
Nem Jair Bolsonaro, com todo despreparo pessoal e politico, faria tanta confusão com seu ex-ministro Gustavo Bebianno, se o caso fosse simples. Nem seu filho, com toda arrogância e boçalidade, provocaria a primeira crise de governo, caso Bebianno não fosse uma possível ameaça aos segredos de família.
Tem coisa aí.
Bebianno não é santo. Afiançou a candidatura de Bolsonaro. Frequentou a intimidade do chefe por tempo suficiente para ouvir e ver o que podia e o que não devia. O presidente é conhecido boquirroto. Escola seguida pelos filhos.
O ex-ministro deve saber muito sobre o clã, talvez mais do que saiba sobre laranjais plantados pelo PSL em falsas candidaturas femininas. Prática, aliás, essa das mulheres laranja, comum a todos os partidos.
A crise se estendeu por dias. Bolsonaro pareceu receoso, ao adiar a exoneração que só chegou no começo da noite dessa segunda-feira. O presidente chamou Bebianno de mentiroso pelas redes sociais, endossando o filho Carlos, conhecido como “pitbull”. Mas teve dificuldade em exonerar o ministro que mente. Nada justificaria a inércia. A não ser intensa negociação sobre o futuro próximo da tramela de Bebianno.
A família fingiu que não viu crise de governo. Se fez de louca. Ou é, como teria dito Bebianno numa das muitas declarações atribuídas a ele nesse final de semana. No Twitter, Carlos Bolsonaro replicou comentário de um seguidor, dizendo que o céu é de brigadeiro no governo do capitão. “Antes de tudo, não há crise alguma, ‘apenas’ centenas de jornalistas incompetentes, pagos para dizer a mesma coisa e forjar um cenário fictício de desordem”.
Desde o inicio da confusão, Bebianno foi bombardeado pelas redes. Fala, Bebianno, grita a torcida, louca para saber das futricas dos filhos, das estranhas operações financeiras de Flavio e Queiroz, dos arroubos do pai. Nos bastidores, o ex-ministro foi cutucado com vara curta. Espalharam aos quatro ventos o número de seu celular e dezenas de ameaças chegaram no fim-de-semana. Ele jurou se vingar.
A crise não acabou. Fez fumaça a exoneração do ministro. Bolsonaro ficou com uma espada na cabeça. Dizem que ofereceu uma embaixada a Bebianno. Mas nem todos que tem boca vão a Roma, mandou dizer o ex-ministro. Dizem que recusou. Bebianno quer “esfriar a cabeça”. A conferir.