“A morte me chocou”, diz ator que interpreta Dinho no filme dos Mamonas
Ruy Brissac conversou com VEJA sobre a nova cinebiografia da irreverente banda de Guarulhos e falou sobre como foi dar vida ao vocalista
A carreira dos Mamonas Assassinas foi tão meteórica quanto efêmera. Em apenas oito meses, os meninos de Guarulhos conquistaram o Brasil com músicas irreverentes e letras para lá de politicamente incorretas. O único disco lançado pelo grupo permanece, ainda hoje, mesmo após 27 anos da morte do quinteto, entre os dez mais vendidos do Brasil de todos os tempos, com 3 milhões de cópias comercializadas. A lembrança da banda também continua forte no imaginário dos fãs e desperta o interesse até mesmo de jovens que nem eram nascidos quando o acidente aéreo que ceifou a vida dos músicos aconteceu. Não por acaso, um musical dos Mamonas Assassinas, de 2016, se transformou em um sucesso de público.
Agora, chegou a vez dos cinemas. Mamonas Assassinas — O Impossível Não Existe, filme que estreia em 28 de dezembro, recontará a história da banda. O ator Ruy Brissac, de 34 anos, foi o escolhido para dar vida ao vocalista e líder da banda. O ator, que também é cantor, já havia interpretado o músico no musical e agora volta a encarná-lo nos cinemas. Graças a esse papel, ele desenvolveu uma proximidade muito grande com os familiares de Dinho a ponto de, em 2018, durante a Copa do Mundo, o primo do cantor e responsável pela marca da banda, Jorge Santana, convidar Brissac para gravar uma canção inédita do cantor, encontrada em um caderno de rascunhos. Como a faixa, Vai Aê, ainda estava incompleta, Brissac pôde, inclusive, colaborar com a composição adicionando alguns versos. Brissac conversou com a reportagem de VEJA sobre sua atuação no filme e falou das lembranças que tem da banda, quando ele tinha apenas 6 anos. Leia a seguir os principais trechos.
Você já havia interpretado o cantor Dinho no musical dos Mamonas Assassinas. Qual é a diferença de fazer o mesmo personagem nos palcos e nos cinemas? Teatro é aquela interpretação mais expansiva. O último da cadeira, lá atrás, tem que te ouvir e te enxergar. No cinema, tudo é mais contido. Tive que desconstruir muito o personagem do musical para o cinema. O musical tinha formato de show. Era uma performance. No filme, não. Tive que trazer esse lado mais humano, esse lado mais verdadeiro. A gente tinha que mostrar como que ele era atrás das câmeras, como que ele era com a família, com os amigos, no dia a dia. Procurei realmente viver o personagem. Tive muita liberdade para atuar.
Você tinha 7 anos quando eles morreram. Que memórias tem deles? Lembro dos programas de televisão, que eram muito icônicos. Lembro muito da irreverência. Eu ficava na expectativa de saber como seriam as participações deles no Gugu ou no Faustão. Lembro muito dos figurinos também e do Dinho na Banheira do Gugu. O dia da morte deles me marcou muito também. Até então nenhum parente meu morrera, eu nunca havia tido nenhum contato com a morte. Minha mãe falou: “Ah, aquela banda que você gosta, os Mamonas, eles morreram”. Achei que era mentira, que era uma brincadeira. Depois, percebi que era real que eles não iam mais aparecer em programa de televisão nenhum. Aquilo me chocou.
Você também é cantor. Como foi a preparação para cantar como ele? Foi complexo, porque ele era um artista completo. O Dinho era um comunicador. Ele podia ser apresentador, modelo, ator. A cada música ele interpretava um personagem com vozes diferentes. Essa colocação vocal foi um grande desafio. Ele imitava o Silvio Santos, a Tetê Espíndola, o Lula. Eu não sou imitador e precisei fazer um trabalho com fonoaudióloga.
Os anos 1990 eram muito mais liberais do que atualmente. Você acha que se os Mamonas Assassinas surgissem hoje, com tantas músicas politicamente incorretas, eles seriam cancelados? Acho que sim. Eles eram politicamente incorretos, com certeza. Mas eles iriam dar um jeito. Talvez eles fossem um desses astros das redes sociais, do TikTok, por exemplo. Tem muita coisa irreverente acontecendo lá. Tanto que os temas que eles abordavam nos anos 90, na parte estrutural e na crítica social, funcionam até hoje. Lógico que as palavras poderiam mudar, mas a temática e a forma de abordar seriam a mesma.
Você gravou Vai Aê, música inédita do Dinho. Como foi isso? Foi surreal. Não tenho nem palavras para descrever a emoção. Foi o primo dele, Jorge Santana, que encontrou. Sou cantor e compositor. Então, eu tenho minha carreira autoral também. E aí, quando ele me pediu para completar a letra, eu nem acreditei. Ele achou os rascunhos do Dinho e perguntou se eu não queria fazer alguma coisa. O Dinho tinha essa coisa de acreditar nos sonhos, e eu puxei por aí, pela superação no futebol, na torcida. Se eu fizesse algo “mamônico”, não seria engraçado, porque eu não sou eles. Acho que o resultado deu muita liga.
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