.
Vitória: E é uma coisa que a gente gosta de ouvir também. Nos conectamos com isso na obra de outras pessoas. Ouvimos muitas canções e nos relacionamos com esse lugar da música e por aí essa carreira segue. Anavitória existe também por causa disso.
Já que estamos falando de amor, o que é essencial na construção diária das relações de vocês? Sejam elas de amizade, com a família ou outros tipos de relação?
Ana: A primeira coisa que passou pela minha cabeça foram movimentos de ação. Dedicar tempo e escuta. Eu acho que é dedicar presença nos momentos em que se pode estar presente, os momentos de encontro serem momentos de qualidade e atenção.
Vitória: Eu acho que está nisso mesmo, nesse lugar de cuidar das relações. Como? Eu acho que depende do nosso tempo. Tem mês que você está mais disponível, tem semana que você está mais atento, tem dia que você está mais desligado. Tem hora que você está muito na onda, tem hora que não está.
Vocês têm uma um jeito bastante discreto de lidar com a vida pessoal de vocês, só que, ao mesmo tempo, têm músicas que narram esses sentimentos que são muito íntimos e que saem de um lugar que só vocês conhecem. Essa contradição é proposital? Vocês veem como uma contradição, aliás?
Ana: Eu não vejo como contradição, sabia? Eu acho que é muito diferente abrir o que de fato acontece na sua vida e falar da subjetividade disso. Uma coisa é falar para “olha, eu tô saindo com beltrano e fulano de tal, eu tô fazendo isso e aquilo da minha vida”, e outra coisa é falar sobre a poesia disso. Acho que tem uma diferença muito grande. Eu não me sinto exposta quando estou cantando as nossas músicas, embora elas criem vários universos na cabeça de quem escuta. Mas no final das contas, só eu sei. Eu não sinto uma exposição direta.
Vitória: Até a gente quando escuta música de qualquer pessoa, se vê nisso, quando vemos um filme ou qualquer outro lugar da arte também. Não que sempre estejamos nos colocando como espelho dentro das coisas, porque às vezes você está só observando e achando bonito ou não. Mas acho que muitas das vezes a gente ouve músicas se relacionando com isso dessa maneira, se identificando no discurso de uma outra pessoa. Não tem aquela música do Cazuza? Que é uma carta para a avó dele. Parece uma canção de amor para alguém, para uma paixão e não para a avó. Fulano de tal vai ouvir isso e achar o que quiser. Estamos aí o tempo inteiro fazendo isso.
O convite para tocarem no Festival de Montreux veio em boa hora? Como se sentem sendo uma das atrações brasileiras do festival de música da Suíça?
Vitória: Ficamos muito felizes e animadas. A Ana falou disso outro dia, eu acho que temos noção e sabe da importância desse festival muito por causa do Felipe, que é nosso empresário. É um festival que ele fala muito há muito tempo e que ele tinha muita vontade que a gente tocasse nele. Eu conheci através do Felipe, até então eu não sabia o que era o Festival de Montreux. Então, foi muito maneiro a gente ter sido convidada e e que ele tenha esgotado.
Ana: Acho que veio sim num bom momento porque é no momento de um repertório fresco. Estamos doidas para tocar essas músicas novas, acabamos de lançar um disco novo, tem quatro ou cinco meses. Ainda não fomos para a estrada com essas músicas. E, enfim, não vamos só para esse festival, mas para algumas cidades que nunca fomos, o que vai ser muito legal. O Felipe apresentou esse festival para a gente, mas a partir disso também fomos entendendo a importância desse palco. A quantidade de gente legal que já passou por ali, artistas que admiramos. Vai ser uma noite bem especial, assim como a turnê inteira, mas acho que o fator de cantar esse repertório que a gente ainda não cantou é um grande acontecimento.
Vocês tiveram um tempo mais longo para produzir esse novo álbum, Esquinas, e foi o maior tempo que vocês tiveram entre um trabalho e outro. Criativamente falando, acham que esse tempo foi bom? Trouxe um frescor diferente?
