A volta do grupo considerado tão influente na música pop quanto os Beatles
Acaba de ser anunciada turnê em homenagem aos 50 anos de lançamento de uma obra-prima da música eletrônica que influenciou de New Order aos DJs do momento

Em novembro de 1974, o universo pop foi tomado por um estranha música que começava com o barulho da porta de um carro, seguida ao longo de 22 minutos e 47 segundos por sons hipnóticos de sintetizadores e computadores misturados a buzinas e motores, com uma voz robótica cantando o refrão em alemão: “Wir fahr’n, fahr’n, fahr’n, auf der Autobahn” (estamos dirigindo na autoestrada). Era obra de um grupo de Düsseldorf, o Kraftwerk (usina de energia, em alemão). Foi um espanto. Outros artistas já tinham feito experimentos em música eletrônica, mas nenhum deles havia conseguido chegar às paradas de sucesso abrindo totalmente mão dos instrumentos convencionais.
Batizado de Autobahn, o nome da música principal, o álbum revolucionário foi lançado um ano depois nos Estados Unidos e chegou ao quinto lugar da Billboard, puxado por uma versão de quatro minutos da faixa-título. Para muitos, aquilo foi o pontapé inicial da música moderna. Trazia melodia, tinha um ritmo bom e, principalmente, era diferente de tudo que se ouvia na época.
Os cinquenta anos de lançamento nos Estados Unidos do disco que projetou o grupo para o mundo serão o pretexto para o Kraftwerk voltar às turnês em 2025. O grupo planeja se apresentar em 25 cidades da América do Norte com um show multimídia. Confira aqui o vídeo anunciando a turnê:
O Kraftwerk seguiu lançando ao longo das décadas outros trabalhos com boa repercussão, mas até hoje Autobahn é considerado sua obra-prima. O grupo é uma espécie de vovô da música techno. O DNA das criações daqueles alemães é visível em diversos artistas que adotaram uma pegada eletrônica, do estilo mais dançante do New Order ao drum & bass dos DJs. Para muitos críticos, a influência do Kraftwerk sobre o universo pop é comparável ao impacto provocado pelos Beatles. As duas bandas, aliás, foram homenageadas juntas em 2014 numa cerimônia do Grammy, pelo conjunto da obra.
Nos primeiros anos de sucesso, o Kraftwerk chamava atenção também pelo comportamento dos músicos no palco. No caso, talvez o mais adequado seria chamar de falta de comportamento. Com ternos escuros, gravatas estreitas e cabelos escovinhas, quatro músicos postavam-se lado a lado, imóveis, atrás dos equipamentos eletrônicos, apertando botões para executar as músicas. Era um choque perto dos grupos de cabeludos que destruíam instrumentos durante suas apresentações, uma das muitas maluquices em voga naquela época. Segundo registrou o famoso crítico americano Lester Bangs em um encontro com o Kraftwerk, um dos líderes da trupe, Florian Schneider, parecia “capaz de construir um computador ou apertar um botão e explodir metade do planeta com a mesma emoção”.
A crítica mostrou-se bastante cética no começo e a maior parte das resenhas ironizavam a onda alemã e questionavam se aqueles barulhos feitos por máquinas podiam ser considerados música. Aos poucos, no entanto, o Kraftwerk foi se tornando cool, graças a músicos como David Bowie que se confessaram fãs da banda e passaram também a abusar de sons eletrônicos em seus álbuns.
Antes de Autobahn, os alemães já haviam produzido três LPs e, nos primórdios, a banda utilizava equipamentos convencionais, como bateria e flauta transversal. Ao radicalizarem no caminho da eletrônica para contar a história de uma viagem por uma auto-estrada, atropelaram a música pop.