A Síndrome do Nibiru: por que precisamos do Fim do Mundo?
Sem a noção do fim, não teríamos um conceito de princípio, algo insuportável para a nossa espécie
Previsões do Fim do Mundo existem desde o princípio dos tempos.
A do ano 2000, recentíssima, causou um impacto considerável sobre o público pagante. Nosso amor por datas redondas predisse que raivosas tempestades de fogo despencariam do espaço e varreriam a Terra para o quinto dos infernos. Ao contrário do que esperavam os desesperados, a data da hecatombe chegou e nada aconteceu, nem um mísero bug do milênio.
Bastante semelhante foi o presságio que marcava as explosões para 2012. Enquanto sábios e profetas divulgavam as premissas do Calendário Maia, espertalhões de casaca fizeram fortunas ao vender passagens para regiões paradisíacas que ficariam livres da destruição. Teve até filme sobre isso, mas adrenalina, que é bom, nada.
No fim das contas, ninguém precisa quebrar a cabeça para concluir que, se o mundo não acabou nas previsões anteriores, também não acabará hoje, sábado, 23 de setembro de 2017. Se acabar, beleza, dou a mão à palmatória, podem me trolar e escrever ali nos comentários: “errou, sabichão esquerdopata, ou errou, reaça safado, o falso fim do mundo é mais um truque para destruir a família, ou é mais um golpe na democracia etc. e tal”.
Mas, voltando ao ponto, por que será que de tempos em tempos inventamos que o mundo chegará ao fim com hora marcada? Essa parece ser uma questão mais necessária do que todas as cogitações sobre o planeta invisível Nibiru (nomezinho besta, não?).
A resposta mais direta tem a ver com uma instintiva estratégia de segurança espiritual. Não suportamos a indiferença do Universo. A expectativa de que há um epílogo para a humanidade corresponde à ideia de que tudo teve um princípio organizado e nada surgiu do acaso. Justamente porque prevemos o fim é que temos a garantia de um começo. A finalidade da nossa existência – oh, sim, então a existência possui uma finalidade! – não podia estar mais assegurada.
O que aconteceria se olhássemos para a outra face do problema? Impossível não deparar com o caos, a desordem e a incerteza. Se a vida começou por acaso, então ela também pode terminar por acaso, sem datas, sem profecias, sem hora marcada. Teríamos então a convicção de que não há nenhuma Entidade para nos destruir, do mesmo modo evidente que não há ninguém – ninguém! – para nos proteger.
Estamos entregues à própria sorte, frágeis como uma casca de amendoim que flutua no vasto oceano do Universo.
Que tenhamos mitos para nos consolar, é mais do que compreensível. Um deles é o da Destruição, que existe apenas para garantir o da Criação. E é bom que seja assim. Caso contrário, seríamos ainda mais loucos, mais paranoicos e mais infelizes. Por isso devemos curtir, e curtir ao máximo, essa nova festa do Fim do Mundo, que lamentavelmente se encerrará logo mais à tardinha.