Ana: Eu acho que foi bom. Mas não foi uma coisa planejada. É como as coisas aconteceram. Nesses quatro anos, muita coisa se transformou na nossa cabeça. Principalmente na pandemia, a gente assentou muito do que foram os últimos anos, do que foi a caminhada dessa carreira. Então, acho que foi bom, foi bom para a gente se sentir ‘assentada’ e fazer algo novo, já com estímulos novos, com vontades novas, ouvindo outras coisas, com outro repertório de tudo, de narrativa, de som. Eventualmente, isso pode acontecer de novo, tudo depende se tivermos vontade de ter esses espaços maiores. A gente sempre respeita muito o que estamos a fim de fazer. Se estivermos a fim de fazer um disco por ano, nós vamos fazer um disco por ano. Se a gente sentir que nada a ver, que tem que passar sete sem fazer, vamos passar sete sem fazer. Eu queria ter lançado [o Esquinas] antes, queria ter feito mais coisas. Mas as coisas têm o tempo delas.
Vitória: Tivemos dois anos de pandemia dentro desse intervalo e decidimos voltar a fazer show muito tarde. Todo mundo já tinha voltado, a gente voltou depois que tudo deu certo, quando a pandemia tinha acabado. Só aí que a gente pôde trabalhar o COR [álbum de 2021]. Eu acho que a gente teve um timing diferente das coisas depois da pandemia. O que nos fez só lançar o Esquinas ali foi porque foi quando a gente teve de fato o tempo. E é isso que a Aninha falou. Se der na telha, vem. Se não, se nós precisarmos de mais tempo, vamos ter que precisar.
Fazer shows em outros continentes além da Europa está no radar de vocês para os próximos anos?
Ana: Eu estou esperando a Vitória chegar com o estudo do mercado do Japão*.
Vitória: Eu fiz, viu? Fiz três contatos, fiz amizade [risos].
Ana: Ótimo. Meu sonho é tocar no Japão.
Vitória: Mas a gente vai. A gente já falou sobre isso. Acabou não acontecendo, a gente ia fazer outras coisas que acabaram não acontecendo por causa do timing. Mas as coisas vão acontecer. No tempo que for, sempre vem.
Se pudessem projetar os próximos 10 anos de Ana Vitória, o que gostariam de realizar?
Ana: Eu já entendi que não dá para projetar. Se você tivesse feito essa pergunta para mim 10 anos atrás, eu não ia falar nada que nós vivemos até agora. Eu não ia supor que isso aconteceu. Mas eu espero muito que a gente esteja aí se divertindo, gostando de fazer o que estamos fazendo, produzindo um disco porque estamos com muita vontade, sabe? Ou então quietinhas em algum lugar descansando, porque estamos muito a fim disso. Eu acho muito difícil fazer previsões, porque parece que quando você faz, o universo faz questão de falar assim: “Ah, você acha que é isso que vai acontecer? Então, vou preparar um negocinho para você aqui, uma curva”. E é isso, mas eu espero estar feliz, eu espero estar amarradona em fazer música.
Vitória: É isso. Eu quero estar nessa aí, só achando bom. E indo em frente. Seja lá que frente que for. Mas caminhando, caminhando, caminhando. Se for para virar uma ou duas ou sete curvas, bora. Mas fazendo as coisas do jeito que a gente gosta de fazer. No nosso tempo, respeitando as nossas vontades.
Ana: Uma meta pessoal é que eu espero ser uma pessoa menos procrastinadora e mais pontual dentro do trabalho. Eu acho que isso é uma meta para os próximos 10 anos, hahaha. Na verdade, eu queria cumprir no próximo ano. Nos próximos 10 não. Mas nos próximos 10 também está valendo.
Nessa eurotour, vocês têm shows marcados para o dia 11 e para o dia 13 de junho, mas nada para o dia 12, que é o Dia dos Namorados no Brasil. Quais são os planos para o dia 12?
Vitória: É o nosso date! Hahaha.
Ana: As reservas dos restaurantes já estão feitas.
Vitória: Eu acho que na real é só um “travel day”, viu? Provavelmente estaremos no caminho de uma cidade para a outra.
Ana: Vamos de Noruega para Porto. É o dia do trajeto.
Vitória: É com certeza o dia do trajeto, porque de Noruega para Porto é longe, viu? É só isso.
*Vitória, no momento da entrevista, estava em viagem para o Japão.
Acompanhe notícias e dicas culturais nos blogs a seguir:
- Tela Plana para novidades da TV e do streaming
- O Som e a Fúria sobre artistas e lançamentos musicais
- Em Cartaz traz dicas de filmes no cinema e no streaming
- Livros para notícias sobre literatura e mercado editorial