O Brasil ficou atônito ao assistir o discurso do Presidente da República defendendo vacinação de todos os brasileiros, depois de passar dois anos menosprezando a força do Covid-19, as. medidas protetoras e a compra de vacinas. A população tem razão em duvidar da mudança de postura e dos efeitos de sua fala no combate à catástrofe provocada pelo vírus. Ao lado da vacina que salvará vidas, o Brasil precisa eliminar o vírus Bolsonaro. Mas, tanto quanto o presidente não via a necessidade da vacina contra o Covid-19, as oposições não parecem perceber que a vacina contra a reeleição está na união de todos opositores, desde o primeiro turno com um candidato de baixa rejeição.
Os partidos e os candidatos continuam tratando o risco da reeleição do presidente com o mesmo descuido que este tratou a Covid-19: tratam Bolsonaro como uma gripezinha política. Não percebem a responsabilidade que têm de fazer união desde o primeiro turno. Esta seria a vacina do Brasil para os próximos quatro anos.
Depois da vacina anti o vírus Bolsonaro, precisamos de outras vacinas que o Brasil se nega a tomar ao longo de nossa história e impede uma nação saudável.
Não tomamos vacina contra a falta de água e esgoto em dezenas de milhões de nossas residências. Tampouco tomamos vacinas para combater a concentração de renda que inviabiliza a formação de uma nação de todos.
Ao longo de décadas não usamos a vacina de cuidar bem dos rios, assassinando-os com resíduos urbanos e industriais sem tratamento. Precisamos de vacinar o Brasil contra a degradação ecológica.
Desprezamos vacina contra o desemprego, que exige investimentos, educação de mão de obra e garantir o fator confiança, sem a qual a economia não funcionará bem.
Desde sempre temos desprezado a mãe de todas as vacinas: educação de qualidade e qualidade igual para todos, independente da renda e do endereço da criança. A falta desta vacina, desde 1889, contaminou a república pela baixa produtividade na economia e baixa coesão na sociedade. É a causa de quase todos nossos problemas, inclusive a ocorrência de uma elite política despreparada para construir a nação. Elite que levou a maioria dos eleitores a escolher um presidente culpado pelo tamanho da tragédia que atravessamos.
Neste momento, é preciso vacina contra o vírus bolsonaro para depois vacinarmos o Brasil contra os outros vírus que contaminam nosso país.
Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador