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Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer
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Festa estranha com pênalti esquisito

Comentarista do Futuro vai ver de perto a polêmica decisão da Copa do Brasil de 1992, vencida pelo Inter, e revela praga rogada pelo Fluminense aos gaúchos

Por Claudio Henrique
Atualizado em 10 ago 2021, 17h38 - Publicado em 10 ago 2021, 17h13

Esse bissexto ano que já se encaminha ao final não ficará marcado como ‘diferentão’ apenas por aquelas 24 horinhas a mais em fevereiro. Ano do Macaco, segundo o horóscopo chinês, 1992 vem esbanjando gaiatices, pródigo em sustos e cambalhotas inesperadas. Pensem comigo: já rolou impeachment do Collor (mas atenção: ele vai dar jeito de não ser cuspido do Palácio), um meteoro gigante acertando em cheio a cabeça de uma pessoinha em Uganda e até o reconhecimento pelo Papa de que Galileu Galilei não era mesmo aquele bandidão que a igreja pensava. O tempo é o melhor dos juízes. Aquele sujeito de roupa preta que corria ontem pelo gramado, nesta final entre Internacional e Fluminense, levava nas mãos apenas o apito e não um telescópio, como o finado cientista e ex-pagão. Talvez nem se tivesse um a alcance teria deixado de marcar, aos 43’ do segundo tempo, a penalidade máxima que deu ao Colorado a conquista da Copa do Brasil. Viajei na máquina do tempo para conferir com meus olhos e posso garantir: não foi pênalti! Mas não sou eu que tô dizendo não… Daqui a 22 anos, convicto de já estar inimputável, Pinga, o atacante do Inter que caiu na área, confessará em alto e bom som: “Cavei aquela falta. Me joguei!”. O problema é que até lá o legítimo triunfo tricolor já terá virado cinzas, ardido na fogueira, como o velho Galileu.

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É certo como as leis da física: no futebol, qualquer crime prescreve na próxima rodada. Portanto, alguém diga por favor ao Pinga que ele já pode ir confessando antes do Natal, pois não vai fazer diferença. O Inter é e sempre será o campeão da Copa do Brasil deste ano, e não trata-se do primeiro e nem do último clube a erguer e exibir taças que deveriam trazer afixadas outra plaquinha, gravada com os dizeres do chamado “Troféu do Apito”. No próximo século, queridos leitores de 1992, será comum criarem-se listas do tipo “as 10 maiores goleadas de todos os tempos” ou “os 10 gols mais curiosos da história”. No escaninho “os 10 maiores roubos (ou garfos) do futebol brasileiro”, a partida de ontem estará sempre lá, assinaladíssima – como a penalidade ontem –, lembrada com carinho e orgulho pelos torcedores gaúchos; ira e revolta, pelos cariocas. Mas trago do futuro notícias importantes e curiosas à massa alvirrubra: a vingança tricolor será maligna.

Tão forte que terá ares de algum tipo de praga das Laranjeiras, aprazível bairro onde estão plantadas inúmeros e frondosas árvores e a sede do clube carioca. Anotem: até 2021, de “quando vim”, nunca mais o Inter vai ganhar um título nacional. Alcançará sim novas conquistas de considerável relevância, como uma Recopa Sul-Americana (2007 e 2011, em formato diferente do atual) e uma Copa Sul-Americana (2008) – que virá ao mundo em 2002, ‘neta’ das atuais Conmebol e Supercopa Sul-Americana, filha das copas Mercosul e Merconorte, que ainda estão por nascer. Parece confuso? E é mesmo. O Sport Club Internacional, que ontem interrompeu um jejum de 13 anos sem título nacional, nos próximos 29 anos terá ainda triunfos invejáveis, como duas Libertadores (2006 e 2010, aguardem…) e… Estão lendo sentados? Um Mundial de Clubes, épico, em 2006. Mas um título nacional como o de ontem e os Brasileiros de 1975, 1976 e 1979? Jamé! Não é só. Em 2016, após uma campanha pífia no Brasileiro, o clube gaúcho chegará à última rodada precisando de uma vitória para escapar do rebaixamento. E adivinhem aí contra quem será o confronto? Fluminense, claro. Placar da peleja: 1×1. Inapelável: Inter na Segundona. O sangue das Laranjeiras, pelo que parece, tem poder.

Falemos do jogo. Ou de sua maior estrela, o árbitro José Aparecido de Oliveira. Não foi a primeira vez que sua excelência chamou pra si os holofotes. Ano passado, num acirrado Palmeiras e Corinthians, expulsou o Neto e levou de volta uma cusparada na fuça, lembram? Pena que não possa revelar tudo a vocês, mas asseguro que essa autoridade suprema nos gramados brasileiros terá uma carreira que poderia ter lhe rendido no futuro uma bela biografia com a respectiva adaptação para o cinema. Sim, apesar do esforço do governo federal contra, o cinema nacional ainda vai respirar no Século 21. Mas tossindo.

