A estratégia notável de Rita Lee para conduzir até o fim sua despedida
Em nova autobiografia, cantora se mostrou serena diante da morte
Nascida em 31 de dezembro de 1947, a capricorniana Rita Lee disse em sua nova autobiografia, lançada nesta segunda-feira, 22, que havia decidido mudar sua data de aniversário para 22 de maio, dia de Santa Rita de Cássia, mas que continuaria com o mesmo signo. Uma das maiores artistas do Brasil, Rita descreve com humor ácido e honestidade ímpar os últimos dois anos de vida, após a descoberta do câncer.
Com a proximidade da morte, Rita Lee (que passou a encarar o fim da vida com naturalidade), deu início também a um processo de conduzir todos os detalhes de sua passagem. Tal como ela decidiu mudar a data de seu aniversário, Rita escolheu o local do velório, no Planetário do Parque do Ibirapuera, e cuidou de todos os lançamentos que viriam nos anos seguintes posteriores a sua morte.
Tal como um diário, Rita descreve no livro sua rotina de tratamento, mas a obra funciona também com um testamento, onde ela adianta que já deixou pronta músicas inéditas, livros e um documentário a serem lançados em breve. No dia do diagnóstico, os médicos disseram para o marido Roberto de Carvalho que Rita teria apenas mais uns meses de vida. Rita encarou a morte e mesmo sendo a favor da eutanásia, decidiu fazer o tratamento após ter sido convencida pelos filhos.
A nova autobiografia é um relato cru, honesto e super divertido de uma cantora que jamais se autocensurou – em contraste com o fato de ter sido uma das artistas mais censuradas pela ditadura militar. Há momentos escatológicos em que descreve flatulências descontroladas, o uso de fraldas geriátricas e escarradas de muco produzidos pelo pulmão adoentado. Rita não esconde suas dores e dificuldades em enfrentar o tratamento e responde todas as dúvidas que os fãs pudessem ter (e outras que eles nem sabiam que tinham) sobre o período de reclusão que ela se meteu após a pandemia e o diagnóstico de câncer.
Rita foi um caso raro de honestidade até o fim da vida e seu último livro é a prova de que ela soube como nunca conduzir sua despedida do seu corpo de carne e osso, mas a sua eternização no panteão sagrado dos grandes artistas brasileiros.