Time posado do Internacioanl, no jogo contra o Fluminense, pela finalíssima da Copa Brasil, em 1992 -
Time posado do Internacional, no jogo contra o Fluminense, pela finalíssima da Copa Brasil, em 1992 – (Adolfo Gerchmann/Placar)

Em 2021, de “onde venho”, José Aparecido de Oliveira já terá colecionado inúmeros causos, polêmicas, propostas de suborno, suspeitas de influenciar resultados e por aí vai. Passará incólume, sem provas concretas contra sua integridade, mas protagonizando, ano que vem, podem me cobrar, a maior de todas as barafundas que arbitrou: uma final que, assim como a de ontem, vai quebrar incômodo jejum de outro grande clube brasileiro, de uniforme verde, a cor do dinheiro e das embalagens de leite de caixinha. Serão incontáveis e intermináveis as ameaças de morte pela sua atuação na partida. Vai superar também uma doença grave – e só tô revelando isso porque o final será feliz, super Zé! Força! Onde ele vai estar em 2021? Cumprindo seu mandato como juiz do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo, indicado pelo Sindicato de Árbitros. E que ninguém aqui faça julgamentos precipitados! Ou ponha o homem na marca de cal.

Foram seis os cartões aplicados ontem pelo José Aparecido. Goleada tricolor: cinco para jogadores do Fluminense, um deles vermelho, quando o lateral Zé Teodoro ousou chutar uma bola pra longe (talvez tenha atingido na arquibancada alguém que o senhor juiz conhecia, sua digníssima mãe, sei lá, vai saber…). O fato é que José Aparecido mandou o lateral tricolor pro chuveiro. Verdade seja dita, o Fluminense não queria nada com a pelota ontem. “Jogou com o relógio” – como ainda se costuma dizer –, após a vitória de 2×1 semana passada, lá no Rio. Revelo a vocês que o critério do “gol fora de casa”, ou “gol qualificado”, crucial nesta decisão entre Inter e Flu, no próximo século ainda estará em uso aqui e ali, inclusive em campeonatos na Europa, mas já sendo visto como algo curioso e anacrônico como as bolas de couro nos primórdios do futebol.

Enquanto batuco nas teclas desta Remington acinzentada – graças à boa-vontade dos coleguinhas aqui do jornal Zero Hora –, fico imaginando o rebu que tá agora lá no aeroporto, pois sei que, como registrarão amanhã os jornais, jogadores de Flu e o árbitro José Aparecido vão se reencontrar no mesmo voo de volta de Porto Alegre. O tumulto será tamanho que por pouco não vão descer as máscaras de oxigênio.

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Outro fato inusitado e digno de nota ontem foi o mal estar entre os jogadores do Inter na hora de bater a penalidade. Gerson, o cobrador oficial, tinha sido substituído e ninguém queria segurar aquela laranja quente. Mas Célio Silva foi lá e fez, numa típica cobrança de zagueiro nervoso: forte, reto, rasteiro, no meio do gol. Se o arqueiro Jéfferson tivesse ficado parado, pior, se ele sentasse no meio da meta, a bola ia bater nele. Mas não era o que diziam as estrelas do Planeta Futebol.

Deixei o futuro a poucos dias de mais um encontro entre esses dois gigantes do nosso futebol. Será o 71º na história, registrando-se até lá 28 vitórias do Inter, 20 do Flu e 22 empates. Nesta jornada memorável, vão se esbarrar também, apenas uma vez, num mata-mata da Libertadores, em 2012, com o tricolor se dando bem. Claro que os clubes já deram e darão espetáculos e contribuições ao futebol muito melhores e mais belos do que o que testemunhamos ontem. Um exemplo recente é a antológica semifinal do Brasileiro de 1975, quando a Máquina tricolor travou diante do Esquadrão Imortal do Colorado. Sem falar na intrigante sina de terem ídolos em comum – o que só vai crescer com os anos. Como o goleador Flávio, Lula, o pontinha esquerda, e (alerta de ‘spoiler’!)… Abel! Sim, ele mesmo, o zagueirão, que já passou como um cometa no comando do Inter e agora tá lá pra Portugal, acho que no Belenenses, se não me falha a memória… … Não sou nenhum Galileu, mas posso garantir: tanto no Flu como no Inter, sua estrela vai brilhar. Quem viver verá!

FICHA TÉCNICA

Internacional 1 x 0 Fluminense

Data: 13 de dezembro de 1992
Estádio: Beira-Rio
Local: Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Árbitro: José Aparecido de Oliveira (SP)
Auxiliares: Ângela Paula Regis Ribeiro e Edie Mauro Garcia Detófoli
Público: 32.722 pagantes

Internacional: Fernandez, Célio Lino, Célio Silva, Pinga e Daniel Franco; Ricardo, Élson (Luciano) e Marquinhos; Maurício, Gérson (Nando) e Caíco. Técnico: Antônio Lopes

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Fluminense: Jéfferson, Zé Teodoro, Vica, Sandro (Carlinhos Itaberá), Souza e Lira; Pires, Bobô e Sérgio Manoel; Vágner e Ézio. Técnico: Sérgio Cosme.

Cartão amarelo: Ézio, Sérgio Manoel, Souza e Bobô (Flu) e Marquinhos (Inter)
Cartão vermelho: Zé Teodoro (Flu)

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Escreva para o colunista: ocomentaristadofuturo@gmail.com 

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